"A eletricidade não é a solução, é uma das soluções, porque noutros contextos, nomeadamente a nível da indústria e do transporte, precisamos de soluções complementares, onde o gás tem ainda um papel fundamental a desempenhar, sobretudo pela aposta em gases renováveis", defendeu o governante, na comissão parlamentar de Ambiente e Energia, que fez hoje um conjunto de audições, por requerimento do PSD, sobre o plano de desenvolvimento e investimento nas redes de distribuição de gás natural, entre 2025 e 2029 (PDIRD-G 2024), que ainda não foi aprovado e que o Governo submeteu ao parlamento para análise.
O secretário de Estado sublinhou que o consumo mensal acumulado de gás natural diminuiu 28,2% entre agosto de 2022 e abril de 2024, mas destacou a importância de considerar o seu papel no paradigma energético nacional, "não devendo sobrepor-se à eletricidade, mas complementando-a".
Realçou ainda que os gases renováveis, como o biometano, demonstram um "potencial significativo" em termos de sustentabilidade, de competitividade, pela sua integração nas infraestruturas existentes sem necessidades de investimento significativo na sua adaptação, e de soberania, contribuindo para o aumento da resiliência energética pela diversificação das fontes de energia.
Antes, o administrador executivo da REN -- Redes Energéticas Nacionais João Faria Conceição tinha assegurado que a rede de transporte está "totalmente preparada e certificada para a primeira fase prevista de incorporação de hidrogénio até 10%", após investimentos que considerou marginais.
Da parte dos operadores da rede de distribuição de gás, ouvidos durante a manhã, Gabriel Sousa, presidente executivo da Floene, que gere nove das 11 distribuidoras que atuam no país, defendeu que "os cortes [de investimento] propostos pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) vão criar disrupções irreversíveis na infraestrutura de gás, comprometendo a manutenção e a segurança da rede existente, impedindo-a de desempenhar o seu papel de ativo estratégico da descarbonização e transição energética".
Já o presidente executivo da Portgás, Nuno Fitas Mendes, salientou que os cerca de 111 milhões de euros de investimento previsto tem uma forte componente de preparação das infraestruturas para injeção de biometano e hidrogénio, tendo já unidades preparadas para injetar biometano no concelho de Paredes (distrito do Porto) e projetos piloto para injeção de hidrogénio a arrancar em breve na zona de Braga, enquanto o presidente executivo da Sonorgás, Ricardo Emílio, vincou que o gás é "a opção mais económica para as famílias".
O presidente da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), Paulo Carmona, adiantou que a Floene reduziu em 2,17% o montante total de investimento na proposta final, face à inicial submetida em abril de 2024, enquanto a REN Portgás reduziu 13,38% e a Sonorgás 19,15%.
O presidente da ERSE, Pedro Verdelho, também ouvido hoje, reiterou a necessidade de procurar equilíbrio nos investimentos, para conter a variação tarifária, e defendeu que os investimentos para incorporação de hidrogénio "só devem ser feitos se houver garantia que a mistura é aceitável pelos consumidores e operador de rede".
O secretário de Estado da Energia considerou mesmo que se perdeu "demasiado tempo e esforço com promessas vãs sobre o hidrogénio" que não está ao nível do biometano em termos de maturidade.
Em outubro de 2024, a ERSE considerou existir um "risco elevado em termos de sustentabilidade" nas propostas para o PDIRD-G 2024, num total de 382,1 milhões de euros para efeitos tarifários, mais 35% do que no anterior plano, e estudou "cenários alternativos" com reduções do investimento total de 28% (-273,3 milhões de euros) e de 54% (-174,9 milhões)".
A aprovação dos PDIRD-G é da responsabilidade do membro do Governo responsável pela área da energia, após discussão na Assembleia da República.
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