O que é que aconteceu "estes anos todos foi que os sucessivos Governos preocuparam-se acima de tudo em apostar nas acessibilidades terrestres, apostar claramente no alcatrão, esquecendo um pouco a importância económica que a linha férrea podia ter no País", disse à Lusa Melchior Moreira, a propósito das críticas lançadas recentemente pelos operadores turísticos ao "mau serviço" da CP.

Os operadores turísticos marítimos do rio Douro criticaram no sábado passado o "mau serviço" da CP -- Comboios de Portugal na Linha do Douro, que dizem estar a provocar "consequências negativas" às empresas e ao turismo na região.

Segundo os operadores, "continua a haver ligações suprimidas em cima da hora, sobrelotação das carruagens, faltas de manutenção e avarias recorrentes do material circulante, falhas nos sistemas de ar condicionado, carruagens grafitadas (vidros incluídos) e o recurso reiterado a autocarros que fazem por via terrestre o percurso que milhares de turistas antecipadamente escolheram fazer por ferrovia", lia-se num comunicado enviado à comunicação social.

"Hoje percebemos que é importante apoiarmos a linha férrea e sinto que, de facto, por parte do poder central, se calhar, não há hoje também esta possibilidade de investimento imediato na linha férrea", acrescentou o presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP).

Melchior Moreira afirmou que percebe "claramente, as reivindicações dos operadores do Douro, porque hoje há que falar em "complementaridade, ou seja, permitir aos turistas que ou saiam do Porto por linha férrea e possam regressar de barco à Ribeira [do Porto] ou ao cais de Gaia, ou precisamente ao contrário".

Em relação à Linha do Douro, Melchior Moreira recordou que foram lançados dois concursos para a eletrificação e que isso são "boas notícias".

A eletrificação vai permitir ter um tipo de composições com "mais qualidade, mais eficiência, mais rapidez, e que possa servir em qualidade este turismo do Douro. Acredito que este investimento que se vai fazer no imediato na eletrificação na Linha do Douro traga melhoria no material circulante em termos do conforto", considerou Melchior Moreira, sublinhando que, para se vender um destino de qualidade, há que "receber as pessoas com qualidade e dando-lhes a possibilidade de satisfação máxima para poderem regressar ao destino".

Os dois concursos que estão lançados para a eletrificação da linha até ao Peso da Régua e Pinhão "são fundamentais para o crescimento da economia e para o crescimento do turismo do Douro", adiantou.

Melchior Moreira referiu ainda que tem tido "muitos diálogos" quer com o presidente da CP, Manuel Queiró, quer com o vice-presidente da REFER, Ribeiro dos Santos, para alertar da importância que hoje a linha do Douro é para a promoção turística do Porto e da região Norte.

Segundo o próprio, "encontrou, por parte destas duas pessoas, a opinião de que se deve "investir muito, muito, mas muito, na linha férrea".

Em relação à Linha do Douro, estes responsáveis - CP e REFER -, entenderam sempre que era importante para o turismo da região investir".

Melchior Moreira referiu que hoje o destino turístico Douro é "extremamente apetecível", designadamente pelo conjunto de "belezas naturais" e por ser um sítio classificado com "dois patrimónios da humanidade".

O que venho assumindo, para além de um conjunto de alavancas que hoje promovem claramente esta região do Douro (...), como a questão do enoturismo, gastronomia, 'touring' cultural e paisagístico dos patrimónios e da saúde e bem-estar, a "linha férrea e o comboio é hoje claramente um motivo de atratividade para alavancar a promoção turística", disse, concluindo que essa atratividade deve ser pensada tanto para a época alta, como para a época baixa.

"Quando olhamos para a linha secular, que é a linha do Douro, entendemos de facto que ela deve ter uma melhoria substancial para atrair ainda mais turistas".