A expansão do Abanca em Espanha -- detido e liderado por Juan Carlos Escotet Rodríguez, que é também dono do grupo bancário venezuelano Banesco -- ganhou fôlego na sequência da crise financeira, aproveitando as debilidades do setor bancário espanhol, quando em 2012 comprou o Banco Etcheverría por 100 milhões de euros (compra e investimento).
Este era o mais antigo banco de Espanha (fundado em 1717) e pertencia então ao Novagalicia.
Em 2013, seria a vez de comprar o banco Novagalicia, numa corrida em que competiu e ganhou aos grandes congéneres espanhóis (Caixabank, BBVA e Santander), revelando a determinação em fazer crescer o negócio em Espanha.
Então, foi acordado um pagamento faseado de 1.003 milhões de euros (40% no imediato e 60% até 2018) ao fundo espanhol de reestruturação bancária, que era o dono do Novagalicia, uma vez que este banco nascido das fusões das caixas de aforro galegas Caixanova e Caixa Galicia tinha sido intervencionado pelo Estado espanhol (numa injeção de capital de 9.000 milhões de euros, de acordo com a imprensa espanhola).
Em 2014, segundo as contas consolidadas do Abanca disponíveis no 'site' do Banco de Portugal, o grupo tinha mais de 500 agências na Galiza, cerca de 100 no resto de Espanha e ainda operações em Portugal e Suíça (quatro agências e uma agência, respetivamente), além de escritórios de representação em vários outros países (México, Panamá, Venezuela, Argentina, Suíça, Alemanha, Grã-Bretanha e França).
Até 2018, o Abanca manteria em Portugal uma operação discreta, com quatro agências (Braga, Lisboa, Porto e Viana do Castelo) e 45 trabalhadores, focando-se nas pequenas e médias empresas (PME).
Nesse ano, perante a intenção do Deutsche Bank de vender operações no exterior face à crise que ainda se mantém (o grupo alemão está em reestruturação e são esperados milhares de despedimentos), o Abanca compra a atividade de retalho do Deutsche Bank em Portugal e soma mais 41 agências e 330 funcionários, num negócio cujo valor não foi divulgado.
O objetivo, disse Escotet em abril de 2018, era fazer crescer o negócio nas empresas, aumentando a concessão de crédito, e na banca 'private' (destinada a clientes com altos rendimentos).
Menos de dois anos depois, esta semana, o Abanca acordou, em tempo recorde, comprar 95% do EuroBic, o banco de capitais angolanos cuja mudança de propriedade foi forçada pelas revelações do 'Luanda Leaks', no final de janeiro.
O negócio, cujo preço não foi divulgado, implica a compra, pelo Abanca, das participações de Isabel dos Santos (filha do ex-Presidente de Angola José Eduardo dos Santos, que detém 42,5% do capital), mas também do seu sócio luso-angolano Fernando Teles (37,5%).
Atualmente, o grupo bancário espanhol (com sede na Galiza) tem em Portugal 70 agências, 500 colaboradores e mais de 80.000 clientes, segundo fonte oficial.
Quando for concretizado o negócio, a estes vão somar-se os 1.482 trabalhadores e 184 agências do EuroBic, que servem 266.670 clientes.
No total, o Abanca ficará com uma rede comercial de mais de 250 agências que passa a servir todas as regiões de Portugal.
O EuroBic nasceu em 2008 de capitais angolanos e em 2014 ficou com a atividade bancária do BPN por 40 milhões de euros, o banco nacionalizado em 2008 que, segundo o Tribunal de Contas, custou ao Estado português 5.000 milhões de euros entre 2011 e 2018.
O EuroBic é liderado por Fernando Teixeira dos Santos, que era ministro das Finanças do governo PS de José Sócrates quando foi decidida a nacionalização do BPN.
Para Escotet, a compra do EuroBic "reforça a aposta ibérica" do grupo e tem um "sentido estratégico", disse aos jornalistas na segunda-feira, numa quinta da família em Pontevedra, Galiza.
Filho de pais espanhóis emigrados na Venezuela, nascido em Madrid por casualidade em 1959, Juan Carlos Escotet Rodríguez tem quatro filhos e oito netos.
Segundo a revista Forbes -- que em 2019 o considerou a 546.ª pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna avaliada em 3.800 milhões de dólares (menos 600 milhões de dólares do que em 2018) --, Escotet começou com 17 anos como paquete no Banco Union, enquanto estudava economia em Caracas, fundou uma corretora em 1986 a que somou serviços bancários em 1991 até construir um dos maiores grupos financeiros sul-americanos com operações na Venezuela mas também nos Estados Unidos da América, Panamá, Porto Rico, República Dominicana e Colômbia.
Segundo a imprensa local da Venezuela, apesar de ter construído parte do seu império antes o regime chavista, alegadamente Escotet teve durante anos boas relações com o regime, de que mais recentemente se afastou.
Em abril 2018, num encontro com jornalistas portugueses (sobre a compra do Deutsche Bank Portugal), Juan Carlos Escotet recusou falar da política do seu país, perante as constantes ameaças do governo de Nicolas Maduro de nacionalizar o Banesco.
O banco seria mesmo alvo de uma intervenção administrativa do governo venezuelano em maio de 2018, sob as acusações de "ataque contra a moeda Venezuelana" e que levou à detenção temporária de 11 dirigentes. A intervenção no banco durou 10 meses, tendo regressado a Escotet em março de 2019, que sempre qualificou a medida de "política".
Nos últimos anos, o Abanca tem reforçado e imposto a sua marca na Península Ibérica.
Em maio de 2017, comprou por 37 milhões de euros o Popular Servicios Financeiros (especializado ao crédito ao consumo e que opera tanto em Espanha como em Portugal) ao Banco Popular, grupo que seria resgatado no mês seguinte pelas autoridades espanholas e vendido por um euro ao Santander.
Já em 2019, o Abanca concretizou a compra da filial da Caixa Geral de Depósitos (CGD) em Espanha, o Banco Caixa Geral, por 384 milhões de euros, somando mais 110 agências à sua rede comercial.
Segundo informações divulgadas esta segunda-feira, o Abanca é atualmente a "sétima entidade espanhola por fundos próprios e a entidade financeira líder do setor no noroeste da Península Ibérica", tendo 800 agências em 12 países da Europa e do continente americano e mais de 6.000 trabalhadores.
O volume de negócios ascende a 85.079 milhões de euros, tendo 36.792 milhões em créditos e 48.286 milhões em recursos de clientes.
O grupo Abanca fechou 2019 com lucros de 405 milhões de euros.
Além do setor bancário, o Abanca tem interesses noutros setores, nomeadamente na comunicação social.
Segundo a imprensa, o Abanca (atualmente com 5% da Media Capital, dona da TVI) deverá vender a sua posição no âmbito da Oferta Pública de Aquisição (OPA) lançada pela Cofina (que detém o Correio da Manhã) e depois investir o mesmo valor numa posição na Cofina.