"Como estrangeiro, a linha entre lutar pelo que se acredita e lutar para impor as nossas crenças aos outros é particularmente ténue. Acredito que o Príncipe poderia alcançar algo notável se fizesse escolhas diferentes de todas as outras pequenas nações insulares, mas não estou disposto a lutar por isso. Não desejo ser um fator de discórdia na política ou na sociedade do Príncipe", lê-se numa carta enviada pelo multimilionário ao Governo Regional desta ilha de São Tomé e Príncipe.
"Se existem fações de liderança fortes que acreditam que o nosso trabalho é feito de má-fé, com intenções neocoloniais, então seria melhor retirar-nos por respeito à autonomia do Príncipe. A minha equipa e eu sentimos que atualmente somos vistos como benfeitores e sacos de pancada, conforme o que for mais conveniente no momento", acrescenta Mark Shuttleworth.
A HBD é a maior empresa na ilha do Príncipe com vários investimentos no setor do turismo, garantindo emprego a quase 80% da população da ilha, além de apoiar a construção e reabilitação de várias infraestruturas.
Nos últimos meses, a oposição política do Príncipe e alguns cidadãos contestaram duramente a decisão da empresa de cobrar taxas de acesso a uma praia na ilha, embora a empresa justificasse que a medida estava prevista no contrato aprovado pelas autoridades e que visa a limpeza e manutenção do espaço.
O empresário garante que o objetivo do seu trabalho no Príncipe, iniciado em 2010, "nunca foi comercial" e por isso não insistirá para manter os negócios na ilha.
"Por esse motivo, tomei a decisão de solicitar à minha equipa que procure investidores alternativos que possam levar adiante esses negócios com melhor aprovação da liderança do Príncipe e discutir o processo pelo qual encerraríamos graciosamente os investimentos em ecoturismo e agricultura da HBD no Príncipe. Solicitei à minha equipa que trabalhe com o seu governo para tornar essa transição, de volta às mãos do Príncipe, tranquila", lê-se na carta enviada ao presidente do governo da Região Autónoma do Príncipe, Filipe Nascimento.
No entanto, Mark Shuttleworth recorda que, quando, em 2010, decidiu investir no Príncipe, então sob a presidência de Tozé Cassandra, estava "impressionado com o cuidado, a cortesia e a sinceridade do diálogo político entre o governo e a oposição", que pareceu notável "em contraste com o rancor e a divisão que se tornaram predominantes em outros lugares".
O empresário sublinha que, na altura, sentiu-se "motivado a ajudar a proteger essa beleza natural e a ajudar o povo do Príncipe a colher os frutos do desenvolvimento económico, evitando ao mesmo tempo o pior da destruição causada pelo desenvolvimento".
O empresário realça na carta que, "embora tenha sido difícil, muito trabalho positivo foi realizado", destacando "uma grande reforma no aeroporto, incluindo uma nova pista, a restauração da Roça Sundi, a restauração de edifícios culturalmente significativos em Santo António, a criação e o apoio contínuo à Fundação Príncipe.
Acrescentou ainda o emprego de centenas de pessoas e a aquisição de competências profissionais através de formação e educação, a ajuda na disseminação do domínio da língua inglesa, a introdução de programas para reduzir o uso de plástico e incentivar a reciclagem, a criação de uma consciência mundial sobre o Príncipe como destino turístico.
[Notícia atualizada às 21h43]
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