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"Questione as rotinas, as relações. Tem de jantar fora todos os dias?"

O Notícias ao Minuto falou com Rafaela Garcez, consultora certificada pela Marie Kondo, a especialista em organização pessoal mais conhecida do mundo.

"Questione as rotinas, as relações. Tem de jantar fora todos os dias?"
Notícias ao Minuto

09:12 - 24/07/19 por Beatriz Vasconcelos

Economia rafaela garcez

Marie Kondo veio revolucionar a forma como se organiza através do KonMari. O sucesso deste método deu origem, inclusive, à série 'Marie Kondo: A Magia da Arrumação' transmitida pela Netflix, que mostra como é que qualquer pessoa pode transformar a sua vida através da organização, porque "casa arrumada, mente arrumada", como escreve o Financial Times.

A especialista em organização pessoal mais conhecida do mundo começou a dar formação e a certificar consultoras pelo mundo fora. E o Notícias ao Minuto conversou com Rafaela Garcez, uma empreendedora portuguesa que viajou até Nova Iorque para se formar com Marie Kondo.

Atualmente, Rafaela Garcez é 'consultora de bronze' na escala de certificação da Marie Kondo, desenvolve a sua atividade em Lisboa e acredita que a organização é uma "chave" para a felicidade. Sobre o método KonMari, Rafaela considera que mais do que arrumar a casa, é uma forma de desenvolvimento pessoal que contribui para melhorar o nosso desempenho na nossa vida pessoal e até no trabalho, mas começando pelas gavetas.

Como é que a Rafaela chegou a consultora certificada pela especialista em organização pessoal Marie Kondo?

Sou designer gráfica de formação e há dois anos decidi que queria ter o meu projeto. Estava numa fase de mudança da minha vida e pensei 'é agora que tenho de arriscar'. Mas tinha imensa dificuldade em perceber o que seria, porque gosto de design mas não era exatamente aquilo [que queria].

Falava com outras pessoas: 'o que é que tu fazes quando não queres fazer mais nada?'. Não sabia que as pessoas podiam fazer isto como trabalho, quando percebi que me podiam pagar para fazer isto… Já tinha falado com um colega e perguntei 'mas tu achas que alguém me pagava para arrumar camisas? É que eu adoro arrumar roupa e arrumar tudo' e ele respondeu-me 'acho que sim, mas é tipo o que seres empregada?' e eu disse 'não é bem isso, é arrumar, pensar na disposição das coisas, se está a ajudar na rotina das pessoas'.

A minha referência é a Manuela Nunes, presidente da Associação Portuguesa de Organizadores Profissionais (APOP), que me deu o primeiro curso como organizadora profissional. Literalmente pesquisei 'organização profissional', depois descobri os livros da Marie Kondo, li e decidi que queria ser organizadora e especializar-me no método KonMari.

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Isso foi há quanto tempo?

Há dois anos tomei a decisão de ser organizadora profissional e comecei a juntar as condições necessárias para tirar o curso com a Marie Kondo, concretizado em março deste ano.

Em 2018 ganhei o financiamento do programa Empreende Já, que dá apoio a jovens empreendedores em Portugal, perfeito para ajudar no desenvolvimento do meu projeto e conseguir tirar o curso em Nova Iorque.

Como é que o método KonMari pode ajudar as pessoas?

É muito importante as pessoas passarem pelo método todo para perceberem o impacto que tem nas suas vidas. O bonito do método é essa transformação, porque logo o primeiro passo é um cumprimento, um agradecimento à casa. O que é que isso faz? Prepara para a organização, mantém mais consciente que aquele é o espaço que tem de ser tratado - e nós muitas vezes não vemos a casa assim.

E depois eu também faço outro exercício com alguns dos meus clientes, que é questionar qual é a vida ideal e aí já estou entrar num campo de desenvolvimento pessoal e a trabalhar esse lado. É que às vezes as pessoas dizem 'ah, quero organizar a casa' e depois perdem meia hora a organizar a roupa e já estão exaustas e nunca mais pegam em nada. Se a pessoa visualizar a sua casa ideal sabe exatamente o que quer. Se não há um objetivo vão-se fazendo as coisas e depois a desorganização volta. Se se sabe o que quer, trabalha-se de outra forma.

Já experimentou questionar se tudo o que faz, tudo o que tem o faz feliz? É um grande exercício de desenvolvimento pessoal

Quando a Rafaela regressou de Nova Iorque encontrou aqui uma coisa nova, porque apesar de ser um mercado com muita gente, o seu público-alvo é mais reduzido.

É um nicho muito específico. Porque não é só uma organização, eu estou a transformar a vida das pessoas, só que é muito difícil numa fase inicial, para clientes que eu não conheço… Há uns anos o 'personal trainer' era visto como um luxo, agora é visto com muita naturalidade, como alguém que te ajuda a perder peso ou a fazer exercício. É um bocado o que está a acontecer com a consultoria em organização, ou seja, à partida as pessoas não veem o valor imediato, pensam que é uma coisa para quem não tem onde gastar o dinheiro, outras querem mesmo muito mas não veem ainda como uma prioridade e os portugueses também são muito fechados em deixar entrar pessoas em casa.

Os meus clientes não estão à espera do que se vai passar, contratam-me para ter a casa organizada, para facilitar a rotina, mas não pensam que vão passar por uma transformação pessoal e que vai ser difícil, caótico, mas vão aprender a decidir e a olhar para as coisas de uma outra forma, porque obrigamos as pessoas a questionarem tudo.

O que distingue o KonMari dos restantes métodos de organização que existem? Ou seja, o que faz com que as pessoas escolham a Rafaela em detrimento de outra organizadora?

Em primeiro lugar porque eu sou consultora da organizadora mais conhecida do mundo. Isso tem um grande impacto. Acho que este método é completamente diferente. Tenho clientes que vêm ter comigo e eu digo 'você precisa de uma organização normal', porque há clientes que não querem estar a organizar, querem ter a casa organizada, mas não querem estar no processo, não querem questionar. Há mercado para todos.

Por exemplo, quando organizo empresas, não vou questionar se aquele dossier faz feliz ou não, porque ou interessa ou não interessa. Acho que esta é a grande diferença: o cliente tem de estar 100% envolvido em todo no método em todo o processo de organização.

Como é que a arrumação pode ajudar a melhorar o lado profissional da vida das pessoas e a conciliar com a vida pessoal?

[Este método] é questionar rotinas também. Antes de começar a organizar eu falo com os meus clientes sobre a vida deles, porque a casa é o reflexo da vida e se têm uma vida sem tempo, culpa-se a falta de tempo pela casa desorganizada… mas a culpa não é da casa. É preciso questionar a rotina, não vale a pena questionar todos os objetos que estão em casa porque vai tudo voltar ao mesmo. Questione as suas rotinas, as relações que tem na sua vida, será que tem de ir jantar fora todos os dias? Será que ainda se identifica com aquele grupo do [ensino] básico que já não têm nada a ver uns com os outros? É que mantém aquele encontro e é mais uma coisa na agenda, para deixar a sua casa mais caótica, mas a sua casa é aquela que o recebe todos os dias e, portanto, é uma questão de prioridades.

Tem impacto em tudo. O facto de questionarem comigo tudo o que têm em casa, quando chegam ao fim da organização e têm uma casa que traz tranquilidade, alegria, tudo isso, pensam 'ok, e se eu aplicar isto à minha vida?'. Acabam com os namorados, mudam de trabalho, mudam de vida, porque é isso. Já experimentou questionar se tudo o que faz, tudo o que tem a faz feliz? É um grande exercício de desenvolvimento pessoal. Há muita gente que se queixa que não gosta do que faz, mas não fazem nada em relação a isso, porque têm de fazer esse questionamento e tomar uma decisão, o que não é fácil.

Notícias ao MinutoRafaela Garcez tornou-se consultora certificada pela Marie Kondo este ano. © Rafaela Garcez

Uma das principais características do método da Marie Kondo é que se deve organizar por categoria e não por localização. Porque que é assim?

Se se organizar por divisão não há uma visão geral de tudo o que se tem. Há pessoas que guardam roupa no quarto, no escritório e na arrecadação. Depois arrumam o quarto e pensam 'ah, não tenho assim tanta roupa', mas se tiverem tudo no mesmo sítio veem tudo o que têm e aquele impacto de ter a montanha de roupa faz a pessoa pensar que não precisa daquilo tudo, é desnecessário, não é preciso comprar mais roupa e é preciso repensar mais na hora de comprar. E isto aplica-se a qualquer categoria.

E depois há aquela ordem que é a roupa, os livros, os documentos, o 'komono' - tudo o que não é das outras categorias - e os objetos emocionais. A roupa é o primeiro porque é o que temos em mais quantidade e mais fácil de nos desapegarmos. Então podemos praticar o músculo da decisão, depois vamos entrando no ritmo, não custa tanto porque se sabe que há mais na loja. É como treinar a decisão para as outras categorias. Claro que os objetos emocionais são os mais difíceis. Há pessoas que guardam fotos de amigos com quem já não falam.

No blog, a Rafaela tem um artigo no qual explica como manter a secretária organizada. Porque é que isso é importante no dia-a-dia ou no ambiente de trabalho?

Conheço muita gente que trabalha no caos e é organizado na sua própria desorganização, há pessoas que se identificam com isto e outras que não. Mas é importante porque quando se tem um espaço organizado, tudo fica mais claro e não há distrações. Se virmos um papel com uma conta para pagar vamos pegar nisso e desconcentramo-nos do que estávamos a fazer. Dá uma sensação de controlo e de tranquilidade.

E a Rafaela é uma pessoa organizada?

Sim, mas desde que estou neste mundo, que já conheci muitas pessoas da área, percebi que há pessoas muito mais organizadas do que eu. A minha casa é organizada, mas o que realmente gosto é de ajudar as pessoas, estar com elas naquele momento, fazer uma seleção e depois vê-las a ter as suas casas organizadas. É isso que me dá mais prazer.

Quais são as perguntas que as pessoas devem fazer a si próprias quando estão nesse processo?

São várias, depende de pessoa para pessoa. No início faço todas, mas assim que eu percebo qual é a fraqueza das pessoas, foco-me mais nessas. Quando vejo que a pessoa é mais cética, pergunto se hoje compraria essa peça e isso é mega decisivo. Ajuda muito, quando faço isso vai 50% embora. É importante é não ir comprar de novo esses 50%.

Quais são as perspetivas para os próximos tempos? O que é que a Rafaela gostava de fazer?

Gostava muito de começar a formar, porque recebo muitos contactos de pessoas que querem ser organizadoras, e também fazer um 'workshop' mais ligado ao cliente, para pessoas que não possam pagar o serviço de organização completo e o queiram fazer de forma independente. Gostava de criar ferramentas para ajudar as pessoas sem eu estar presente. Claro que gostaria de ter pessoas a trabalhar comigo e ser um império da organização, mas tem de ser devagarinho, até porque este é um trabalho muito íntimo e se eu perder isso acho que também se perde a parte boa do projeto.

Notícias ao MinutoRafaela Garcez tem um blog onde partilha algumas dicas sobre organização.© Rafaela Garcez

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