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"Tenho pena que alguns colegas se achem acima da música ligeira"

Mónica Sintra é um nome incontornável da música portuguesa. No ano em que completa 40 anos, a artista lança um novo álbum que viaja pelos seus 25 anos de carreira. À conversa com a cantora, o Notícias ao Minuto teve a oportunidade de falar sobre alguns dos momentos mais marcantes dessa viagem.

"Tenho pena que alguns colegas se achem acima da música ligeira"

Mónica Sintra dispensa apresentações. É uma das artistas mais reconhecidas da música ligeira portuguesa, sendo que o seu percurso chega a confundir-se com a história e sucesso das suas canções. 

O seu caminho na música começou a ser traçado logo muito cedo, desde a infância. Ia às festas de aldeia à procura de um palco para cantar e de alguém que lhe quisesse dar uma oportunidade. Com 15 anos participou no programa da TVI 'Momentos de Glória', do qual saiu vencedora.

O sucesso chegou com o disco que lançou em 1998, 'Afinal Havia Outra', que dá nome à música que se tornou um dos seus maiores êxitos. No ano seguinte, repetiu a proeza com 'Na Minha Cama Com Ela'. 

Em 2004, lançou o livro 'A Um Passo do Abismo' no qual revela ter lutado contra vários distúrbios alimentares, nomeadamente contra a anorexia nervosa, a que depois se seguiu uma bulimia. 

É a mãe verdadeiramente 'babada' do pequeno Duarte, de sete anos, que confessa não ser o seu maior fã, até porque foi trocada por David Carreira.

O seu último disco - '25 Anos de Amor', que apresentará no próximo dia 12 deste mês no Casino Estoril - serviu de mote para a conversa com o Notícias ao Minuto.

Porquê o amor?

Porque acho que tudo na vida acaba por circular a partir do amor. O amor pela família, por alguém por quem estamos apaixonados, pela profissão, acho que em tudo aquilo que nós fazemos há sempre algo de amor ou de desamor. Por exemplo, nas minhas músicas mais conhecidas como ‘Afinal Havia Outra’ ou ‘Na Minha Cama Com Ela’ há a parte do desamor.

Em relação ao ‘Afinal Havia Outra’ (1998), como é que lidou com o êxito da música na altura?

Foi de facto um grande êxito, ajudou também bastante o facto de eu estar como júri do ‘Big Show SIC’, que era um programa que divulgava muito a música portuguesa e que acabou por impulsionar não só a minha carreira, mas a carreira de muitos dos meus colegas.

Depois lança ‘Na Minha Cama Com Ela’ (1999), outra música de desamor… ambas as canções foram inspiradas em experiências pessoais?

Não. Na altura trabalhava com o Ricardo Landume e ele propunha-me várias músicas e eu aprovava. E embora fosse relativamente nova para cantar esses temas, sempre gostei de cantar músicas mais maduras, tanto que o primeiro álbum que gravo, aos 13 anos, já era com temas de amor. As pessoas podiam achar que era benéfico cantar músicas infantis, mas não. Achei que eram músicas com as quais as pessoas se iam identificar. Claro que há muita gente apaixonada em que corre bem, mas depois há o reverso.

Na altura recebeu muitas mensagens relativamente a isso?

Recebia muitas cartas. Aconteceu mesmo aquilo que nós achávamos. Houve pessoas que se identificaram e que partilharam as suas experiências. Acho que isso foi bom para elas e para mim também, porque significou que a música chegou onde eu queria.

Notícias ao Minuto© D.R

E no amor, sempre foi uma eterna apaixonada?

Sim, acho que sim. Seja no amor, ou seja em qualquer coisa, temos de fazê-lo com muita vontade, empenho e amor. Só assim é que se consegue, por exemplo, no meu caso, gerir horários tão complicados. 

O meu filho não é o meu maior fã, o ídolo dele é o David CarreiraComo é que o seu filho a vê enquanto artista?

Não é o meu maior fã. O ídolo dele é o David Carreira, estou em segundo lugar. Ele no início achava que todas as mães eram conhecidas. Perguntava porque é que a mãe da amiguinha não aparecia na televisão. Depois foi começando a perceber e agora acha que toda a gente que aparece na televisão eu conheço. Já expliquei que o universo não é bem assim. Ele aceita, gosta bastante, é um bocadinho crítico. Quando estive no ‘A Tua Cara Não Me É Estranha’ [programa a ser transmitido atualmente], ele esteve nos ensaios e dava as suas opiniões, que confesso que desvalorizava um bocadinho [risos].

E como concilia a sua rotina de mãe e profissional?

Sou feliz por ter a ajuda dos meus pais, portanto, a gestão acaba por ser facilitada quando estou fora. Quando estou em casa claro que é difícil deitarmo-nos tarde e depois acordarmos cedo, porque eles precisam de ir cedinho para a escola. É difícil, mas lá está, quando se ama aquilo que se faz é possível.

E ele herdou o jeito da mãe para a música?

Ele tem jeito para cantar e para dançar. Desde o início que pegava nos microfones e às vezes imitava-me. De facto é muito afinadinho.

E gostava que ele seguisse uma carreira na música?

Gostava que ele seguisse uma carreira qualquer em que fosse feliz. Estou na música há 25 anos e devo isso obviamente ao público, às pessoas com as quais trabalho. Acho que é um bocadinho difícil e penoso, mas quando as pessoas querem muito alcançar algo devem lutar pelos seus objetivos. Não tenho aquela coisa de que gostava que o meu filho fosse médico e advogado, hoje em dia não há tanto isso. O essencial é que ele seja feliz.

Acho que sempre houve novos músicos, a questão é que não eram tão divulgadosQuais são as grandes diferenças que sente comparando a altura em que começou na música e o momento atual?

Penso que sempre houve novos músicos, a questão é que não eram tão divulgados. Pelo facto de as redes sociais existirem, assim como o YouTube, acabam por criar uma forma diferente de se promoverem. Lembro-me de que na altura tinha o ‘Big Show SIC’, o ‘Made in Portugal’, a ‘Roda dos Milhões’, também apareciam novos nomes. A única diferença é a forma como se promove.

Notícias ao Minuto© D.R

Nesse caminho penoso quais foram as grandes dificuldades que sentiu?

No meu caso foi no início, não tínhamos qualquer contacto, nem ninguém ligado à música e, portanto, eu queria cantar mas não sabia como é que se fazia. Quem é que nos contrata? A que portas vou bater? Mais uma vez tive a sorte de os meus pais estarem comigo nesse caminho. Íamos percorrendo terrinhas e onde houvesse um palco pedíamos para cantar. Assim fui conhecendo alguns empresários. Depois de ultrapassado esse momento, chegou a fase de gravar um disco. Aí também foi complicado, porque teve de haver um grande investimento da parte dos meus pais. Depois as coisas começaram a fluir, não de forma fácil, mas acho que até me correu bem porque trabalhei para isso.

Tenho pena que alguns colegas se achem acima da música ligeira portuguesa ou da música popularSente que o género musical que adotou é valorizado ou ainda há um caminho a percorrer nesse sentido?

Acho que esse caminho às vezes é mais dos nossos colegas, de determinados músicos. Para mim é me completamente indiferente que digam que a minha música é popular ou pimba, porque eu canto aquilo de que eu gosto, genuinamente. Acho que a partir do momento em que fazemos aquilo de que gostamos e não nos vendemos a outro tipo de música estamos a ser genuínos. Para mim, música é amor e uma linguagem universal. Tenho pena que alguns colegas se achem acima da música ligeira portuguesa ou da música popular, como quiserem. Tenho pena porque esta é uma realidade que acontece no nosso país. Se olharmos lá para fora, constantemente, vários cantores fazem duetos uns com os outros, parcerias. Há aqui uma má gestão de egos, apenas.

 Eu não procurei a fama, aquilo que eu procuro é que as pessoas saibam quem é a Mónica SintraA fama trouxe coisas mais positivas ou negativas?

As duas, mas acho que mais positivo do que negativo. Eu não procurei a fama, aquilo que eu procuro é que as pessoas saibam quem é a Mónica Sintra e o que canta e isso, como é óbvio, leva à fama. Isso trouxe-me a possibilidade de as pessoas me abordarem e me acarinharem e outras de não gostarem tanto e de também dizerem que não gostam, o que é perfeitamente natural.

Desvantagens não vejo nenhuma sinceramente, porque continuo a fazer a minha vida normalmente. Não considero que haja desvantagem a não ser os meus amigos estarem todos de férias no Algarve em agosto e eu estar a trabalhar.

Quando as pessoas dão a sua opinião de uma forma educada, nós só temos de respeitarRecentemente expôs uma situação difícil por que passou nas redes sociais. É difícil lidar como uma situação do género?

É difícil quando se é mal educado. Quando as pessoas dão a sua opinião de uma forma educada, nós só temos de respeitar. Agora, quando ultrapassam os limites, têm de pensar que não só magoam a pessoa em questão, como também os familiares que veem. Esses não pediram para serem conhecidos. Claro que isto é uma consequência da fama, não me importo rigorosamente nada [com as críticas] até porque sempre fiz mudanças de visual e sempre tive várias opiniões, mas sempre de forma delicada e educada. Quando não é assim, claro que na primeira leitura choca um bocadinho.

Ainda acredito que as pessoas são feitas de 50/50: bondade e maldadePerante uma realidade como essa, um artista habitua-se ou reage de forma diferente?

Habituar acho que nós nunca nos habituamos, porque eu, pelo menos, ainda acredito que as pessoas são feitas de 50/50: bondade e maldade. Acredito depois que com o crescimento vai prevalecendo a bondade. Quando acontece algo semelhante penso: ‘como é que é possível alguém ter tanta maldade ao ponto de perder o seu próprio tempo e ir escrever?’. Vamos tentando lidar com isso e amparar aqueles que não sabem lidar tão bem como nós.

Recebeu o apoio dos seus verdadeiros fãs nessa altura?

Claro que sim. A ideia não era que as pessoas me elogiassem, não estava a precisar de reforços positivos, estava era a precisar de naquele momento desabafar em como é que é possível haver alguém que usa uma ferramenta que é tão útil, mas que depois é tão maléfica para outras coisas. Espero que a pessoa tenha pensado, de facto: ‘estiquei um bocadinho a corda’.

Desde muito cedo que tenho muitos complexos em relação a corpoOutra situação difícil que expôs foi relativa aos distúrbios alimentares por que passou. A música contribuiu para o seu surgimento ou existiram outras causas?

Acho que isso já está connosco, depois desenvolve-se menos ou mais. Desde muito cedo que tinha muitos complexos em relação ao corpo e achava que eram complexos da adolescência, até se tornarem em distúrbios alimentares. As pessoas às vezes não entendem muito bem e acham que os distúrbios alimentares são a ‘mania das dietas’, mas é muito mais do que isso. É uma doença psicológica que tem de ser tratada, no meu caso é tratada como é óbvio, há momentos em que estou pior, outros em que estou melhor, mas hoje em dia tenho as ferramentas necessárias para conseguir ajustar-me àquilo que eu sinto em relação a mim e ao meu corpo.

Como sempre achei que este assunto era desvalorizado, escrevi o livro para que algumas pessoas que estavam a passar por isso e alguns pais percebessem também que isto tem de ser tratado, de preferência com uma equipa multidisciplinar. O tratamento é contínuo, porque temos de comer pelo menos três vezes por dia. Por isso, três vezes por dia estou com a minha amiga ou a minha inimiga.

Gostava de voltar atrás e reviver certos momentos da sua carreira?

Não sou muito saudosista, sou q.b. Tenho alturas em que dá um bocadinho mais a saudade. Em termos profissionais, faria exatamente tudo igual, até porque orgulho-me bastante do meu percurso. Para algumas pessoas, foi um percurso rápido, para os meus não foi, porque desde os 12 anos tento estar na música. A primeira vez que pisei um palco foi aos sete anos, mas depois em termos profissionais foi ao 11, com os Jovens Cantores de Lisboa. Desde cedo sabia que queria ser cantora, por isso, este percurso deixa-me a mim e aos meus pais bastante orgulhosos.

Que conselhos daria aos jovens que querem seguir esse caminho agora?

Tenham muita persistência e muita dedicação. Não podemos ser cantores pela fama, temos de ser porque gostamos de cantar e de passar mensagens. E também que não se importem de passar por alguns sacrifícios, porque muitas vezes acabamos por abdicar de coisas que jovens adolescentes fariam, mas se queremos mesmo cantar temos de ser rigorosos e levar esta profissão como outra qualquer.

O que ainda lhe falta fazer?

A nível profissional, gostava muito de fazer um CD completo com duetos, porque tal como disse é difícil juntarmos algumas vozes. E depois falta fazer o Coliseu de Lisboa e do Porto e gravar em DVD para que fique registado e o meu filho mais tarde possa mostrar aos filhos dele e assim sucessivamente.

Notícias ao MinutoO novo disco de Mónica Sintra © Reprodução

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