O diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, considera que a questão do encerramento dos estabelecimentos ao domingo condiciona a "liberdade" dos clientes, que aproveitam os fins de semana para fazer as suas compras. Além disso, destaca que há muitos colaboradores que mostram vontade de trabalhar nesses períodos.
"Os portugueses fazem as suas compras e aproveitam o fim de semana para fazer algumas atividades que podem ser feitas nestas superfícies comerciais, tão diferentes como cultura, lazer ou aproveitar o momento para fazer as suas compras", disse Gonçalo Lobo Xavier, em declarações à TVI, fazendo alusão à "liberdade de escolha".
Segundo o responsável da APED, "sexta, sábado e domingo são os dias com mais movimento, os domingos são utilizados para fazer coisas que as pessoas não conseguem fazer durante a semana porque estão a trabalhar".
Gonçalo Lobo Xavier nota ainda que, "ao contrário do que se diz, temos a gestão do fim de semana com os nossos colaboradoras feita de forma a que, primeiro, não trabalhem todos os fins de semana, isso não existe, há um planeamento adequado à disponibilidade, e os colaboradores são pagos a dobrar nesse período".
"Temos hoje muitas pessoas a querer trabalhar ao fim de semana ou em part-time ou por opção, tendo em conta a gestão da sua vida", disse Gonçalo Lobo Xavier, em declarações ao mesmo canal.
O encerramento dos estabelecimentos ao domingo, refira-se, resultaria na perda de "16 mil postos de trabalho", estima o diretor-geral da APED.
Mais de uma centena de trabalhadores do comércio juntaram-se, na quinta-feira, frente à Assembleia da República para defender o encerramento das superfícies comerciais aos domingos e feriados e a redução do período de funcionamento até às 22h00.
Aação de vigília, organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), ocorre no mesmo dia em que está previsto na Assembleia da República o debate de um projeto de lei, de iniciativa cidadã, que pede o encerramento do comércio aos domingos e feriados e a limitação dos horários às 22h00.
Em declarações à Lusa, o secretário-geral da CGTP, Tiago Oliveira, disse que do programa de Governo constam "mais medidas de ataque aos direitos dos trabalhadores, mais medidas de penalização para aqueles que trabalham e mais medidas de favorecimento às grandes empresas e aos grandes grupos económicos".
O líder sindical acrescentou ainda ser necessária uma "inversão de políticas" afirmando que "não é este Governo que as vai fazer".
Tiago Oliveira avançou também que o programa de Governo prevê "maior precariedade, perpetuação de baixos salários e perpetuação de políticas de favorecimento do grande capital", ao que disse que a CGTP irá "dar combate àquilo que são as pretensões e as reivindicações dos trabalhadores".
De acordo com o secretário-geral da CGTP, desde 2010 aumentou o número de grandes superfícies comerciais porém diminuiu o número de trabalhadores.
"Nenhum capitalista, nenhuma empresa se preocupa com o número de trabalhadores que tem, têm aquele número de trabalhadores exatamente necessários para a sua função", acrescentou.
Questionado sobre um próximo passo caso se verifique a concretização do encerramento aos domingos, nomeadamente um eventual encerramento aos sábados, Tiago Oliveira remeteu para revindicação central que se encontra em cima da mesa, sendo essa o encerramento das superfícies comerciais aos domingos e feriados e uma laboração máxima até às 22h00 horas.
Também presente na concentração, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, teceu alguns comentários e disse, em declarações à Lusa, "é justa esta reivindicação e isso é que conta".
O dirigente comunista lembrou também que existem profissões às quais não é possível cessar a laboração ao fim de semana, nomeadamente os serviços de emergência médica e os profissionais de saúde no geral, porém ressalvou que no caso das superfícies comerciais "não se justifica".
Paulo Raimundo constatou então que não é justo ter "quase dois milhões de trabalhadores no país que trabalham ao sábado e ao domingo" e afirmou que estes "merecem condições de trabalho, merecem estabilidade e não a precariedade e merecem tempo para viver".
"O país já funcionou com as superfícies fechadas ao fim de semana, já funcionou com as superfícies fechadas ao domingo, depois já funcionou com as superfícies abertas até a hora do almoço de domingo, é preciso retornar isso pela vida", disse o secretário-geral do PCP.
"O que nós propomos é que as grandes superfícies tenham uma elaboração de 72 horas semanais, a difusão desta realidade, que se possa, no fundo, abrir entre segunda e sábado", acrescentou.
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