"Dívida está na sala mas Governo olha pela janela", diz economista
O economista Miguel St. Aubyn mostrou-se preocupado com o elevado peso da dívida pública, afirmando que é um problema que "está na sala" e que o Governo não pode continuar a "olhar pela janela".
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Economia Miguel St. Aubyn
"Temos uma dívida pública muito grande e, portanto, essa dívida pública está na sala e temos de a ver, não podemos só olhar para a janela", afirmou o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), numa entrevista à agência Lusa nas vésperas do debate do estado da Nação, no parlamento.
Para o economista, o país "está a recuperar de um período bastante difícil", inserido num contexto europeu e internacional de "alguma recuperação", mas o seu estado "não é completamente saudável e completamente seguro".
"É uma nação que recupera com algumas mazelas", considerou o recém nomeado vogal do Conselho Superior do Conselho de Finanças Públicas (CFP).
Admitindo ser "cauteloso por natureza", Miguel St. Aubyn considerou que o elevado endividamento é um dos problemas da economia portuguesa.
"Temos uma divida pública que tem de ser sorvida e, portanto, amortizada; os juros têm de ser pagos. Isso é uma punção muito importante na nossa economia. Portanto, claro que a [subida da dívida] preocupa", afirmou.
A dívida pública ainda não inverteu a tendência de subida que tem vindo a ser anunciada sucessivamente e, em 2015, atingiu os 129% do Produto Interno Bruto (PIB), tendo subido para os 130,3% no final de 2016 e voltado a crescer para os 130,5% no primeiro trimestre deste ano.
Miguel St. Aubyn, que integrou o grupo de trabalho para a sustentabilidade da dívida, coordenado pelo Governo e que contou com deputados do PS e Bloco de Esquerda, mantém que "se deve olhar de frente" para a possibilidade da reestruturação da dívida.
Recorde-se que o grupo de trabalho do PS e Bloco de Esquerda sobre a dívida pública propôs, entre outras medidas, uma reestruturação dos empréstimos europeus, através da diminuição dos juros para 1,0% e do alargamento do prazo de pagamento para 60 anos.
"Penso que as dívidas públicas no contexto europeu devem ser tratadas como um problema", disse o economista, acrescentando que o debate sobre a reestruturação da dívida "se vai impor mais cedo ou mais tarde".
Questionado sobre se a eventual redução do programa de compra de dívida pública pelo Banco Central Europeu (BCE) pode incentivar esse debate, Miguel St. Aubyn respondeu que "talvez".
Para o professor do ISEG, a forma como o Estado se pode proteger da redução dos estímulos do BCE passa por "solidificar o crescimento económico".
"Se conseguirmos pelo menos que este recente crescimento se mantenha isso é extremamente importante para a sustentabilidade da dívida, para as contas públicas e para não se estar tão dependente da política monetária" do BCE, disse.
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