Aumento das taxas de juro nos EUA deve acelerar saída de capital da China
A saída de capital da China deve acelerar, nas próximas semanas, preveem analistas, à medida que o rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano ultrapassa, pela primeira vez desde 2010, os juros das obrigações do Estado chinês.
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Em março, o país asiático registou já uma retirada de dinheiro "sem precedentes", por parte de fundos e investidores estrangeiros, segundo o Institute of International Finance, após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
"Não temos visto fluxos de saída semelhantes noutros mercados emergentes, mas, nesta fase, é ainda muito cedo para dizer que existe uma mudança estrutural relativamente à China", apontaram, no relatório, os analistas Robin Brooks, Jonathan Fortun e Jack Pingle.
No entanto, o início da retirada de títulos chineses dos portefólios globais coincidiu com a invasão da Ucrânia, o que sugere que os investidores estão a olhar para a China sob um novo ângulo, à medida que o país reafirma a importância da sua parceria com Moscovo.
Esta semana, o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA a 10 anos subiu para 2,78%, superando pela primeira vez o retorno de 2,75%, do título de referência das obrigações emitidas pelo Governo chinês com a mesma validade.
"Sempre que a diferença nas taxas de juros entre a China e os Estados Unidos se reduz rapidamente (...) a saída de capital estrangeiro da China acelera", observou Liu Yaxin, estrategista do China Merchants Securities, uma corretora com sede em Xangai, numa nota publicada hoje.
"Olhando para a inflação nos EUA e para os fundamentos económicos da China, a reversão nas taxas de juros pode manter-se por um período de tempo. As saídas de capital estrangeiro vão continuar, e, no curto prazo, a taxa de câmbio [da moeda chinesa] yuan, face ao dólar norte-americano, enfrentará pressão para se desvalorizar", acrescentou.
A liquidação de títulos da dívida chinesa está concentrada no mercado de dívida soberana.
A saída de capital ascendeu a 51,8 mil milhões de yuans (7,4 mil milhões de euros), em março, de acordo com um relatório compilado na terça-feira pela Western Securities, empresa de serviços financeiros com sede em Xi'an, centro da China.
Os investidores também intensificaram a venda de títulos de dívida emitidos pelos bancos estatais chineses, responsáveis por financiar projetos liderados pelo governo.
O montante de títulos liquidados cresceu para 39,68 mil milhões de yuans (5,8 mil milhões de euros), em março, face a 28,53 mil milhões de yuans (4 mil milhões de euros), em fevereiro, segundo o relatório da Western Securities.
O Banco do Povo da China (banco central) deve reduzir este ano as taxas de juros, para amortecer o impacto de novos surtos de covid-19, enquanto a Reserva Federal dos EUA prevê aumentar as taxas, visando travar o aumento da inflação.
Analistas da Everbright Securities disseram que a saída contínua de capital, juntamente com a crescente depreciação do yuan, pode ser desestabilizadora para os mercados financeiros da China.
Quando a Reserva Federal dos EUA elevou as taxas de juros, pela última vez, em 2015, provocou uma fuga de capitais da China. As reservas cambiais do país caíram para o nível mais baixo, entre 2015 e 2016, durante o qual também houve uma queda sem precedentes no mercado de ações.
"Mudanças na taxa de câmbio do yuan devido a fluxos de capital transfronteiriço podem afetar indiretamente o mercado financeiro doméstico", disse a Everbright Securities, numa nota difundida hoje.
"O ciclo de aperto monetário da [Reserva Federal], depreciação da taxa de câmbio do yuan e a saída de fundos da conta de capital têm muitas vezes um efeito espiral, que por sua vez tem um impacto negativo na estabilidade do mercado financeiro doméstico", descreveu.
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