Questionado - durante a conferência 'online' "A Banca no pós-covid-19", promovida pelo Dinheiro Vivo e TSF - sobre qual deve ser a estratégia do recentemente criado Banco Português de Fomento, José João Guilherme considerou que "tem de ter um objeto bem definido e, sobretudo, ser capaz de trabalhar" com a banca comercial.

"Porque não creio que o Banco de Fomento chegue assim num 'click' às empresas, 100% das quais trabalham com algum de nós. Portanto, tem de ser através de algum de nós que o Banco de Fomento pode ser ativo e pode chegar, de facto, às empresas", acrescentou.

Embora revelando que tem já havido "conversas" nesse sentido com a banca comercial, o administrador da CGD considera que "ainda há muito mais caminho a percorrer do que aquele que já foi percorrido".

"Nas tentativas anteriores de criar um Banco de Fomento, sobretudo na segunda encarnação, houve coisas que até nem correram muito mal, tem havido é uma certa descontinuidade. Pode ser que agora [o projeto] ganhe caminho", disse.

Na opinião de José João Guilherme, o facto de Portugal estar hoje integrado na União Europeia implica que "todos os temas da concorrência têm de ser devidamente acautelados", mas a ideia de criar um Banco de Fomento "faz todo o sentido", correspondendo a "um desiderato de política pública para ultrapassar determinado tipo de falhas de mercado".

E, acrescentou, nesse sentido "a Caixa Geral de Depósitos, na qualidade de banco detido pelo Estado, estará disponível para ser um veículo de comercializações e para chegar junto das empresas com as soluções que venham a ser aportadas pelo Banco de Fomento".

Também presente na conferência - a par dos presidentes executivos (CEO) do Millennium BCP e do BPI, do administrador da CGD e do administrador executivo do Santander Miguel Belo de Carvalho - o CEO do Novo Banco, António Ramalho, destacou o papel que o Banco de Fomento pode ter na recuperação da economia no período pós-pandemia.

"Temos de olhar para o pós-covid [...] e ter como foco o nosso trabalho no pós-covid, porque o modelo de moratórias que temos é um sistema defensivo da nossa capacidade produtiva. Mas vai haver necessidade de novos investimentos, de novas reestruturações e de novas consolidações e teremos de ver as capacidades que cada um de nós vai ou não poder introduzir no mercado. Daí que o Banco de Fomento seja um projeto que deve ser acalentado e regado, porque pode ser um contributo para algumas falhas", sustentou.

Considerando "normal que seja difícil" lançar um projeto como o Banco de Fomento, António Ramalho disse que, apesar de hoje não serem tantas as falhas de mercado da banca comercial como as que existiam aquando do antigo Banco de Fomento Nacional, o facto é que esta não consegue, de facto, "responder a todas as necessidades do mercado".

Neste sentido, o banqueiro antevê "grandes oportunidades de um trabalho mais próximo" com o Banco de Fomento, que já tem vindo "a conversar com todos [os bancos em Portugal] e vai, certamente, servir como mais um instrumento" de apoio à economia.

"Estou convencido que o Banco do Fomento neste momento já tem as suas linhas traçadas, tem o seu investimento realizado e esperemos que tenha capacidade de capitalização -- que é sempre a dúvida nestas coisas e vai ser muito necessária - e vai, seguramente, contribuir para 2021", rematou.

Resultante da fusão de três instituições (a absorção na SPGM - Sociedade de Investimento da PME Investimentos e da IFD - Instituição Financeira de Desenvolvimento), o Banco Português de Fomento iniciou formalmente funções no passado dia 03, com uma equipa de gestão provisória que integra os quadros oriundos destes vários organismos.

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