"Hoje tivemos pela primeira vez uma intervenção do representante do BCE [nas reuniões com os parceiros sociais], em que reafirmou a tese de que o BCE não deve emprestar dinheiro aos países mas aos bancos, porque o risco de emprestar aos países é maior do que emprestar aos bancos", disse o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) à saída da reunião com a troika, que considerou esta uma "postura extremamente peculiar".
Também o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, destacou nas declarações aos jornalistas esta intervenção inédita de Rasmus Ruffer, representante do BCE e o único que faz parte da equipa original da 'troika'.
"Ouvimos o representante do BCE dizer que os juros de 0,25% que [o BCE] aplica ao setor financeiro são desse valor porque [o setor financeiro] é mais credível do que os Estados. Isto faz sentido? Não, só na cabeça destes senhores", afirmou Arménio Carlos aos jornalistas.
O dirigente sindical criticou, por um lado, que o BCE empreste dinheiro aos bancos a juros de 0,25% quando estes "cobram 6% ou 7%" para financiar o Estado e, por outro lado, que a 'troika' cobre juros entre 3% a 3,5% pelos 78 mil milhões de euros que emprestou a Portugal quando uma das entidades da 'troika', o BCE, cobra aos bancos 0,25%.
"É um roubo que fazem ao povo português e ao nosso país", afirmou Arménio Carlos.
A missão da troika (composta por Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) está em Portugal desde 04 de dezembro para o décimo exame regular ao programa de ajustamento.
A equipa da troika é composta por Subir Lall, do FI, Rasmus Ruffer, do BCE, e John Berrigan, como representante da Comissão Europeia.
Estes responsáveis reuniram-se hoje na sede do Conselho Económico e Social (CES) com os representantes das centrais sindicais, o secretário-geral da CTGP, Arménio Carlos, e a presidente da UGT, Lucinda Dâmaso, e os representantes dos patrões, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), António Saraiva, e o presidente da CCP, Vieira Lopes.