Livre comércio em África vai mudar economias do continente
O economista-chefe do Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank) disse hoje, em entrevista à Lusa, que o acordo de comércio livre no continente é um projeto de longo prazo com o potencial para mudar todas as economias africanas.
© Lusa
Economia África
O acordo sobre a Área de Livre Comércio Continental Africana (ALCCA), que entrou hoje em vigor, "vai mudar o jogo, mas é justo dizer que o impacto desta reforma histórica, cujos efeitos podem mudar a face das economias africanas, não será imediato", disse Hippolyte Fofack, em entrevista à Lusa a partir do Cairo, a sede do Afreximbank.
"Hoje haverá uma eliminação das tarifas para 90% dos bens transacionados no continente, um valor que acabará por subir para 97%", apontou o economista, nascido nos Camarões, salientando que "o simples facto de se saber que será possível produzir num país e vender noutro já possibilita uma mudança estratégica".
"Há várias empresas a posicionarem-se para tirarem partido de poderem produzir no Ruanda e venderem no Quénia ou na Nigéria, mercados muitos maiores, sem serem penalizados em termos de impostos e taxas", disse Fofack, exemplificando com a Volkswagen, que no ano passado abriu uma fábrica no Ruanda.
"Estão a posicionar-se para acederem a mercados maiores no continente, e isso muda a mentalidade, porque em vez de investimentos de curto prazo, que eram uma grande limitação ao desenvolvimento africano, optam por um 'capital paciente', investem a 10 ou 20 anos, e isso será fundamental", acrescentou.
Outra das grandes alterações que Fofack salientou tem a ver com as regras de origem, uma das especificidades do acordo, que implica que o produto é realmente feito em África e não apenas importado por um país para ganhar um livre-trânsito isento de impostos alfandegários para o resto do continente.
"Aplicando-se as regras de origem desde o início, isso significa que o 'comércio de trânsito', em que um país importa apenas para exportar para outros mercados maiores no continente, vai acabar por desaparecer, e como os bens vão desaparecer, esperamos que se aplique o modelo da substituição das importações, passando a ser esse país o produtor, aumentando com isso a manufatura de valor intensivo e, com isso, a industrialização de África", argumentou Fofack.
"Antes que nos demos conta, África entra num ciclo virtuoso e aí a questão passará a ser se temos a liderança política certa para investir na população e, como aconteceu com a Ásia, ganhar a transição demográfica", concluiu, salientando o enorme potencial deste continente jovem.
O acordo de livre comércio em África cria um mercado único de 1,3 mil milhões de pessoas com um Produto Interno Bruto de 3,4 biliões de dólares, o equivalente a cerca de 2,7 biliões de euros, e abrange a grande maioria dos países africanos.
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