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Quebra do kwanza já se sente nos preços nos mercados de Luanda

A depreciação no kwanza, que perdeu um quarto do valor face ao euro em duas semanas, está a provocar uma escalada nos preços dos principais bens de consumo à venda nos mercados de Luanda, para preocupação geral.

Quebra do kwanza já se sente nos preços nos mercados de Luanda
Notícias ao Minuto

05:00 - 29/01/18 por Lusa

Economia Angola

Depois de taxas recorde de inflação a dois dígitos em 2016 e 2017, o ano já começou com alguns produtos essenciais, como o arroz, a praticamente duplicarem de preço nos armazéns grossistas, à boleia da queda da moeda angolana.

"As vendas baixaram muito, não há clientes, as coisas subiram muito. Vais no armazém com 100.000 kwanzas [430 euros] e não compras o suficiente para bancada", contou à Lusa Maria de Andrade, vendedora do mercado dos Kwanzas, município do Cazenga, um dos mais populosos de Luanda.

Trabalha naquele mercado há oito anos, onde vende um pouco de tudo, mas confessa que o negócio está "estagnado", argumentando que "tudo disparou" na origem, ou seja nos armazéns a grosso onde se abastecem.

"Merecíamos uma explicação da subida desses preços", explica, enquanto faz contas à vida.

Como exemplo recorda que no final de 2017 o quilo de arroz que ali comercializa passou a vender de 150 kwanzas (0,65 euros) para 200 kwanzas (0,85 euros).

Agora já vai nos 250 kwanzas (um euro), tendo quase duplicado de preço em poucas semanas, enquanto o quilo de açúcar também já disparou para o mesmo preço.

"Quando sobem as coisas nos armazéns o negócio fica mesmo estagnado na bancada e queremos que as coisas baixem", desabafa.

A justificação apresentada pelos armazéns para a subida dos preços prende-se com a depreciação do kwanza, que já se verifica desde 09 de janeiro, com a entrada em vigor do novo regime flutuante cambial, que agravou o custo da aquisição de divisas para fazer a importação.

No espaço de pouco mais de duas semanas, a moeda angolana já acumula uma depreciação de quase 26,5% para o euro, que agora vale 253,7 kwanzas na compra (pelos clientes), e praticamente 20% para o dólar, que passa a valer 207,0 kwanzas, segundo cálculos feitos pela Lusa com base nas taxas cambiais divulgadas pelo BNA.

A este ritmo, Catarina Vunda Muginga, que há 25 anos comercializa verduras, tubérculos e hortaliças no mercado municipal do Ngola Kiluanje, em Luanda, assume a preocupação enquanto faz contas à vida.

"Há dias que temos clientes e há dias que não. E estamos a aguentar assim mesmo, estamos a remediar", desabafa, enquanto tentar vender o saco de 10 quilos de cebola agora a 4.000 kwanzas (17 euros) e a caixa de tomate já perto dos 10.000 kwanzas (45 euros).

"A crise afetou muito o nosso negócio, anteriormente vendíamos mais mas agora as compras dos clientes estão reduzidas porque também a economia baixou", justifica.

Por estes dias, uma caixa de corvina, que em finais de 2017 custava 13.000 kwanzas (56 euros), Joana Mateus Morena, de 53 anos, diz estar a comprar a 20.000 kwanzas (86 euros). E na hora de recolher o produto da bancada no mercado, o lucro tem sido apenas de 500 kwanzas (dois euros), como garantiu à Lusa.

"Com esse rendimento não conseguimos suster as despesas de casa. Queremos que os preços baixem", atira, acrescentando que os clientes já só escolhem o peixe mais barato.

"As pessoas também estão sem dinheiro", conta.

Uma situação de resto confirmada por António Ernesto Filho, que no mercado dos Kwanzas, em Luanda, a Lusa encontrou a comprar, explica, "apenas um bocado de peixe", porque os "preços estão muito alterados".

"Agora só encontramos de 1.000 kwanzas para cima. A cebola, idem. Está mal e cada dia é mais fome. A situação é preocupante e alarmante mesmo", admite, sem esconder a preocupação.

"Não há como sobreviver porque até os que estão a trabalhar não têm salários", lamentou.

No mesmo mercado, a Lusa encontra Conceição da Cunha, que acaba de comprar o quilo de feijão por 450 kwanzas (dois euros), enquanto recorda que no final de 2017 o preço da mesma lata era de 250 kwanzas (1,90 euros).

"Vim comprar feijão, salsichas, chouriço e tomate, mas os preços subiram muito", diz.

Por sua vez, Maria Domingos Bernardo, que vende carne de porco, diz que deixou de ter clientes na bancada devido aos preços que tem de praticar.

"O chispe de porco que comprávamos a 5.000 kwanzas [21 euros] agora estamos a comprar 8.400 kwanzas ou 7.800 kwanzas [cerca de 30 euros]. Está muito caro e vendendo 1.000 ou 800 kwanzas (até quatro euros), os clientes recusam. Antes poderíamos vender uma caixa por dia, mas agora com essa subida de preços, não conseguimos vender", explica.

O Governo angolano prevê chegar ao final de 2018 com uma inflação acumulada próxima dos 30%, mas a previsão é abalada depois de nos dois últimos anos ter visto a meta largamente ultrapassada e sempre a dois dígitos, devido à crise.

A previsão para o total acumulado de 2018, de 28,7% entre janeiro e dezembro, está prevista no Orçamento Geral do Estado (OGE), em discussão na Assembleia Nacional até fevereiro, e a concretizar-se será o segundo valor anual mais alto desde 2004.

As contas finais do Instituto Nacional Estatística (INE) apontam para uma inflação acumulada entre janeiro e dezembro de 2017 de 23,67%, registo muito superior à previsão de 15,8% que o Governo inscreveu no OGE anterior, e que compara ainda com os 42% em 2016.

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