Num comunicado, as autoridades confirmaram a saída de André Cheong Weng Chon, mas sem mencionar quaisquer razões para a remodelação do Governo liderado por Sam Hou Fai, com efeitos a partir de 16 de outubro.
"Parece-me uma jogada estratégica, porque é algo sem precedentes. Nunca vi um secretário, depois de 1999, ser transferido para a Assembleia Legislativa [AL]", disse o comentador político Sonny Lo Shiu-Hing.
"A relação entre o Executivo e o Legislativo em Macau sairá reforçada", defende Sonny Lo, com mais um deputado para "diminuir o fosso de comunicação" entre a AL e o Conselho Executivo.
Este órgão, que auxilia Sam Hou Fai na tomada de decisões e na elaboração de leis e regulamentos, passará a ter três deputados entre os seus membros, recordou o analista político.
Song Pek Kei, a segunda deputada mais votada nas eleições de 14 de setembro, e o deputado escolhido por sufrágio indireto Ip Sio Kai também fazem parte do Conselho Executivo, cujo porta-voz é atualmente André Cheong.
Há duas semanas, os residentes de Macau elegeram, por sufrágio direto, 14 dos 33 deputados. Outros 12 foram escolhidos por sufrágio indireto, através de associações.
Sam Hou Fai nomeou hoje os restantes sete deputados, seis dos quais caras novas, incluindo Kou Ngon Seng, diretor-geral do Centro de Pesquisa Estratégica para o Desenvolvimento de Macau, um órgão de reflexão do Governo.
Outros nomes incluem o presidente do Conselho Superior de Advocacia, Lei Wun Kong, e o diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Politécnica, Lam Fat Iam.
O Parlamento contará ainda com o presidente e fundador da Associação de Transmissão ao Vivo de Macau, Wong Ka Lon, e Chao Ka Chong, líder da empresa tecnológica local BoardWare Intelligence.
O único deputado que mantém o lugar entre os nomeados é o diretor da Escola Secundária Pui Ching, Kou Kam Fai.
Os nomeados "tendem a ser relativamente mais jovens e isto pode ser uma preparação, uma espécie de formação para mais potenciais líderes de Macau", disse Sonny Lo.
Questionado sobre se a escolha de um membro do Executivo coloca em risco uma das missões da AL, "escrutinar o Governo", o comentador defendeu que os deputados eleitos diretamente "certamente terão um papel mais fiscalizador".
Sonny Lo admitiu que os nomeados têm "um papel ligeiramente diferente": "preencher as lacunas profissionais ou de conhecimento, dar conselhos como especialistas, ajudando o Governo".
A saída de André Cheong do Governo inicia uma 'dança das cadeiras', com o dirigente a ser substituído na tutela da Administração e Justiça pelo atual secretário para a Segurança, Wong Sio Chak.
Sonny Lo disse acreditar que o novo secretário se vai concentrar na "estabilização de Macau, especialmente quando se trata de questões de segurança nacional e de lei e ordem".
O analista não acredita que a nomeação de Wong implique mais legislação a reprimir a dissidência política, mas sim "reformas legais em outras áreas, como os tribunais".
A mudança de cargo vai permitir ao dirigente "alargar a sua experiência e conhecimentos administrativos" e talvez ser, "no futuro, um possível candidato a chefe do Executivo", referiu Sonny Lo.
A pasta da Segurança passa de Wong para o atual líder do Ministério Público, o procurador Chan Tsz King, que até dezembro era Comissário contra a Corrupção. Os dois dirigentes foram formados em Direito em universidades de Portugal.
O Ministério Público passa para as mãos de Tong Hio Fong, atual presidente do Tribunal de Segunda Instância e que, em 2021 liderou a comissão eleitoral que excluiu cinco listas e 21 candidatos à AL, 15 dos quais pró-democracia.
Leia Também: Inflação em Macau atinge valor mais elevado desde janeiro