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"Não fechamos a porta a vir a trabalhar com taxistas"

Numa altura em que convergem as opiniões sobre a regulamentação para as plataformas de transporte com motoristas privados, o Notícias ao Minuto falou com David Ferreira da Silva, o responsável em Portugal pela Taxify, a mais recente plataforma de mobilidade a chegar à capital portuguesa.

"Não fechamos a porta a vir a trabalhar com taxistas"
Notícias ao Minuto

08:25 - 05/02/18 por Beatriz Vasconcelos

Economia David Ferreira

Quando terminou a universidade David mudou-se para a Alemanha e trabalhou na Siemens. Porém, dois anos mais tarde fez novamente as malas e rumou a Londres. Fez parte da criação da startup Food Delivery (em português, “Entrega de comida”) e mal sabia que a gestão de frotas o levaria a representar a Taxify. “Há semelhanças”, refere. Diz ter tido a experiência de um cliente digital e confirma-se a sintonia com a sua contratação, já que a Taxify o encontrou através do LinkedIn – uma rede social dedicada à procura de emprego e contratação.

David diz ser “adepto da concorrência”, porque “quem ganha é o cliente” e esta é a postura do jovem português ao longo da conversa que tivemos num edifício tipicamente lisboeta, com vista para o Campo Pequeno. A janela, entreaberta, deixava ouvir o barulho dos carros que, ora paravam, ora avançavam no semáforo. E estava montado  o cenário para a nossa conversa.

Em que é que a Taxify é diferente das outras plataformas de mobilidade?

Isso é importante e realmente é o ponto crucial da Taxify. Nós acreditamos que a concorrência é muito importante para melhorar o mercado como um todo. Ou seja, conseguindo melhores condições para os motoristas, vamos conseguir que os motoristas estejam mais satisfeitos, mais contentes com o serviço que fazem e isso irá traduzir-se num serviço melhor para o cliente.

Como é que nós conseguimos isto? Oferecendo melhores condições. Atualmente, os motoristas pagam 25% à plataforma que é nossa maior concorrente, a nós só vão pagar 15%. Temos maior flexibilidade, porque não há um mínimo de horas para que os motoristas possam trabalhar connosco. Essa flexibilidade não é só em termos laborais, mas também em termos de não haver um mínimo de horas para poderem trabalhar. Podem trabalhar quando quiserem. Na aplicação, podem também definir o raio de onde querem receber os pedidos de viagens. Ou seja, conseguem definir se querem só viagens num raio de dois ou cinco quilómetros.

Tipicamente, nos mercados em que a Taxify opera, os preços são 5% a 10% mais baratos do que o concorrente mais acessívelO foco está então nos motoristas?

Um dos focos está nos motoristas para que eles estejam mais satisfeitos em realizar o serviço e isso se traduza num melhor serviço para o cliente. Do lado do cliente, para além de terem um melhor serviço, terão também preços mais acessíveis. Estamos a começar agora – até ao final de janeiro – com uma promoção de 50% no preço, em comparação com o nosso maior concorrente. Óbvio que as promoções não se mantêm para sempre, depois serão gradualmente ajustadas e, a longo prazo, o objetivo é que tenhamos sempre preços mais acessíveis. Tipicamente, nos mercados em que a Taxify opera, os preços são 5% a 10% mais baratos do que o concorrente mais acessível.

Em termos de serviços, a Taxify também irá disponibilizar mais do que um?

Só temos um serviço, para já, a médio e longo prazo iremos introduzir outros. Noutros países trabalhamos com outros serviços, como o ‘Confort’. Em termos de tarifário dinâmico - como é utilizado pelos nossos concorrentes - acontece quando há mais procura e menos motoristas para responderem a essa mesma procura. Nós não temos essa funcionalidade, o que é mais uma vantagem para os nossos clientes, neste momento.

Notícias ao MinutoIntervalo de preços para uma distância entre o Campo Pequeno e o Marquês de Pombal. © Notícias ao Minuto

A Taxify opera em 23 países, o que levou a que Portugal fosse o 23.º?

É engraçado. Quer dizer, tem uma lógica mas começou de uma forma engraçada. O Marcos, que é o nosso CEO… Já agora deixe-me aproveitar para dar um ‘background’ da Taxify. A Taxify começou na Estónia com o Marcos, que é atual CEO e fundador, tinha 19 anos na altura e ainda era estudante. Atualmente tem 23 anos. Começou em 2013, quando percebeu que havia esta necessidade de melhorar a facilidade com que se pede um carro e começou a desenvolver a plataforma para os táxis. Desenvolveu, teve muito sucesso e, há dois anos, ainda só estávamos nos Países Bálticos, e já éramos líderes lá. Depois, começou a trabalhar com motoristas privados e agora tem presença em 23 países, sendo Portugal o 23º.

No meio desta expansão, há cerca de um ano, o Marcos esteve cá em Portugal a passar férias e adorou o país. Sentiu que o país tinha a dinâmica e potencial para a Taxify. Resolveu, por isso, analisar e perceber se faria sentido entrar aqui e percebeu que havia vários fatores a mostrar que fazia todo o sentido entrar em Portugal. Primeiro, era um dos países que estava a fazer um esforço para melhorar a regulamentação, segundo é um mercado que está em crescimento: cerca de 71% das pessoas têm carro próprio, ou seja, é um indicador que Portugal tem um grande potencial para que as pessoas passem a movimentar-se de outras formas. Há, também, uma espécie de monopólio e um claro dominante de mercado.

Atualmente o mercado quase que funciona como um monopólio e funciona muito melhor com mais um grandeAproveito que fala nisso para lhe perguntar, há mercado para mais uma plataforma de mobilidade no nosso país?

Como já disse, atualmente o mercado quase que funciona como um monopólio e funciona muito melhor com mais um grande, porque isto permitirá melhores condições para os motoristas e, em última análise, refletir-se-á num melhor serviço para o cliente.

Quem é que está ao comando desse monopólio?

É claramente a Uber, que é o grande dominador do mercado em Portugal.

Não estamos, portanto, a falar de táxis?

Não estamos a falar de táxis. Um ponto importante aqui é que nós entramos em Portugal só, neste momento, focados em motoristas privados.

Não fechamos a porta a vir a trabalhar com taxistas, caso a lei o permita

Ou seja, não se veem como concorrentes diretos dos taxistas?

É assim… A Taxify trabalha em alguns países com taxistas, começou a trabalhar com taxistas e é um serviço que nós temos noutros países, noutra plataforma diferente. Cá em Portugal, o nosso foco é trabalhar com motoristas privados e só mesmo com motoristas privados que utilizam carros descaracterizados. Não fechamos a porta a vir a trabalhar com taxistas, caso a lei o permita. Daí que o monopólio seja da Uber, porque falamos do mercado de motoristas privados.

Qual é o balanço e feedback que têm recebido?

O feedback tem sido muito bom. Quer do lado dos clientes, quer do lado dos motoristas. Apesar de termos começado com um elevado número de motoristas, cerca de 600 ativos, temos o feedback de que a plataforma está a ter adesão por parte dos clientes. Da parte dos clientes também tem sido bom, tendo em conta o preço que pagam pelo serviço. No geral, estamos contentes e acho que foi um início muito bom [risos].

Temos um equilíbrio entre procura e oferta, que é importantíssimo. Uma vez que se tivermos demasiada procura e baixa oferta o serviço será mau, demasiada oferta e baixa procura desanima os motoristas, portanto é essencial conseguir um balanceamento entre estes dois fatores.

Os motoristas não têm de deixar de trabalhar, ou deixar de fazer o que faziam para começar a trabalhar para a TaxifyComo é que conseguiram angariar tantos motoristas?

O nosso foco quando começámos as operações foi angariar motoristas e o nosso argumento de venda é muito bom, porque as nossas condições são realmente muito melhores do que as dos nossos concorrentes. Portanto, não há risco nenhum, é mais uma forma de conseguirem ter clientes. Os motoristas podem continuar a trabalhar com a plataforma que trabalham e têm mais a Taxify, por isso não há risco.

Os motoristas não têm de deixar de trabalhar, ou deixar de fazer o que faziam para começar a trabalhar para a Taxify. É muito fácil conseguir que as pessoas trabalhem connosco. E o nosso foco foi esse. Cá em Portugal ainda temos a vantagem de termos uma peça intermédia, que são os gestores de frota. Muitos motoristas trabalham para um gestor de frota, que é uma empresa que tem a sua própria frota de carros e vai contratando motoristas, pelo que conseguimos ter um grande impacto com pouco esforço. Ou seja, se nos focarmos nos gestores de frota que têm mais motoristas, facilmente angariamos vários e nós damos prioridade a isso, porque em pouco tempo tínhamos que ter muitos e definimos uma estratégia para termos o máximo de motoristas com o mínimo de esforço possível.

Contratamos os grandes gestores de frota, ao mesmo tempo em que apostamos na publicidade online, mas acho que a razão mais forte é o nosso argumento de venda. Não há como dizer que não. Nas reuniões que tive com os gestores de frota disse mesmo que no lugar deles não tinha como dizer que não, porque não há risco nenhum. É mais uma fonte de clientes [para os motoristas].

Então um motorista da Taxify pode também trabalhar para a empresa concorrente?

Pode. Não exigimos exclusividade e até é típico que isso aconteça noutros mercados. Isto é bom para a concorrência na medida em que um motorista é como se fosse um cliente e, não havendo exclusividade, obriga as plataformas a lutar pelos motoristas e a oferecer-lhes melhores condições.

O CEO da Uber disse numa entrevista que queria voar já na próxima década, com a introdução dos helicópteros elétricos. Esse é também um dos objetivos da Taxify?

Em termos de estratégia de longo prazo da empresa, preferia não comentar, porque neste momento está focada nas operações em Portugal, em lançar Portugal. Estou há um mês na empresa e o meu foco tem sido totalmente lançar as operações cá. Ainda não tenho tempo [suficiente] para comentar a estratégia de longo prazo da empresa, mas como é óbvio estou dentro e sei quais são os planos da empresa, mas ainda não consegui aprofundar isso, pelo que prefiro não comentar.

Mas essa estratégia será certamente alinhada com a dos restantes países em que a empresa opera…

Sim, sim. Não funcionamos em modelo franshising. Ou seja, eu trabalho para a Taxify sede.

Com essa questão de reduzirem a comissão que recebem será mais difícil que a empresa tenha lucro. Há pouco falávamos sobre investidores…

Certo, há investidores. A empresa conta com mais de 19 investidores. Um deles é a chinesa DiDi, que é uma das maiores plataformas de mobilidade do mundo, e temos mais.

O mais importante e urgente é haver regulamentação direcionada à atividade de transporte de pessoas com motoristas privados

Do ponto de vista da legislação, uma vez que ainda não há um quadro legal para estas plataformas, qual é a sua opinião sobre este assunto?

Acho que o mais importante e urgente é haver uma regulamentação direcionada à atividade de transporte de pessoas com motoristas privados. Está a ser desenvolvida uma proposta de lei que tem sido adiada e é urgente que essa lei seja posta em prática. Acho e estamos confortáveis que será nos próximos meses. Temos ouvido os secretários de Estado, o deputado Hélder Amaral… e estamos confortáveis que a lei sairá este ou no próximo mês.

Por que razão é urgente essa regulação?

É urgente porque, neste momento, apesar de trabalharmos legalmente, a lei não é específica para a atividade. E penso que isso seja normal neste tipo de atividades disruptivas, a legislação vem sempre com um bocadinho de delay [atraso, na tradução em português]. Portanto, é importante que haja uma lei que seja realmente direcionada para a atividade. É importante, como é óbvio.

As plataformas de mobilidade devem ter a mesma legislação aplicada aos restantes meios de transporte? Refiro-me, em concreto, à aplicada aos taxistas.

Claro que não. E por isso é que eu defendo que haja uma lei própria para a atividade. Não considero que os transportes com motoristas privados sejam iguais a outro tipo de transportes. Aliás, há muitas diferenças, é fácil de ver. Exatamente por isso é que considero que deve haver uma lei direcionada… E não sou só eu, o próprio Governo defende isso, os próprios deputados defendem isso e por isso é que fizeram essa proposta de lei e no contexto inicial da lei diz exatamente isso. Porque isto é uma atividade diferente e temos de fazer uma lei própria.

Quais são as principais diferenças entre a atividade de um taxista e a de um motorista da Taxify?

Foco-me na atividade dos motoristas privados, não me foco na atividade dos taxistas, e é nisso que tenho estado focado nas últimas três, quatro semanas: em lançar as atividades da Taxify em Portugal.

Apesar de ainda não termos definido, o normal será expandir-nos para outras cidades: Porto, Algarve… 

Após o lançamento, quais são os objetivos da Taxify? É limitar-se a Lisboa, expandir-se para outras cidades portuguesas…

Neste momento e a curto prazo é em Lisboa. Apesar de ainda não termos definido, o normal será expandir-nos para outras cidades: Porto, Algarve… Ainda não temos definido, mas a médio prazo será isso, naturalmente. Até porque muitos dos parceiros com quem trabalhamos trabalham noutras cidades, por isso é fácil a expansão.

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