"Temos tradição de fazer coproduções com Espanha, mas com a RTVE nunca tínhamos feito. [A coprodução internacional] abre uma janela de oportunidade para equipas técnicas, de produção e artísticas portuguesas e têm a vantagem de poderem integrar um elenco internacional. Esse ambiente de partilha de um projeto é muito importante para a maturidade das nossas equipas", afirmou.

José Fragoso falava à Lusa num dia de visita ao palco de rodagem da série de ficção "Crimes submersos", com realização de Joaquín Llamas e Oriol Ferrer, e cujas filmagens têm decorrido nas últimas semanas na região de Lisboa, depois de terem acontecido em Espanha.

"Crimes submersos", que conta ainda com assinatura das produtoras Coral Europa e Atlantia Media, terá oito episódios, junta equipas técnicas e elenco dos dois lados da fronteira, nomeadamente os portugueses Marco d'Almeida, Margarida Marinho e Rita Loureiro e os espanhóis Elena Rivera e Rodolfo Sancho.

A RTP suportará um quarto do financiamento total, mas nem a RTP nem a Coral Europa adiantam valores totais de orçamento.

O diretor-geral da Coral Europa, Bruno Santos, explicou à agência Lusa que Portugal vive um bom momento na produção de ficção audiovisual, mas com apoios: "Se olharmos há dez anos, há cinco anos, o comprometimento das autoridades portuguesas tem ido num crescendo. Só assim é que se cria indústria. É impossível um mercado como o português se desenvolver sem a existência desses apoios".

O diretor de programas da RTP1 recorda que para Portugal há sobretudo vantagens em ter coproduções como outros países: "Há mais tempo para escrever, para filmar, capacidade para ter elencos fortes e robustos, ter tempo para editar. A ficção é tempo. Quando temos menos dinheiro fazemos mais à pressa e quando fazemos mais à pressa fazemos pior".

Com Espanha, há outras particularidades: "Partilhamos uma geografia, há plataformas que estão a trabalhar nos dois países, há a possibilidade de criar histórias dos dois lados. O efeito de proximidade garante facilidade em projetar em comum", afirmou José Fragoso.

No caso de "Crimes Submersos", a ficção tem como ponto de partida "um período de seca extrema que atingiu o sul da Península Ibérica". A descida histórica do nível das albufeiras pôs a descoberto uma povoação onde são descobertos dois esqueletos humanos, que levam à abertura de uma investigação policial, lê-se na sinopse.

Além de "Crimes Submersos", a RTP está envolvida - em diferentes escalas - com pelo menos dois outros projetos ibéricos: A segunda temporada da série "Auga Seca", rodada este ano, numa coprodução com a SPi, a Portocabo, a HBO e a Televisión de Galicia, e a série "Operação Maré negra", atualmente em rodagem, envolvendo a Ficción Producciones, a Ukbar Filmes e a Amazon Prime Video.

Sobre a estratégia da RTP nesta área, José Fragoso lamenta que não tenha sido possível trabalhar com o Brasil: "Tem sido muito difícil nestes últimos anos, houve grande alterações na área cultural brasileira, depois meteu-se a pandemia, tem inviabilizado que os projetos possam andar".

No caso das produções de audiovisual em que a RTP está atualmente envolvida, José Fragoso refere que 2021 é um ano de retoma da atividade, pondo em curso projetos que estavam parados desde 2019 e 2020 por causa da pandemia.

Atualmente, a estação pública de televisão está na fase final de análise de cerca de 600 projetos recebidos no âmbito das consultas de conteúdos de cinema e audiovisual, abertas na primavera.

"Recebemos este ano mais ou menos o que recebemos antes, animação, magazines, documentário, séries de ficção, filmes. Em setembro começamos a falar com os produtores", disse.

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