O ministro Archer Mangueira falava na cerimónia de posse da nova administração do BPC, um banco totalmente estatal, que passa a ser liderado por Cristina Florência Dias Van-Dúnem, que até maio foi vice-governadora do Banco Nacional de Angola, sendo agora presidente do conselho de administração e administradora não executiva da instituição.
"O banco vive um momento muito particular da sua história. Queremos sanear e reestruturar o BPC. Vamos fazê-lo para que o banco sirva convenientemente o Estado, seu único acionista", sublinhou Archer Mangueira.
A Lusa noticiou a 23 de setembro que o Estado angolano vai emitir mais de 1,2 mil milhões de euros em dívida a favor da sociedade pública criada para gerir alguns ativos financeiros daquele banco estatal.
A informação consta de um decreto assinado por José Eduardo dos Santos, com data de 15 de setembro e ao qual a Lusa teve acesso, sendo que a sociedade em causa, Recredit - Gestão de Ativos, já foi apelidada pela imprensa local como uma espécie de "banco mau" do BPC.
"A criação de um bom futuro para o BPC exige que não se esqueçam os ensinamentos do passado. O Estado tem investido, e vai investir, recursos avultados no BPC. As senhoras e senhores administradores têm que ser os primeiros guardiões desses recursos e da sua boa utilização, em benefício do interesse nacional", enfatizou o ministro das Finanças de Angola.
Dirigindo-se à nova administração, que agora passa a ser integrada por um conselho de administração e uma comissão executiva, Archer Mangueira pediu "competência, responsabilização, rigor e lealdade" aos novos administradores, destacando a "importância" do BPC no sistema financeiro de Angola
"Cuidar bem do BPC é cuidar bem do país. Espero que se mantenham permanentemente focados nisso", apontou.
Cristina Florência Dias Van-Dúnem, que substitui Paixão Júnior na liderança do banco, recordou aos jornalistas no final da cerimónia de hoje tratar-se de uma instituição "sistemicamente importante" no país, mas admitindo que os "indicadores vão para além daquilo que seria de esperar".
Contudo, reservou para mais tarde outros comentários sobre o trabalho da nova administração, além de admitir tratar-se de um "grande desafio".
A nova administração foi nomeada pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que igualmente exonerou todos os administradores anteriores, tendo ainda designado Zinho Baptista Manuel para o cargo de presidente da comissão executiva.
Com o decreto de 15 de setembro, segundo se lê no documento, ficou autorizada pelo Presidente angolano a emissão de Obrigações do Tesouro em Moeda Nacional no valor máximo de 231,127 mil milhões de kwanzas (1,250 mil milhões de euros) a favor da Recredit, "com o objetivo exclusivo de serem utilizadas como contrapartida no processo de cedência de ativos do BPC".
A sociedade anónima de capitais públicos Recredit foi criada enquanto participada a 100% pelo Ministério das Finanças.
O ativo total do BPC está avaliado em 1,399 biliões de kwanzas (7,560 mil milhões de euros).
O BPC conta com mais de 5.200 trabalhadores e 400 agências para um total de clientes superior a 2,2 milhões, mas viu os resultados líquidos descerem quase 7% de 2014 para 2015, para 8.289 milhões de kwanzas (44,7 milhões de euros).
Do total de crédito contabilizado até ao final do ano passado pelo BPC, 218.418 milhões de kwanzas (1,180 mil milhões de euros) correspondem a crédito vencido, por sua vez um aumento de quase 84% igualmente em dois anos e 16,1% tendo em conta o registo de 2014.
