Associação quer salvar queijo DOP Serra da Estrela
Um centro de recria da Associação Nacional de Criadores de Ovinos Serra da Estrela (ANCOSE) deverá contribuir para salvar o queijo certificado da Serra da Estrela, após milhares de ovelhas terem morrido nos fogos de outubro de 2017.
© Instituto Português do Desporto e Juventude.
Economia Incêndios
"Houve uma perda muito grande de efetivos", afirma à agência Lusa João Madanelo, técnico da ANCOSE e responsável pelos trabalhos naquele centro, em Oliveira do Hospital, para preservar "um legado dos antepassados", que inclui queijo, requeijão e borrego, três produtos da Serra da Estrela com denominação de origem protegida (DOP).
Três meses depois dos incêndios de 15 e 16 de outubro, na região Centro, em que, segundo estimativas da ANCOSE, terão perecido mais de 8.000 pequenos ruminantes, entre ovinos de raças autóctones e alguns caprinos, a unidade de recria reúne atualmente 130 fêmeas jovens.
Trata-se de "borregas que foram desmamadas" e que estão a ser alimentadas com feno e rações para depois serem entregues aos associados, explica João Madanelo.
"Selecionamos as melhores borregas e fazemos um repovoamento orientado", refere, indicando que "vão entrando e saindo animais" das instalações criadas para o efeito.
Em outubro, "houve muita mortalidade de animais jovens", quando já tinham ocorrido muitos partos.
Na distribuição de reprodutoras, a associação dá prioridade aos criadores que perderam ovelhas nos incêndios, seguindo-se aqueles que querem aumentar o número de efetivos.
Nos últimos seis anos, a redução do total de ovelhas da Serra da Estrela não parou de se acentuar, o que já tinha levado a associação a defender incentivos públicos à preservação do queijo DOP.
"Não podemos deixar extinguir o queijo Serra da Estrela", disse à Lusa, em fevereiro de 2017, o jurista Manuel Marques, presidente da ANCOSE, que abrange 18 municípios dos distritos de Viseu, Coimbra, Guarda e Castelo Branco.
Além de terem dizimado rebanhos, os incêndios destruíram queijarias, estábulos e pastos, o que originou iniciativas de apoio por todo o país, mas também no estrangeiro, com o objetivo de salvar da extinção o queijo DOP, bem como os outros produtos únicos da ovinocultura regional.
Perante dificuldades acrescidas, alguns produtores continuam a apelar à solidariedade, para que o setor consiga sobreviver.
É o caso de Mariana Vaz Patto, cuja família possui 184 ovelhas bordaleiras em Gramaços, Oliveira do Hospital, após ter perdido 106 animais no incêndio.
"Ficámos com a nossa produção reduzida a um terço", revela a economista à Lusa. Em novembro de 2017, a exploração obteve 600 litros de leite, tendo rondado os 1.800 litros no mesmo mês de 2016.
Mariana Vaz Patto realça que a exploração enfrenta agora "um problema muito grave", para criar 27 borregas destinadas a repor o efetivo.
A sua alimentação, que inclui rações e leite em pó, representa um investimento sem retorno nos próximos tempos.
"Mantemos os mesmos custos fixos e ainda não sabemos se vamos sobreviver", declara a gerente da empresa criada pelo médico António Vaz Patto, seu pai, autor do livro "Com os pastores também se aprende".
A abundância de pastos deverá ocorrer com a chegada da primavera. "As borregas ainda têm de estar no estábulo", danificado pelo fogo, e importa "aproveitar ao máximo o leite" que as ovelhas adultas produzem para queijo.
"Toda a nossa capacidade produtiva ficou afetada", acrescenta.
Como falta matéria-prima devido aos incêndios, "o preço do queijo tem de aumentar", na opinião de Mariana.
A ANCOSE pretende que, "dentro de um ou dois anos", o setor "volte ao normal ou melhor", apesar das adversidades.
"Estamos a fazer esse esforço", rematou o engenheiro João Madanelo.
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