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Controlo de emissões de gases na agricultura faz-se evitando excessos

A indústria agropecuária açoriana não é das indústrias mais poluentes, garantem especialistas e agricultores, e o controlo das emissões de gases poluentes faz-se evitando excessos, tanto na alimentação dos animais, como na fertilização dos terrenos.

Controlo de emissões de gases na agricultura faz-se evitando excessos
Notícias ao Minuto

08:49 - 19/10/19 por Lusa

Economia Açores

No contexto europeu, prevê-se, a curto e médio-prazo, um crescimento moderado da produção de leite e carne, "com uma eventual concentração espacial da produção nas regiões com vantagens edafo-climáticas", como as da costa atlântica, das quais os Açores são exemplo, "com 56% do solo ocupado por pastagens e culturas forrageiras", aponta o retrato feito ao setor agrícola pelo Plano Regional para as Alterações Climáticas (PRAC) do arquipélago.

Num plano que prevê a redução das emissões de gases de efeito estufa em mais de 300 mil toneladas, até 2030, traçando 76 medidas, das quais 64 se dedicam à adaptação às alterações climáticas e 12 à mitigação das emissões, o setor da agropecuária, que "tem um peso bastante importante em termos de emissões", é "considerado, na análise do PRAC, como um setor muito relevante em termos de dinâmica económica e social", adiantou a secretária regional da Energia, Ambiente e Turismo, Marta Guerreiro.

Razões para a governante destacar a candidatura ao programa de fundos comunitários Life IP Climaz, que, "se tudo correr bem, e se for aprovada, permitirá um investimento na ordem dos 65 milhões de euros", durante dez anos, e inclui um projeto de investigação, "que se dedica a perceber como é que na agropecuária se pode reduzir as emissões, com algumas mudanças na alimentação dos animais".

Alfredo Borba, diretor do Instituto de Investigação e Tecnologias Agrárias e do Ambiente (IITAA), explicou à Lusa que a alimentação e o tipo de alimentos que se dá aos animais pode, de facto, mitigar as emissões de metano.

A "produção de metano e de outros poluentes provenientes da produção animal, como todos os poluentes emitidos em processos antropogénicos, são processos de ineficiência de utilização. Neste caso, um processo de ineficiência de utilização digestiva. Por isso, manipulando os alimentos através de tratamentos que aumentem a sua digestibilidade, ou através de cortes mecânicos, consegue-se algum aumento da digestibilidade desses alimentos", afirmou o investigador.

Mas há outros recursos técnicos, como a alimentação de precisão, que consiste em "saber quais são as necessidades de um animal num determinado estado fisiológico, e tentar que a alimentação cubra, sem excessos, essas necessidades".

O cientista, que está agora a estudar os efeitos da introdução de incenso ou conteira na alimentação animal, observou que "há diminuição da produção de metano, porque têm elementos químicos que a inibem".

Estas plantas, que são invasoras no arquipélago dos Açores, poderiam ser utilizadas "como alternativa às forragens, como a palha, que é importada quando há escassez de forragens no arquipélago", explicou Alfredo Borba.

Ressalva, no entanto, que o metano não é o único agente poluente produzido pelas explorações agrícolas, mencionando que "os principais poluentes da agricultura são o CO2, que é o que se produz mais, o metano, o azoto e o fósforo", sendo estes dois últimos utilizados como fertilizantes.

Também na fertilização dos solos, é preciso "não dar excessos -- saber do que as culturas precisam e não dar mais que isso".

É com esse princípio de moderação que a Altiprado gere uma exploração de 500 hectares, com cerca de 500 cabeças de gado bovino para produção de leite.

A exploração pertence ao grupo Finançor e está inserida no Programa Leite de Vacas Felizes, que garante que são cumpridos critérios de qualidade, sustentabilidade e bem-estar animal.

Além da pastagem, 150 hectares de área florestal, contribuem, também, para a sustentabilidade da produção, explica o engenheiro João Pacheco, responsável pela produção.

A sustentabilidade passa pela "quantidade de concentrados que se dá aos animais e, tendo como base a pastagem, aquilo que conseguimos produzir na própria exploração".

"O concentrado vem colmatar as necessidades" a que a pastagem não dá resposta "em termos de energia, de vitamina", tendo em conta as necessidades de cada animal, explicou o diretor de produção: "Temos esse cuidado, como temos duas máquinas de ordenha móveis, os agricultores conseguem perceber que este animal precisa de mais, ou aquele de menos -- é uma coisa que consegue ser feita com algum tato".

Algum tato e soluções feitas à medida, adiantou Nicolau Sousa Lima, diretor de qualidade, ambiente e HACCP da Finançor Agro-Alimentar, que produz alimentos compostos para animais: "A fábrica das rações tem licença ambiental e fornece rações com uma formulação específica para as necessidades dos animais do grupo", funcionando num sistema de "economia circular, que reaproveita subprodutos de outras indústrias, como o biodiesel ou indústrias alimentares".

Por funcionar numa grande área, a Altiprado não tem "grande necessidade de usar adubações e, essencialmente, são à base de fósforo", que não é lixiviado, garantindo a manutenção da qualidade do solo, avançou João Pacheco.

Quando comparada com outras indústrias e outras práticas agrícolas a nível mundial, a agricultura nos Açores "é menos poluente", garante o investigador Alfredo Borba.

Uma posição reiterada por João Pacheco: "Se há alguém que faça alguma coisa bem, modéstia à parte, somos nós, nos Açores, pela forma como levamos a produção animal e conseguimos interagir com o resto do meio ambiente, com a própria ilha, não fôssemos nós os principais visados dos problemas que daí advêm, porque cá vivemos e aqui queremos continuar", concluiu.

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