"Não creio que seja possível porque hoje em dia temos bancos centrais que perceberam a importância dos mercados financeiros e estão dispostos a intervir em caso de queda acentuada nos preços", comentou Pedro Lino, economista da Dif Broker e da Optimize, em declarações à Lusa.
"No contexto atual parece-me pouco provável", afirmou também Filipe Garcia, economista da IMF -- Informação de Mercados Financeiros, acrescentando que, apesar dos "sinais um pouco por todo o lado de que pode haver uma recessão, não parece haver indicadores objetivos que levem a pensar num 'crash'".
"Apesar de a economia nos dar indícios de abrandamento, não prevemos que venha a acontecer uma crise tão acentuada como a de 1929", comentou, no mesmo sentido, Nuno Caetano, analista da corretora Infinox.
O especialista recordou que a quinta-feira negra, em 24 de outubro de 1929, quando o índice industrial Dow Jones afundou 11% na abertura da sessão, ocorreu depois de uma década de grande prosperidade norte-americana, "onde a produção industrial e as exportações cresceram muitíssimo durante a Primeira Grande Guerra".
"Com a Europa devastada, os Estados Unidos tiveram condições para prosperar bastante durante os loucos anos 20", frisou, acrescentando que "o enquadramento económico atual é bastante diferente do de há 90 anos".
"Há que ressalvar que vivemos numa economia mais global, com potências Orientais em forte crescimento, e que vivemos também uma crise há 10 anos", acrescentou Nuno Caetano.
Em 28 e 29 de outubro de 1929, que ficaram na história como a segunda e terça-feira negras, o Dow Jones desceu mais de 13% e 11%, respetivamente.
Questionados sobre se estamos a aproximar-nos de um novo tombo nas bolsas, Filipe Garcia respondeu que, "em rigor, não há indicações objetivas de que estejamos perto de um 'crash'".
O economista explicou que "a euforia à volta da bolsa é quase inexistente e, segundo as métricas disponíveis, os níveis de alavancagem estão longe de níveis já observados", apesar de referir que "é verdade que os índices de Nova Iorque estão perto de máximos, mas a maioria das ações que os compõe não estão".
"Por outro lado, na Europa e Ásia estamos longe de máximos e de euforia. Claro que poderemos ter uma queda das ações em breve, mas não um 'crash' na perspetiva de que temos uma bolha e que está prestes a esvaziar. Não há, objetivamente, nada de factual que nos leve a essa conclusão", concluiu Filipe Garcia.
Também Pedro Lino não acredita que possa ocorrer um novo 'crash', "apesar dos mercados estarem a transacionar em níveis elevados".
"As correções que temos vindo a assistir nos últimos três anos, são por vezes violentas, pela rapidez como ocorrem, mas não têm excedido os 20%", indicou Pedro Lino.
Nuno Caetano referiu, por seu turno, que "as economias vivem de ciclos e, depois de uma década da última grande crise e de crescimento económico pós-crise, estamos perante alguns indicadores que nos fazem acreditar que possamos estar perante um período mais difícil para a economia".
Questionados sobre a razão pela qual outubro é o mês no qual se têm verificado as grandes quedas na bolsa, Pedro Lino indicou que "outubro tem vindo a ser o mês onde os 'crashes' se têm verificado, mas não é, estatisticamente falando, um mês de perdas, bem pelo contrário".
O economista recordou que, desde 1950, houve 42 anos de subidas e 27 descidas do índice S&P 500 em outubro, sendo que o retorno médio, em outubro, nos últimos 69 anos foi de 0,66%.
"No entanto é o mês que regista maior volatilidade no ano, e 2019 não será exceção até pelo que já vemos do mês. Existe esta carga psicológica no mês de outubro uma vez que os maiores 'crashes' foram verificados neste mês", adiantou o economista da Dif Broker e da Optimize.
"A ideia que tenho é que se trata sobretudo de um viés por terem ocorrido em outubro algumas quedas importantes como em 1929, 1987 e 2008. Mas já houve quedas importantes noutros meses e outubro com bons períodos de alta. Há quem atribua um eventual efeito outubro -- sobretudo na volatilidade -- à existência de eleições nos EUA de dois em dois anos", comentou Filipe Garcia.
No mesmo sentido, também Nuno Caetano não encontra "uma correlação direta com as grandes perdas nas bolsas" ocorrerem no mês de outubro", recordando que "uma das maiores crises financeiras da história, a crise do 'subprime', desencadeou-se no mês de agosto", sendo o dia 09 de agosto de 2007 "a data consensual para o início da crise financeira que abalou o mundo na última década".