"É completamente impossível saber" se a inflação vai descer este ano
O antigo ministro das Finanças Jorge Braga de Macedo defende que "é completamente impossível saber" se a inflação irá descer este ano, salientando que esta tendência de aumento dos preços "corrói" as economias.
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Economia Braga de Macedo
Em declarações à Lusa, a propósito da última aula antes de se jubilar, que dá hoje na Universidade Nova de Lisboa, Braga de Macedo disse que a chamada 'estagflação', que junta inflação a estagnação económica, "é um tema atual".
"É completamente impossível saber" se a inflação vai descer em breve, referiu, garantindo que "só será provisória se ou desaparecerem as causas do lado da oferta" ou seja "a questão das matérias-primas", e "depende das políticas", referiu.
Para o professor, é preciso "tentar olhar para a globalização dos últimos 30 anos" e perceber como "ela foi governada", para entender o cenário atual.
"A inflação não dá dinamismo às economias, corrói, é como os cancros", afirmou, indicando que "quando uma pessoa começa sem perceber o valor das coisas, porque os preços sobem demais, e então mesmo que esteja a crescer [a economia]" está "a crescer da maneira errada, salientou.
Braga de Macedo salientou que "a 'estagflação' dos anos 70 tinha como causa principal o aumento dos preços do petróleo", mas também mecanismos "que transformavam os aumentos do preço do petróleo em aumentos salariais e depois em aumentos aos preços ao consumidor, numa espiral que mesmo quando não levava à depressão diminuía fortemente o crescimento", disse, referindo que "havia um imposto escondido".
Este ciclo "neste momento está claramente a recomeçar e vai ter efeitos nos juros", e "é uma coisa da qual pensávamos que nos tínhamos livrado, mas não nos livramos", disse o ex-ministro das Finanças do XII Governo Constitucional (1991-93), liderado por Cavaco Silva.
O professor distinguiu, no entanto, o que aconteceu no passado do período atual.
"O que nós temos aqui que não houve nos anos 80 e 90 foi uma pandemia brutal e problemas que decorrem de uma guerra que ocorre num sítio particular, mas que está a envolver países que são muito importantes nas cadeias de valor e há um receio que toda a arquitetura de cooperação internacional venha por água abaixo", salientou.
"Estamos confrontados com uma desglobalização", referiu, apontando "problemas de governação da globalização".
"Como é que se pode governar a desglobalização? Eu diria quase é uma impossibilidade e vai-se fazer na desordem, como se fez nos anos 30", vaticinou.
Braga de Macedo criticou ainda a falta de reformas estruturais em Portugal. "Temos uma história que nos dá toda a confiança que somos capazes de encarar as dificuldades. Mas há maneiras de encarar as dificuldades que são mais simples e outras mais complicadas, tenho é pena que se tenha que aprender as coisas 20 vezes", lamentou.
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