No Relatório de Conjuntura Económica e Perspetivas de Inflação de setembro, o banco central identifica, entre os "principais pressupostos internos", desde logo, a "manutenção da elevada pressão sobre o Orçamento do Estado, bem como a "reposição gradual da capacidade produtiva e de oferta de bens e serviços".
Igualmente a "previsão de cheias severas" no primeiro trimestre de 2026, "que condicionarão a oferta de bens, sobretudo alimentares", refere.
Contudo, sublinha o relatório, num contexto de "estabilidade da taxa de câmbio do metical face ao dólar norte-americano", levando a projeções de "que a inflação permanecerá controlada, em níveis de um dígito no médio prazo, apesar dos riscos associados ao agravamento fiscal e a choques de oferta".
"Quanto à atividade económica, excluindo o setor de gás natural, antecipa-se crescimento moderado, sustentado pelo avanço gradual de projetos em setores estratégicos da economia nacional", lê-se ainda no documento, apontando que "os riscos e incertezas associados às projeções da inflação mantêm-se elevados".
"Destacam-se como prováveis fatores de aumento da inflação, no médio prazo, os impactos do agravamento da situação fiscal, num contexto de crescentes desafios para a mobilização de recursos financeiros para o Orçamento do Estado, bem como dos choques climáticos e da lentidão na reposição da capacidade produtiva e da oferta de bens e serviços", conclui.
As autoridades moçambicanas alertaram em 12 de setembro para cheias de "grande magnitude" no país e inundações em pelo menos quatro milhões de hectares agrícolas durante a época chuvosa, que se iniciou em outubro.
"Nesse segundo período [da época chuvosa], que é janeiro, fevereiro e março, nós achamos que vamos ter chuvas, vamos ter cheias de grande magnitude, classificamos de um regime alto, sobretudo na bacia do Incomáti, Maputo e Limpopo", disse Agostinho Vilankulos, diretor nacional de Gestão de Recursos Hídricos, à margem do Fórum Nacional de Antevisão Climática para a época chuvosa 2025/2026, em Maputo.
Segundo o responsável, as barragens de países vizinhos de Moçambique, entre os quais África do Sul e Essuatíni, estão a 99% do nível de armazenamento e, por isso, com pouca capacidade de encaixe, situação que obrigará ao escoamento e consequentes inundações no país.
"Se as barragens estão cheias, então, não tem capacidade de encaixar, então, qualquer chuva que caia nos países vizinhos, transforma-se em escoamento e vem para o nosso país", alertou Vilankulos, apontando os municípios da Matola, Maputo, Beira e Quelimane como de "elevado risco de ocorrência de inundações".
Avançou que se prevê que o setor agrícola seja também afetado pelas chuvas, com pelo menos quatro milhões de hectares em risco.
No mesmo evento, Isaías Raiva, climatologista do Instituto Nacional de Meteorologia, referiu que se vão registar chuvas em todo o país entre os meses de janeiro e março, com grande impacto na zona sul de Moçambique, além de "alguns períodos secos".
Já Américo José, do Instituto Nacional de Saúde moçambicano, prevê uma maior incidência de malária e diarreias nas províncias de Nampula, no norte, Zambézia e Tete, no centro do país, durante a época das chuvas, considerando que as mudanças climáticas representam uma "ameaça direta e indireta para o setor da saúde".
Hiten Jantilal, diretor nacional da Agricultura, por sua vez, anunciou medidas preventivas face à aproximação das chuvas, entre as quais recomendações aos agricultores sobre "quando devem iniciar as sementeiras e como minimizar riscos de pragas e doenças".
Leia Também: PR de Moçambique diz que TotalEnergies deve deixar 'força maior'