"As incertezas geopolíticas globais e o aumento dos preços da energia e das 'commodities' levaram-nos a rever a nossa previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022 para Portugal de 5,7% para 4,6%, com uma possível queda adicional dependendo da evolução do conflito na Ucrânia", refere a agência de notação financeira no relatório divulgado hoje.
A S&P explica que a desaceleração em 2022 deverá resultar do aumento dos preços da energia e das matérias-primas e dos potenciais efeitos negativos na confiança devido ao agravamento do conflito na Ucrânia, apesar das "ligações diretas mínimas de Portugal com as economias russa e ucraniana".
A agência salienta que, contudo, as perspetivas de médio prazo para o crescimento do PIB português são favoráveis, com o turismo posicionado para uma forte recuperação em 2022-2023, refletindo também o desembolso dos fundos europeus.
Os analistas estimam ainda que o défice orçamental tenha situado abaixo de 3% do PIB no final de 2021, contra a meta de 4,3%, e deverá cair para menos de 2% do PIB em 2022- "incluindo o apoio às empresas estatais e ao Novo Banco" - e para 0,5% em 2023.
"O crescimento sólido e as contas externas e orçamentais equilibradas colocaram os rácios da dívida pública e privada de volta a uma trajetória descendente acentuada, embora a partir de níveis elevados", salienta.
Destaca, assim, que a perspetiva da dívida soberana portuguesa permanece 'estável', uma vez que acredita que o Governo de António Costa irá seguir políticas de apoio ao crescimento e à consolidação orçamental nos próximos quatro anos, enquanto a economia beneficia de subsídios da União Europeia.
"Caso a economia portuguesa recupere ainda mais nos próximos três anos, levando a uma melhoria significativa das finanças públicas, poderemos subir o rating", antecipa.
Assinala ainda que por outro lado a melhoria do rating pode surgir do fortalecimento das instituições ou da posição externa do país, incluindo da redução da necessidade de financiamento externo de curto prazo.
No entanto, alerta que "a pequena economia aberta de Portugal é altamente suscetível a choques externos", incluindo os preços da energia e das 'commodities' e, mais amplamente, das mudanças nas perspetivas de crescimento para os principais parceiros comerciais europeus devido ao conflito na Ucrânia.
Os analistas da S&P destacam que tal como a maioria das economias avançadas, os combustíveis fósseis ainda dominam o consumo global de energia em Portugal, estimando que os efeitos imediatos do aumento dos preços da energia, por si só, irão reduzir o PIB em cerca de 0,3 pontos percentuais este ano, caso os preços do petróleo e do gás permaneçam nos níveis atuais.
"Isso também afetaria as contas externas de Portugal", refere.
No ano passado, a agência de notação financeira tinha optado por não se pronunciar sobre a dívida soberana portuguesa, apesar de ter previsto avaliações para os dias 12 de março e 10 de setembro, mantendo, assim, a classificação reforçada na última revisão, datada de 11 de setembro de 2020.
Agora, a S&P prevê voltar a olhar para a dívida portuguesa no segundo semestre, em 09 de setembro.
A primeira agência de notação financeira a pronunciar-se este ano sobre Portugal foi a DBRS, que manteve, em 25 de fevereiro, o 'rating' em "BBB" (alto), mas melhorou a perspetiva de 'estável' para 'positiva'.
Já a Fitch, que fixou o 'rating' da República Portuguesa em 'BBB' com perspetiva 'estável', deverá pronunciar-se no dia 06 de maio e posteriormente no dia 28 de outubro.
A última agência a avaliar Portugal deverá ser a Moody's, que em 17 de setembro de 2021 subiu o 'rating' do país de 'Baa3' para 'Baa2' -- o penúltimo grau da categoria de investimento de qualidade --, com perspetiva 'estável'. A agência norte-americana tem previsto pronunciar-se no dia 20 de maio e no dia 18 de novembro.
O 'rating' é uma avaliação atribuída pelas agências de notação financeira, com grande impacto para o financiamento dos países e das empresas, uma vez que avalia o risco de crédito.
Os calendários das agências de 'rating' são, no entanto, meramente indicativos, podendo estas optar por não se pronunciarem nas datas previstas ou avançarem com uma avaliação não calendarizada.
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