Eletricidade ou construção? Estereótipos justificam domínio por homens

Em Portugal praticamente não há mulheres com profissões qualificadas em eletricidade, eletrónica ou na construção, mantendo-se na última década os estereótipos que acabam por moldar as opções educativas de rapazes e raparigas, segundo dados a que a Lusa teve acesso.

eletricista

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Lusa
29/06/2025 13:35 ‧ há 5 horas por Lusa

Economia

Profissões

Dos trabalhadores qualificados da construção e similares, exceto eletricista, a proporção em 2010 era de 1,29% de mulheres, percentagem que 13 anos depois desceu para 1,26%, segundo os dados recolhidos por alunos do seminário da licenciatura em economia do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), sob orientação da diretora do Observatório Género, Trabalho e Poder, Sara Falcão Casaca, que vão constar do segundo Barómetro da Participação Laboral de Mulheres e Homens.

 

Dos trabalhadores qualificados em eletricidade e em eletrónica, as mulheres representavam 2,98% desses trabalhadores em 2010, diminuindo para 2,58% em 2023, segundo as estatísticas de 'Quadros de Pessoal" do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e usadas para a investigação.

Para a socióloga Sara Falcão Casaca, em 13 anos, entre 2010 e 2023, registaram-se alterações pontuais na distribuição de mulheres e homens por áreas predominantemente masculina ou feminina, mas manteve-se uma clara segregação e em algumas profissões, como as qualificadas de eletricidade e construção, com representação de mulheres já reduzida, a segregação agravou-se.

Na sua opinião os dados mostram que em 2023 continuou a registar-se grande representação de profissões em que a maioria são homens ou o sexo masculino predomina, não se tendo conseguido superar as conceções estereotipadas, que estão presentes desde logo na socialização e que moldam as opções educativas e formativas de rapazes e raparigas.

Para combater essa segregação é necessário um trabalho profundo que envolva todos os agentes de socialização, incluindo a família. Os brinquedos que se oferecem às crianças são agentes de socialização, alertou a socióloga, criticando a atual grande especialização nos brinquedos destinados a raparigas e a rapazes.

É grande o peso destas representações sociais e culturais que estão muito enraizadas e presentes na família e noutros agentes de socialização, uma marca cultural tradicional acerca dos papéis sociais das mulheres e dos homens que limita e condiciona a realização profissional das raparigas e dos rapazes, avisa.

"As suas aspirações vão sendo moldadas em função das expectativas sociais e, muitas vezes, é assim que se limita o que possam ser as aspirações de um homem que podia via a ser um excelente educador de infância ou de uma mulher com vocação para eletricista", argumentou.

Invocando vários estudos, a socióloga explicou que ambientes com a presença de homens e mulheres são mais favoráveis ao trabalho em equipa e favorecem os processos de tomada de decisão, a forma como se trabalha, a criatividade, a inovação, razão pela qual é importante garantir que não se limitam as aspirações profissionais das mulheres e dos homens.

A diretora do observatório salientou que as vocações devem ser efetivamente as vocações genuínas e que o caminho para garantir que não se limitam as aspirações profissionais passa pela educação e por libertar rapazes e raparigas do estereótipo de género.

Os estereótipos de género refletem-se também nas decisões de quem recruta, moldando as opções e decisões tanto do lado da oferta como da procura no mercado de trabalho.

Quando uma empresa contrata uma pessoa eletricista a expectativa dominante é a de esse posto de trabalho ser ocupado por um homem, especificou.

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