"Há muitos imponderáveis" na evolução da inflação, diz Elisa Ferreira
A comissária europeia para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, admitiu, esta sexta-feira, haver "muitos imponderáveis" na evolução da inflação, alguns dos quais estão "muito fora das possibilidades" de intervenção da agenda da Comissão Europeia.

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"Neste momento há uma gestão muito costeira, muito à vista, da situação da inflação. Claro que nós esperamos que, com um bocadinho mais de tempo, as tendências inflacionistas acabem por ser contidas, é essa a nossa expectativa e a nossa previsão", afirmou Elisa Ferreira durante um almoço organizado no Porto pela Câmara de Comércio Americana em Portugal (AmCham).
A comissária portuguesa reconheceu, contudo, que "há muitos imponderáveis neste cenário".
"E -- admitiu -- alguns desses imponderáveis estão mesmo muito fora daquilo que são as possibilidades da nossa agenda".
"Estamos todos um bocadinho a ver no que é que as coisas param, mas, claramente, é um assunto que nos preocupa a todos", acrescentou.
Conforme recordou Elisa Ferreira, "quer a Comissão [Europeia], quer o Banco Central [Europeu] consideraram, numa primeira fase, que a inflação basicamente seria um ajustamento de preços, mais do que outra coisa, depois de um período em que ou a estabilidade ou a deflação estiveram a vigorar".
Esperava-se então que, "a partir do momento do desconfinamento, haveria um impulso nos preços e seria o voltar à normalidade antes de 2019, antes da covid".
Contudo, lembrou, entretanto, surgiu "um outro elemento adicional, relativo à energia e aos produtos agrícolas, sendo que o primeiro impulso na energia começou a acontecer apenas com base nas expectativas, porque, de facto, ainda não tinha havido nenhuma alteração da oferta e da procura internacional de energia e já se sentia esta tensão nos preços".
"Há várias tentativas que a Europa está a fazer [para tentar conter a subida dos preços da energia]. Uma delas é o REpowerEU, que é uma nova comunicação que vai tentar acelerar esta agenda toda de reconversão energética, com uma prioridade que já não é só ambiental e de conformidade com o planeta e de limitação de CO2, mas é também de aceleração de tudo aquilo o que possa ajudar os países a libertarem-se desta dependência russa", referiu.
Paralelamente, enfatizou, "há outros elementos, também de mercado, que estão a ser reapreciados no sentido de conter esta tendência para a alta" dos preços da energia, como "no caso de Portugal e Espanha, que tiveram de libertar um pouco a relação entre a energia renovável do topo do custo das outras energias".
"O grande ponto de interrogação é sobre os mercados de cereais, sobre os mercados de oleaginosas e sobre o efeito em cadeia e, também, a antecipação que muitas vezes acaba por gerar as expectativas inflacionárias na economia", disse.
Já no que respeita à área dos fundos estruturais, Elisa Ferreira referiu que, atualmente, estão a ser permitidas, "dentro de determinados limites, revisões dos preços naquilo que são financiamentos".
"Dependendo do contrato que a empresa fez, se tem uma cláusula de revisão de preços ou de atualização de preços, os fundos estruturais acomodam-na. Se não tiver, é um assunto em que há um pedido de parecer, mas que pode, de facto, absorver e introduzir no financiamento de reembolso a fundo perdido alguma alta de preços, desde que seja justificada por valores efetivos de inflação, que pode ser em determinados segmentos da produção e não propriamente o IPC [Índice de Preços no Consumidor]", explicou.
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