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Crise económica "exige acompanhamento da depressão"

A depressão, não acompanhada como uma "doença séria", pode transformar-se num problema económico grave, sobretudo em países que enfrentam crises económicas como Portugal, disse à Lusa o escritor norte-americano Andrew Solomon.

Crise económica "exige acompanhamento da depressão"
Notícias ao Minuto

15:41 - 02/03/16 por Lusa

Economia Andrew Solomon

O autor do livro "O Demónio da Depressão -- Um Atlas da Doença", que foi traduzido para português, explica que existem "muitos conceitos políticos" na definição da enfermidade e que, em muitas circunstâncias, há uma tendência para encarar a depressão como uma simples fraqueza.

No entanto, diz Andrew Solomon, se a depressão for "vista como uma doença", as obrigações políticas têm de ser consideradas e o tratamento tem de ser assegurado pelo Estado, assim como têm de ser garantidas situações laborais especiais aos pacientes.

"Todo este tipo de apoio pode ficar caro e complicado e, por isso, haverá sempre uma componente económica relacionada com estas questões mas, na verdade, os custos da depressão não tratada podem ser muito mais elevados do que as depressões sujeitas a tratamento", disse à Lusa o escritor norte-americano.

No livro "O Demónio da Depressão", Andrew Solomon, 53 anos, parte da ideia central de que a "depressão é a imperfeição do amor", para depois organizar um "atlas da doença" ao longo da história, dos vários tipos de patologia, da análise de estatísticas e de entrevistas sobre a forma como a doença é encarada, nas várias geografias, mas sobretudo com base no próprio caso pessoal.

Questionado sobre situações de depressão relacionadas com a crise económica, como a que se verifica em Portugal, Solomon refere que, do ponto de vista coletivo, podem registar-se baixas de produtividade no trabalho e sublinha que os doentes que não são acompanhados são desempregados de longa duração, com problemas familiares que podem tornar-se graves.

"As pessoas que estão num estado de depressão são vistas como um fardo para a sociedade e encaradas como um aspeto pouco saudável para o ambiente onde estão inseridas, mas os custos podem ser enormes, caso não sejam tratadas", sublinha, acrescentando que podem verificar-se situações singulares em que a depressão atinge as populações de forma generalizada.

"Eu creio que podem existir situações de depressão coletiva, esta doença não aparece por causa de um problema qualquer existente na água que as pessoas bebem. É verdade que há contextos sociais em que os coletivos têm esperança e outros em que a esperança está perdida", afirma.

Como exemplo, refere-se ao que assistiu no Afeganistão, em 2002, quando a população sentiu que as mudanças podiam ser efetivas com a queda do regime taliban e a chegada dos militares norte-americanos e dos aliados europeus.

"Essa esperança estourou, atualmente a situação no Afeganistão é atroz e o que foi prometido nunca foi alcançado. A sociedade passou de um estado de felicidade, para uma situação oposta e, quando isto acontece, verifica-se uma espécie de luto coletivo e muitas pessoas acabam por atravessar, por causa disso, estados de melancolia e de depressão".

Da mesma forma, a crise económica, indica, pode ser também uma situação extrema sendo que, na sociedade ocidental, a depressão ou é simplesmente desprezada ou sobrevalorizada.

Para Andrew Solomon, perante a crise económica, há pessoas que enfrentam situações de simples tristeza, que são medicadas mas que na verdade não estão deprimidas mas, por outro lado, há também pessoas que sofrem de depressão clínica que não estão a ser tratadas simplesmente porque "assumem" que fazem parte do contexto da própria crise.

"Eu fico mais preocupado com aqueles que não são tratados do que com aqueles que são tratados de forma excessiva. Há pessoas que perante as incertezas económicas desenvolvem um estado de ansiedade severa e que não são capazes de se levantar da cama e apertar os cordões dos sapatos, e isso é um problema clínico grave", frisa Andrew Solomon.

O escritor, que venceu o National Book Award, em 2001, com o livro "O Demónio da Depressão", conclui - através da longa pesquisa -, que a ciência, a filosofia, o direito, a psicologia, a literatura, a arte, a história e "muitas outras disciplinas" têm estudado a doença, mas que, no campo específico dos estudos da depressão, "faltava uma síntese".

"Apesar de propor explicações e interpretações de ideias complexas, esta obra não pretende substituir um tratamento apropriado", afirma o autor, sublinhando que "O Demónio da Depressão" é um livro "extremamente pessoal" e que não deve ser considerado, de modo nenhum, mais do que isso mesmo.

"O Demónio da Depressão -- Um Atlas da Doença", de Andrew Solomon (Quetzal Editores, 812 páginas), com tradução de Francisco Paiva Boléo e Constança Paiva Boléo, encontra-se nas livrarias portuguesas desde 15 de fevereiro.

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