Giddens diz que Alemanha deve aceitar fim da austeridade
O sociólogo Anthony Giddens disse esta sexta-feira à Lusa que Europa precisa de liderança mais democrática e que a Alemanha tem de aceitar que a austeridade impede o investimento e a criação de emprego, sobretudo nos países do sul.
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“A Alemanha está a ganhar muito por estar no euro. Por isso, eu penso que a Alemanha não vai perder se aceitar uma forma de ‘parceria’ (entre os países) e isso pode gerar investimento nos países do sul, porque nós sabemos que são necessários investimento e emprego e isso não vai ser possível com a austeridade”, disse à Lusa Anthony Giddens depois de um seminário que decorreu nas Conferências do Estoril, que chegam hoje ao fim.
O sociólogo britânico autor da teoria da ‘Terceira Via’, que influenciou socialistas europeus no final dos anos 1990 e, sobretudo, os trabalhistas dos antigos governos de Tony Blair, no Reino Unido, disse ainda que as próximas eleições na Alemanha, marcadas para Setembro “são muito importantes para a Europa” porque a situação é “instável”.
“Não se pode ter o euro a ser puxado pela Alemanha, isso não é bom para a estabilidade", argumentou defendendo que é preciso "envolver o Banco Central Europeu e estabelecer uma qualquer espécie de união bancária", acompanhado de "uma forma limitada de federalismo".
“Precisamos um sistema de liderança mais democrático, como eleições directas para a presidência da União Europeia e um Parlamento Europeu mais forte. Para mim a única pergunta é saber se as pessoas apoiam tudo isto”, acrescenta o sociólogo, que defende a união fiscal e bancária na Europa.
Quanto à sociedade do Estado-providência, Giddens defende a adopção de “políticas de prevenção” para evitar que os problemas se agravem ou deixem mesmo de ter solução.
“O problema do Estado-providência é que selecciona assuntos quando já é demasiado tarde: se ficar doente o sistema toma conta de si, se ficar desempregado o Estado toma conta de si. O que precisamos é de investimento social para prevenirmos as coisas de acontecerem. São precisas mais políticas de prevenção de saúde para evitarmos que as pessoas fiquem doentes, ou gordas ou para evitar que fumem”, aconselha Giddens.
“É preciso repensar muita coisa e eu não penso que o modelo social seja em outros países muito diferente do que aquele que os europeus querem para o futuro: mais convergente. A China precisa de um estado-providência vanguardista e não um sistema convencional”, disse ainda o antigo director da London School of Economics, que alerta para as mudanças a nível global, recordando que poucos conseguiram prever a crise económica.
“Quem é que previu a recessão a nível global? Quem é que previu o colapso financeiro? Duas ou três pessoas, talvez, mas os economistas profissionais não foram. Eu era director da London School of Economics quando a Rainha de Inglaterra nos foi visitar. Entrou no Departamento de Economia e disse: ‘porque é que vocês não viram a crise económica a chegar?’ E ninguém conseguiu responder-lhe. Tiveram de fazer vários seminários para encontrar uma resposta”, recorda o sociólogo que também não previu a crise.
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