Meteorologia

  • 25 ABRIL 2024
Tempo
18º
MIN 13º MÁX 19º

Relação entre Europa e África baseia-se em: "Quanto é que me dás?”

As cimeiras Europa/África constituem "uma espécie de sucursal do Acordo de Cotonu", pois contam com uma estrutura de decisão daí copiada, prosseguindo-se com o "pecado mortal" em que os europeus dão dinheiro e os africanos recebem-no.

Relação entre Europa e África baseia-se em: "Quanto é que me dás?”
Notícias ao Minuto

08:35 - 27/11/17 por Lusa

Economia Cimeira

A "constatação" foi feita pelo académico português Fernando Jorge Cardoso que, numa entrevista à agência Lusa salientou que as cimeiras, tal como a que está marcada para 29 e 30 deste mês em Abidjan, a quinta, "são reuniões entre parceiros que não são iguais e que fazem de conta que são iguais".

"Por mais semântica que se encontre para as cimeiras, por mais que discutam questões políticas, diplomáticas, de segurança, de comércio, enfim, questões globais, (...) na prática, tudo se resume a discutir o acordo financeiro. Ou seja, quanto dinheiro existe para o conjunto e para cada um dos países relativamente aos projetos que, entretanto, foram sendo preparados e acordados entre técnicos das duas partes", frisou.

Depois, prosseguiu o investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, os chefes de Estado e de Governo, depois das declarações formais e dos discursos habituais, "acabam por se preocupar apenas com quanto dinheiro podem contar" para o próximo, biénio, triénio, quinquénio.

"Isto é um pecado mortal que ainda não foi resolvido e, enquanto não for, o tipo de relacionamento que existe entre a Europa e África é subordinado, é um baseado em ressentimentos, baseado em: "quanto é que me dás? Afinal de contas devias ter-me dado mais, afinal de contas não me deste o que tinhas prometido", etc...", defendeu.

Fernando Jorge Cardoso destacou que tal não acontece nas reuniões da Europa com a América Latina ou do Norte e da Ásia, em que se debatem "problemas comuns.

"Inquina completamente e é algo que existe desde o período de descolonização, apesar de todas as mudanças de semântica ao longo do tempo", referiu, indicando que a culpa não é da Europa, mas "principalmente dos dirigentes e das elites africanas".

"Por mais que, do lado europeu, haja uma tentativa para passar a uma discussão com base num pouco mais de entre iguais, (...) eles [africanos] puxam sempre para a questão «pá, vamos ao concreto: quanto dinheiro é que há? Deixemo-nos de tretas e afinal de contas qual é o financiamento?». Este inquinamento mantém-se e, por isso, as cimeiras não têm importância política, sustentou.

O tema da quinta cimeira, a juventude, faz, para Fernando Jorge Cardoso, "todo o sentido", dado que África é hoje, e vai ser nas próximas décadas, o único continente onde quase todos os países vão ter uma população jovem superior à mais velha.

Todos os anos, nas próximas décadas, sublinhou, vai aumentar o número de pessoas a entrar no mercado de emprego em situações de enorme precariedade de uma grande parte dos Estados africanos e de uma incapacidade de resposta por parte de crescimento económico.

"Este problema da juventude e do emprego, o da cimeira, é um dos problemas essenciais para a generalidade dos países africanos, embora estejamos a cair mais uma vez no pecado mortal: faz-se uma cimeira entre a UE e África e o que vemos na agenda? Só problemas africanos, nunca se discutem os problemas europeus", enfatizou.

Fernando Jorge Cardoso justifica o argumento com a ideia de que os africanos "não têm nada a dizer relativamente à Europa". "Ou porque não querem, ou porque não podem ou porque não deixam".

Para o académico português, os Estados africanos só agora começam a dar conta da sua fragilidade, mostrando-se "incapazes" de assegurar as necessidades básicas -- saúde, educação e emprego -, razões suficientes para que os jovens sejam facilmente recrutáveis "para uma vida à volta da «Kalashnikov», do ataque, roubo, morticínio, ideologia e do fanatismo".

"Esta é a preocupação dos Europeus: migrações e segurança. No caso africano, a preocupação é que esta situação tem de ser abordada pelos países, cada um por si, e pelo conjunto deles mesmos, ao nível da União Africana.

Sobre se vai sair algo da cimeira de Abidjan, é claro na resposta. "Com certeza que vai. O que vai sair? Dinheiro para um conjunto de projetos que têm a ver com novos empregos para a juventude e que vão estar concentrados com a preocupação de encontrar, sobretudo a nível do desenvolvimento rural, uma alternativa às migrações e uma alternativa ao chamamento para atividades de natureza criminosa ou fanática", concluiu.

Recomendados para si

;

Receba as melhores dicas de gestão de dinheiro, poupança e investimentos!

Tudo sobre os grandes negócios, finanças e economia.

Obrigado por ter ativado as notificações de Economia ao Minuto.

É um serviço gratuito, que pode sempre desativar.

Notícias ao Minuto Saber mais sobre notificações do browser

Campo obrigatório