Costa com agenda internacional forte, mas com consequências 'em casa'
O primeiro-ministro entrou numa intensa agenda internacional mal se libertou dos processos de formação do Governo e da apresentação do Orçamento, tendo encontros entre maio e junho com todos os líderes dos principais países europeus.
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Economia Governo/100 dias
Perante a sucessão de casos que abalou o XXIII Governo Constitucional nas últimas semanas, uma das principais questões em reflexão no PS é apurar em que medida as frequentes saídas do país de António Costa tiveram consequências no funcionamento interno do executivo, ou se, pelo contrário, o problema de fundo estará antes relacionado com uma excessiva imagem de continuidade transmitida pela nova equipa governativa.
No encerramento da recente Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, o Presidente francês, Emmanuel Macron, durante um passeio à beira Tejo com o chefe de Estado português, viu os jornalistas rodearem Marcelo Rebelo de Sousa para lhe obterem um primeiro comentário sobre o desfecho da crise com o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos -- uma crise que terá apanhado António Costa de surpresa quando se encontrava na cimeira da NATO em Madrid.
Pouco depois desse passeio com Marcelo Rebelo de Sousa, Macron encontrou-se com António Costa no MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia) e confidenciou a alguns dos presentes que também ele estava há vários dias longe de Paris, que ia regressar nessa noite à capital francesa e que ainda tinha um Governo para formar.
Também num dos intervalos da cimeira da NATO, na semana passada, em Madrid, durante uma visita ao Museu do Prado, o primeiro-ministro italiano, Mário Draghi, aproveitou esse momento com permissão de acesso a rede telefónica e foi apanhado pelos fotógrafos sentado num banco, longe dos outros chefes de Estado e de Governo, a procurar resolver uma crise interna no seu executivo.
Os casos de Macron e de Draghi, tal como o de Costa, de acordo com um elemento do núcleo político do Governo, atestam que a agenda internacional é cada vez mais exigente para os líderes políticos europeus. E a crise aberta pela guerra na Ucrânia só agravou essa circunstância.
Desde o primeiro dia dos cem já cumpridos pelo XXIII Governo Constitucional, de maioria absoluta do PS, que se discute se António Costa vai cumprir o seu mandato de primeiro-ministro até outubro de 2026, ou se sai a meio da legislatura para desempenhar um cargo europeu.
A questão foi lançada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, logo na cerimónia de posse deste novo Governo, em 30 de março, advertindo António Costa que será difícil a sua substituição a meio da legislatura.
"É o preço das grandes vitórias, inevitavelmente pessoais e intencionalmente personalizadas. E é sobretudo o respeito da vontade inequivocamente expressa pelos portugueses para uma legislatura. Agora que ganhou, e ganhou por quatro anos e meio, tenho a certeza de que vossa excelência sabe que não será politicamente fácil que esse rosto, essa cara que venceu de forma incontestável e notável as eleições, possa ser substituída por outra a meio do caminho", declarou.
Várias semanas depois, numa entrevista promovida pelo Clube de Jornalistas, em parceria com a agência Lusa, António Costa procurou afastar a questão levantada pelo chefe de Estado.
"Em circunstância alguma em 2024, quando quer que seja, eu estarei disponível para ser presidente da Comissão Europeia. Onde me sinto útil neste momento e até outubro de 2026 é aqui em Portugal", declarou.
Mas as dúvidas não ficaram completamente afastadas, até porque os mais próximos de António Costa conhecem o seu gosto pela agenda internacional.
Entre maio e junho, tirando o caso de Itália, o primeiro-ministro português deslocou-se às principais capitais europeias e foi recebido pelos líderes dos maiores países europeus. Esteve com Pedro Sánchez em Madrid, com Olaf Scholz em Hannover, com Emmanuel Macron em Paris e com Boris Johnson em Londres.
Fez ainda um périplo pela Europa de Leste que o levou primeiro à Roménia, onde visitou as tropas portuguesas em missão naquele país, e encontrou-se a seguir com o líder do executivo polaco, Mateusz Morawiecki. Da fronteira polaca, partiu depois de comboio até Kiev para se reunir com o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
Entre maio e junho, além dos encontros bilaterais atrás referidos, António Costa esteve em Bruxelas em duas reuniões do Conselho Europeu, esteve também no Parlamento Europeu em Estrasburgo no encerramento da conferência sobre o futuro da Europa e, mais recentemente, em Madrid, na Cimeira da NATO.
E o ritmo não abranda. No domingo, António Costa parte para Maputo para a Cimeira Luso Moçambicana e regressa logo na quarta-feira.
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