Daniel Traça. "Temos que mudar a forma de trabalhar"

O 'dean' da Nova SBE, Daniel Traça, defendeu hoje que é preciso "mudar a forma de trabalhar" em Portugal e que a transformação digital depende sobretudo da cultura e liderança das empresas, que muitas vezes falta a algumas organizações.

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Lusa
12/05/2022 12:34 ‧ 12/05/2022 por Lusa

Economia

Daniel Traça

Daniel Traça falava no segundo e último dia do 31.º congresso da APDC, que se realiza em formato híbrido a partir do auditório da Faculdade de Medicina Dentária de Lisboa, que tem como tema "Tech and Economics: the way forward", no painel o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o digital.

"Temos que mudar a forma de trabalhar", afirmou o professor de economia na Nova School of Business and Economics (Nova SBE) e diretor da instituição.

"Acho que um dos desafios do PRR é que de facto estamos a trabalhar bem na formação, mas na parte da transformação do Estado vamos educar não sei quantos dirigentes públicos, mas se mantivermos a mesma forma de funcionar no Estado, a mesma forma de avaliar as pessoas, as mesmas restrições para quem está no Estado correr riscos e inovar, as coisas vão mudar? Não vão mudar", considerou Daniel Traça.

A transformação digital é tecnologia, talento, "mas é sobretudo liderança e cultura, isto é termos organizações que vivem com uma agilidade, com sentido de propósito, com uma série de normas sociais que fomentam a inovação em tudo o que se faz, fomentam o espírito de inovação, que tem uma juventude nas normas internas da organização" que lhe permite "ser um ator vivo, não um centro de comando e controlo, (...) mas tem-se esta agilidade para estar no terreno", argumentou.

"Acho que é aí que pecamos por defeito, acho que nós em Portugal temos um mito que se educarmos toda a gente tudo acontece", prosseguiu, apontando que tal "não é verdade".

Isto porque "educamos toda a gente e, neste momento, o problema que temos é que as pessoas que educamos ou estão a trabalhar em teletrabalho para empresas na Alemanha ou estão a querer ir trabalhar para a Alemanha", sublinhou.

Portanto, isso significa "estar aqui a produzir as pessoas todas e depois não haver um contexto em que há projetos interessantes, inovadores e ambiciosos, de escala". E mesmo as ofertas salariais mais altas de outros mercados também veem da falta de projetos e cultura em Portugal, acrescentou.

"Se queremos ter só empresas pequenas, se as empresas não têm escala e não têm ambição, se as empresas não abrem espaço para que estes jovens possam estar lá dentro e dar-lhes autonomia para eles singrarem rapidamente, se continuam com estruturas" de "comando e controlo, em que se tem de perguntar ao chefe 'se posso dar um passo à esquerda ou à direita' e o chefe é chefe e não é líder e não está a inspirar as pessoas para serem empreendedores", o talento "vai-se embora" e fica a tecnologia, enfatizou Daniel Traça.

Na opinião de Daniel Traça, "a maior parte das empresas portuguesas têm ainda essa cultura".

"Claro que há um problema de liderança", disse, apontando que "muitas das estruturas, nomeadamente das velhas empresas" são uma geração anterior "e demoram muito tempo a passar às gerações mais novas", argumentou.

Tal "impede muitas dessas empresas de olharem para este mundo de curto prazo a pensar no longo prazo com o dinamismo que é necessário, portanto temos de facto um problema de liderança e também temos um problema de cultura", insistiu o economista.

Em Portugal, "temos uma cultura, apesar de tudo, muito 'fato e gravata' e as empresas precisam de um espaço muito maior para deixarem que estes jovens sigam os seus sonhos, abracem os projetos com enorme paixão, temos empresas com poucas normais sociais, demasiado normas de mercado", prosseguiu.

Defendeu que é preciso que o espírito da 'startup' possa passar para "espírito de uma organização média e até grande em Portugal e que se viva esse sucesso" pois "só assim é que há transformação digital, o resto é tecnologia e pessoas que estão ali cumprir ordens", rematou.

Por sua vez, o presidente da CIP, António Saraiva, apontou que é necessário analisar de forma geral.

"Estamos ainda com uma geração na liderança das empresas que foram aqueles que, conhecendo o negócio, não deixaram de arriscar, não deixaram de ousar, não deixaram de se atravessar com livranças pessoais, com os seus bens, e tiveram essa ousadia de criar empresas, e acho que isso muitas vezes é adulterado na origem das causas pelos efeitos e não reconhecemos esse mérito", afirmou.

Admitiu, no entanto, que "alguns deles estão ultrapassados".

No entanto, "o que é facto é que as empresas se mantêm e continuam a progredir, por isso não podemos ir apenas a algumas análises, temos de ver as coisas de forma geral", defendeu, salientando que há novas gerações que estão a chegar e há uma transformação cultural.

"Porque é cultural? Porque também as empresas portuguesas -- e não é só uma questão de remuneração, porque invariavelmente dizemos que não retemos talento porque remuneramos pouco, mas o consumidor português, se o produto for alemão ou se for estrangeiro, está disponível psicologicamente para o pagar mais caro, se for português invariavelmente tem que ser mais barato -- vivem das margens que libertam e por isso é das margens que pagam salários, fazem investimentos", apontou.

Ou seja, "há aqui uma cultura que tem de ser bem apreciada e por isso eu digo: todos vemos os efeitos, as causas têm de ser bem apreciadas porque às vezes escondem realidades que não são exponenciadas", referiu.

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