Na quarta-feira, num comunicado conjunto, assinado pelos diretores de informação, a RTP, SIC e TVI adiantam que "caso seja aprovada uma lei, que à revelia do texto constitucional, interfira na liberdade editorial", estas "terão de abdicar, novamente, de fazer a cobertura das campanhas eleitorais ou realizar debates entre candidatos, mantendo os critérios editoriais adotados nas eleições autárquicas".
Em causa estão as atuais propostas de lei do PSD/CDS-PP e do PS relativos à cobertura jornalística das eleições e o pluralismo em período eleitoral.
Contacto pela Lusa, o diretor do Correio da Manhã TV (CMTV), Octávio Ribeiro, disse que a estação vai fazer a cobertura das eleições europeias.
"A CMTV vai fazer a cobertura, cumprindo os seus critérios jornalísticos. Ainda estamos a estudar como o faremos", disse, mas garantiu que a televisão estará nos "eventos públicos que interessem aos cidadãos portugueses", aplicando "o nosso critério editorial".
Octávio Ribeiro defendeu que "é preciso olhar para a legislação da cobertura [eleitoral] à luz do século XXI".
Enquanto "não se reconstruir todo o edifício legislativo, as coisas não estarão corretas, o mundo mudou e a legislação tem de acompanhar a mudança com bom senso, sob pena de não ser cumprida", acrescentou o diretor da CMTV.
Também o diretor do Económico TV, António Costa, disse que a estação irá acompanhar as eleições.
"Vamos fazer a cobertura das europeias, sim, no respeito obviamente pelos critérios jornalísticos e editoriais. Creio que as europeias ocorrem num momento particular da Europa e, por isso, impõe-se mesmo o acompanhamento deste ato eleitoral", explicou António Costa.
Igual posição tem o Porto Canal, que pretende fazer entrevistas durante a campanha eleitoral e, "pelo menos, um debate", segundo o diretor-geral, Júlio Magalhães.
"Ainda estamos a decidir a [cobertura]", mas esta não será feita "de forma obrigatória", disse à Lusa Júlio Magalhães.
Para o diretor-geral do Porto Canal a cobertura tem de assentar em "critérios editoriais" e não apenas numa obrigação.
"É altura de podermos ter algum controlo editorial" sobre as campanhas eleitorais, acrescentou.
"Em plena democracia, 40 anos depois do 25 de Abril, vão ser votados na Assembleia da República dois projetos de lei que representam uma ingerência inaceitável e perigosa do poder político na liberdade editorial, e que conduzirão a uma lei que permite ao Estado interferir nas redações dos jornais, da rádio e da televisão", apontaram a RTP, SIC e TVI no comunicado.
Os três canais generalistas lembraram que nas últimas autárquicas decidiram não fazer debates entre candidatos, nem a cobertura das atividades de campanha porque o "enquadramento legislativo relativo à atividade dos órgãos de comunicação social e período eleitoral é desajustado, confuso e interfere, de forma inaceitável, na liberdade editorial".