O truque contabilístico de Trump para 'enganar' os parceiros comerciais
O novo presidente dos Estados Unidos rasgou o acordo trans-pacífico e quer negociar outros entendimentos com um trunfo na manga: uma alteração na metodologia de cálculo das exportações.
© Reuters
Economia Estados Unidos
A estatística é um dos ramos mais populares da matemática e com boas razões. Muitas são as entidades em todo o mundo que vivem de análise e divulgação de dados e raro é o país que não tem o seu próprio instituto de estatística equivalente ao português INE.
Nos Estados Unidos, a recolha e divulgação de estatísticas não está centralizada numa só insitutição, mas sim em vários serviços públicos. É no serviço de dados sobre o comércio que Donald Trump quer alegadamente mexer, para alterar a leitura de dados e tentar convencer os principais parceiros comerciais a aceitarem novos acordos tendo em conta o maior défice externo norte-americano.
Segundo o Wall Street Journal, a intenção do presidente dos Estados Unidos da América é excluir as 're-exportações' do cálculo comercial: este tipo de venda é a classificação dada aos produtos que são importados pelos EStados Unidos e vendido ao exterior com poucas ou nenhumas alterações; neste momento, as estatísticas são feitas de acordo com a metodologia recomendada pelas Nações Unidas e pelo FMI, contabilizando as vendas como exportações.
Segundo o método atual, por exemplo, caso os Estados Unidos vendessem 150 mil milhões de dólares em produtos ao exterior e comprassem 200 mil milhões, o défice comercial seria de 50 mil milhões independentemente do tipo de produtos exportados. Na visão de Trump, o défice dependeria dos produtos vendidos: tomando os mesmo valores como exemplo, se 50 mil milhões dos produtos fossem 're-exportados', o défice comercial seria de 100 mil milhões de dólares.
Pode parecer estranho que o presidente queira assumir um défice maior, mas é preciso lembrar que nos acordos comerciais, ter maiores perdas nas trocas com o México, a China ou outros parceiros poderia melhorar as condições dos acordos atuais para o lado dos Estados Unidos.
No entanto, um representante da antiga administração Obama que pediu para manter o anonimato disse ao Wall Street Journal que a mudança de metodologia é apenas cosmética e não irá enganar os analistas nem os parceiros que olhem com atenção para os números: "Em primeiro lugar, isto é falsificar as contas; em segundo lugar, isto vai dificultar a vida ao resto do mundo porque no final, as contas têm todas de bater certo; e em terceiro lugar, isto poderá ter consequências inesperadas como o êxodo de postos de trabalho nas áreas de logística e distribuição".
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