Portugal deve ver investimento chinês a longo-prazo e com contrapartidas
O último governador português de Macau considera que o investimento chinês realizado em Portugal resultou da "fragilidade" da economia portuguesa nos últimos anos e defende trabalho a longo prazo, acautelando volume, áreas e obtendo "contrapartidas".
© Global Imagens
Economia Vasco Rocha Vieira
Para o ex-governador, a sobreviver a uma crise económica que obrigou o país a recorrer à ajuda externa ('troika'), "Portugal não teve, nessa altura, o espaço de manobra suficiente para poder definir também o que é que queria em contrapartida".
"O contexto da nossa fragilidade, do ponto de vista financeiro, obstou a muitas coisas", referiu.
Naquela altura "a razão principal, não a única" que terá levado o país a negociar a estes investimentos, foi "minorar a dívida, conseguir melhorar o défice, conseguir que a situação difícil, do ponto de vista financeiro, melhorasse".
Esse objetivo era necessário referiu Rocha Vieira, mas "é pontual. De curtíssimo prazo" e "o investimento chinês deve ser visto no longo prazo", afirmou.
Além disso, na opinião do ex-governador de Macau, investimentos da China, devem ser também entendidos como investimento do Estado chinês.
"Grande parte do investimento chinês, vem de empresas do Estado. O Estado tem o capital. E, portanto, o Estado chinês não faz as coisas por acaso. Tem objetivos", sublinhou na entrevista à Lusa, a propósito do 20.º aniversário da transição da administração do território de Macau de Portugal para a China, que se celebra no próximo dia 20.
"O Estado chinês tem muitos objetivos, tem objetivos de aprender com os outros, de conseguir áreas fundamentais que lhe interessam para o seu desenvolvimento e para a sua presença no mundo em expansão, como seja o caso da energia, ou dos seguros, ou da saúde, onde estão, ou da própria banca. Tem esses objetivos", enumerou o também general do exército português.
Por isso, defendeu que "em qualquer dos casos (...) se deve acautelar, o volume, as áreas desse investimento e fazê-lo de uma forma em que haja contrapartidas, e em que os nossos interesses se conjuguem com os interesses dos chineses".
"Todos os países têm os seus objetivos e têm que saber defender os seus objetivos", referiu o último governador português de Macau, que agora integra o conselho geral e de supervisão da EDP, onde uma empresa chinesa é acionista de referência, não tendo, porém sido nomeado para o cargo por esse acionista.
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