"Não vamos fazer a desinflação através das famílias portuguesas"
O ministro das Finanças, Fernando Medina, disse hoje que são as "contas certas" que permitam dar os apoios aos cidadãos hoje anunciados e que o combate à inflação não pode ser feito à custa das famílias portuguesas.
© Getty Images
Economia Fernando Medina
Questionado em conferência de imprensa sobre se considera que o Banco Central Europeu (BCE) está a ser muito duro nas medidas tomadas para combater a inflação, designadamente a subida das taxas de juro, Medina concordou: "Considero, sim".
"A inflação e o aumento dos juros colocam às famílias uma pressão muito grande, em especial às famílias de menos rendimento, que vivem com salário e pensão contados no fim do mês", afirmou.
Segundo o governante, são as famílias mais pobres e as classes médias que estão a, sobretudo, sofrer com o aumento do custo de vida devido a "razões que nada têm que ver com Portugal" a que se soma o "aumento dos juros da política para combater a inflação" do BCE.
Segundo Medina, não é por Portugal que se reduzirá a inflação, esse combate não pode ser feito à custa dos que vivem no país.
"Não vamos fazer a desinflação através das famílias portuguesas (...) quando uma parte muito importante da inflação que estamos a ter resulta da guerra, dos distúrbios dos preços na energia, dos distúrbios das cadeias alimentares globais", afirmou.
"Não podemos ter políticas inflacionistas mas também não podemos fazer desinflação com os salários e pensões dos portugueses", vincou, defendendo que o combate à inflação seja feito com "equilíbrio".
A semana passada, a presidente do BCE, Christine Lagarde, apelou aos governos da zona euro para começarem "rapidamente" a reduzir os apoios orçamentais às famílias e às empresas, para travar a inflação.
Já esta quinta-feira, no debate parlamentar, o primeiro-ministro criticou a subida das taxas de juro por parte do BCE.
"Porque num contexto onde que o Banco Central Europeu, mal, continua a manter uma política de subir as taxas de juro doa a quem doer, é absolutamente fundamental que um país com o nível de endividamento que Portugal tem, continue a reduzir o montante da sua dívida para que sofra o menos possível com o aumento da taxa de juro decidida pelo Banco Central Europeu", defendeu António Costa, acrescentando que "enerve a quem enerve, custe o que custar" o Governo vai continuar a dar apoios.
Ainda hoje, Medina elogiou o equilíbrio orçamental do Estado português, dizendo que são as "contas certas" que dão ao Governo "liberdade e capacidade" para agir.
"É precisamente a política das contas certas que nos permite agora boas política para com famílias portuguesas", disse.
O défice orçamental de 2022 ficou 3,5 mil milhões abaixo do estimado pelo Governo, devido ao crescimento da receita superior ao da despesa, segundo os dados publicados hoje pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Na proposta do Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), o Governo previa para 2022 um défice orçamental, em contabilidade nacional, de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), o correspondente a uma necessidade de financiamento de 4.430 milhões de euros.
Na estimativa preliminar divulgada hoje, o INE revela que, contudo, o défice do ano passado se situou em 0,4% do PIB, o correspondente a uma necessidade de financiamento de 944,4 milhões de euros.
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