"Desigualdade crescente é obstáculo muito importante para o crescimento"
O secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) defendeu hoje que a desigualdade social impede o crescimento económico, devendo recorrer-se aos apoios sociais e à qualificação para lidar com fenómenos como globalização e digitalização.
© Reuters
Economia Angel Gurría
"Há o sentimento generalizado na sociedade de que o sistema atual não serve ou é injusto. Mais de um quarto da população da OCDE encara a globalização como uma ameaça", lamentou o diplomata e economista mexicano Jose Angel Gurría, em audição conjunta nas comissões parlamentares de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa e de Economia, Inovação e Obras Públicas.
O responsável da OCDE, que reúne 35 países, incluindo Portugal, advogou "três frentes": "ajudar os trabalhadores mais prejudicados" (melhorando a sua empregabilidade e mobilidade para setores ou regiões em desenvolvimento), através da educação e da qualificação; "infraestruturas de qualidade e boas políticas de transportes, com investimento na "conectividade física e digital" e na "inovação e desenvolvimento" (I&D); "condições para que empresas prosperem da economia global", diminuindo "barreiras" burocráticas e promovendo "a concorrência".
"Hoje, temos a convicção de que a justiça social é uma questão ética, moral, política, mas é também uma questão económica. Uma desigualdade crescente torna-se um obstáculo muito importante para o crescimento", afirmou.
Angel Gurría destacou a "desigualdade crescente", uma vez que "as famílias mais pobres ainda não recuperaram o poder de compra que tinham em 2006" e o facto de "a média dos rendimentos dos 10% mais ricos ser agora 10 vezes superior à média dos rendimentos dos 10% mais pobres" quando "este valor era somente sete vezes superior há 25 anos".
"Em Portugal, este rácio é superior à média da OCDE", vincou, entre elogios às políticas sociais de rendimento mínimo praticadas no país, sublinhando acreditar ser "possível ir mais longe, sobretudo através das prestações sociais aos desempregados e na melhoria das suas qualificações".
Referindo-se ao impacto da globalização e da digitalização dos sistemas produtivos, o dirigente da OCDE estimou que, "em média, 9% dos postos de trabalho estão em risco de vir a ser automatizados e outros 25% vão sofrer alterações consideráveis", apesar de, por outro lado, "nos últimos 20 anos, mais de mil milhões de pessoas terem sido resgatadas à pobreza nas economias emergentes".
"Receio que, no futuro, haja cada vez menos oportunidades de encontrar um bom emprego, o que gera descontentamento e provoca resultados imprevisíveis em eleições", alertou, referindo-se aos cidadãos das regiões ditas mais desenvolvidas, aludindo ao resultado do referendo britânico que ditou a saída da União Europeia ('Brexit') ou à eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América.
Sobre Portugal, Angel Guria salientou que o país é um bom exemplo ao nível das exportações, que "representam mais de 40% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, em comparação com os 27%, registados em 2005", observando que "o peso da OCDE nas economias mundiais caiu de 80 para 60 %", no mesmo período, embora "o volume total das exportações das economias avançadas continue a crescer".
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