Livre comércio em África ajuda a combater pandemia
A diretora do departamento de pesquisa sobre África e Médio Oriente do banco Standard Chartered considerou hoje que o livre comércio no continente africano será fundamental para impedir que a pandemia de covid-19 tenha um efeito prolongado.
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Economia Coronavírus
"A grande preocupação é a capacidade de endividamento dos países africanos, vai haver necessidade de implementar reformas e acelerar o crescimento, e neste contexto o acordo de livre comércio pode ser importante para impedir que os efeitos da covid-19 sejam uma cicatriz permanente", disse Razia Khan, durante um seminário difundido a partir de Londres sobre as potencialidades do acordo.
"É errado pensar que tudo mudou desde 01 de janeiro, mas a integração regional vai, com o tempo, criar escala e abrangência para atrair mais investimento e terá um papel importante de não permitir que a crise que estamos a passar possa ter um impacto muito significativo nas perspetivas de crescimento a longo prazo", acrescentou a banqueira.
Lembrando as retiradas de capital em várias regiões e a grande volatilidade do mercado, Razia Khan afirmou que as respostas políticas foram variadas, desde a descida das taxas de juro por parte dos bancos centrais até à disponibilização de estímulos por parte dos governos, mas salientou que no caso africano a pouca margem orçamental traduziu-se num apoio mais reduzido às economias.
"Uma das preocupações da integração de diferentes economias é que não temos a infraestrutura para tornar as trocas comerciais mais significativas logo no princípio, mas os países soberanos podem endividar-se nos mercados usar as poupanças disponíveis em várias geografias", salientou a analista.
Um dos aspetos positivos para África neste contexto é que a China conseguiu manter o crescimento económico mesmo em contexto de pandemia.
"A China conseguiu crescer de forma robusta mesmo com a pandemia de covid-19, por isso as matérias-primas africanas estão bem encaminhadas para ter um aumento de preços, e é justo dizer que estas economias já estão a ser beneficiadas, mas o problema de fundo é que ainda estão fechadas na qualidade de produtoras de matérias-primas, em vez de estarem a exportar produtos acabados ou refinados", concluiu Razia Khan.
Durante o seminário 'online', o advogado ganês David Ofosu-Dorte, cuja empresa faz parte da iniciativa Africa Champions, reconheceu que muitos empresários mostram algum ceticismo sobre a eficácia do acordo, mas salientou que os objetivos genéricos são de saudar.
"Há algum ceticismo sobre a união económica, já que muitos lembram-se das tentativas que não tiveram sucesso, temos alguns problemas sobre a capacidade física de movimentar os bens e produtos e falta de acesso a capital, mas o acordo é uma nova oportunidade para as pessoas conseguirem suplantar esses problemas", apontou o advogado.
"Entre os nossos clientes, há 100% que conhece o acordo, mas apenas 45% diz estar preparado para tirar proveito das potencialidades que o acordo oferece", referiu David Ofosu-Dorte, chamando a atenção para a necessidade de mostrar às pequenas e médias Empresas a diferença entre crescer em escala ('upscaling', em inglês) e modernizar os processos de produção ('upgrading').
A Área de Livre Comércio Continental Africana (ALCCA) entrou em vigor em 01 de janeiro, com o objetivo de facilitar o comércio transfronteiriço através da redução ou eliminação de barreiras alfandegárias e tornar mais simples a circulação de pessoas e capital e a promoção do investimento e da industrialização do continente.
Vários países mostraram-se preocupados com as perdas de receita que poderiam surgir com a diminuição das tarifas alfandegárias, mas um estudo do Banco Mundial mostrou que a receita a curto prazo da redução das taxas só cairia menos de 1,5% para 49 dos 54 países africanos, com o total das receitas a cair menos de 0,3% em 50 países que entraram no acordo.
O acordo de livre comércio em África cria um mercado único de 1,3 mil milhões de pessoas com um Produto Interno Bruto (PIB) de 3,4 biliões de dólares, o equivalente a cerca de 2,7 biliões de euros, e abrange a grande maioria dos países africanos.
África registou um total de 86.898 óbitos, e entre 3.473.940 infetados pelo novo coronavírus, de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nos 55 Estados-membros da organização desde o início da pandemia.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.159.155 mortos resultantes de mais de 100 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A covid-19 é uma doença respiratória causada por um novo coronavírus (tipo de vírus) detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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