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Laos inaugura ferrovia. Será "armadilha de endividamento" da China?

O Laos, país que faz fronteira com a China, Vietname e Tailândia, vai inaugurar esta semana uma linha ferroviária avaliada em mais de 5,2 mil milhões de euros, acumulando dívidas potencialmente insustentáveis para com Pequim.

Laos inaugura ferrovia. Será "armadilha de endividamento" da China?

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Notícias ao Minuto

07:51 - 02/12/21 por Lusa

Economia Laos

A linha, que liga a capital do Laos, Vienciana, à cidade chinesa de Kunming, é uma das centenas de projetos da iniciativa 'uma faixa, uma rota'.

Lançado pela China, o megaprojeto de infraestruturas visa expandir o comércio, através da construção de portos, linhas ferroviárias ou autoestradas, visando reconfigurar as atuais rotas comerciais na região do Pacífico, Europa e África.

Com 1.035 quilómetros, a ligação ferroviária vai servir para o transporte de carga, inicialmente, sem nenhum passageiro regular, devido às medidas de prevenção contra a covid-19.

Críticos da iniciativa chinesa apontam para um aumento problemático do endividamento, que em alguns casos coloca os países numa situação financeira insustentável.

A ligação entre Kunming e Vienciana vai fazer, no futuro, parte de uma malha ferroviária mais ampla, que vai conectar a China com a Tailândia, Vietname, Mianmar, Malásia e Singapura.

Isto daria ao sul da China mais acesso aos portos e mercados de exportação.

Os líderes do Laos esperam que a linha ferroviária dinamize a sua economia isolada, conectando-a à China e a mercados distantes, como a Europa.

No entanto, para a nação com sete milhões de habitantes, os custos parecem perigosamente altos, apontam analistas.

A linha ferroviária vai "gerar retornos económicos muito positivos" para a China, e possivelmente para outros países, mas é mais difícil ver "exatamente quais serão os benefícios económicos" para o Laos, apontou Scott Morris, do Centro para o Desenvolvimento Global, com sede em Washington.

Com apenas 21 paragens no Laos, a linha foi projetada para atender às necessidades chinesas de chegar mais rapidamente aos portos estrangeiros, disse Morris.

Uma ligação que servisse sobretudo as áreas rurais do Laos teria de ter mais estações, para ligar os agricultores aos mercados.

"Este é, essencialmente, um projeto de infraestrutura pública da China noutro país", resumiu o especialista.

O segmento de 418 quilómetros da linha Kunming -- Vienciana, no Laos, vai ser operado pela Laos - China Railway Co., uma 'joint venture' entre o grupo China Railway e duas outras empresas estatais chinesas com uma participação conjunta de 70%, e uma empresa estatal do Laos, que ficou com os restantes 30%.

O dinheiro emprestado representa 60% do investimento na linha ferroviária, de acordo com os dois governos.

Esta carga de dívida é pesada e o "risco de incumprimento pode ser bastante alto", apontou Laura Li, especialista em financiamento de infraestruturas da agência de notação financeira S&P Global Ratings.

O Laos pode ser forçado a assumir o pagamento da dívida total de 3 mil milhões de euros da 'joint venture' para manter a linha a funcionar, se a empresa entrar em incumprimento e os parceiros chineses decidirem não colocar mais dinheiro, apontaram Ammar A. Malik e Bradley Parks, num relatório para a AidData, projeto que segue o investimento externo chinês no Virginia's College of William & Mary.

Isto é o equivalente a quase um quinto da produção económica do Laos no ano passado.

A dívida pendente do país, grande parte contraída junto de bancos estatais chineses, é igual a cerca de dois terços da sua produção económica anual.

O Laos está classificado entre os países pobres considerados como sendo de "alto risco de endividamento".

As ligações ferroviárias podem aumentar o rendimento, ligando as áreas rurais às cidades e aos mercados de exportação, mas estes ganhos podem levar décadas a ser atingidos, enquanto as ferrovias exigem grandes gastos com equipamento, terrenos e construção.

"O Laos colocou-se numa posição em que, se a ligação ferroviária não der lucros, terá problemas reais de endividamento", disse Greg Raymond, especialista em assuntos do sudeste asiático da Australian National University.

O Laos foi uma das economias que mais cresceu na última década, mas continua a ser uma das mais pobres.

A produção económica média por pessoa mais do que duplicou, desde 2010, fixando-se nos 2.600 dólares (2.295 euros).

A ligação tem potencial para aumentar a receita em 21%, a longo prazo, mas se for acompanhada por outras reformas para facilitar o comércio e os negócios, disse o Banco Mundial, num relatório, no ano passado.

A ligação ferroviária "vai fazer com que o Laos deixe de ser geograficamente desfavorecido, aproveitando a sua localização para se converter num centro regional terrestre", disse o vice-presidente da Câmara Nacional de Comércio e Indústria do Laos, Valy Vetsaphong.

Leia Também: China. EUA dizem que procura de hipersónicas aumenta tensões na região

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