Empreendedores brasileiros "são muito bons", diz ex-investidor
O empresário Luís Pinto, ex-partner da capital de risco Learn Capital, em Silicon Valley, considerou que os empreendedores brasileiros são dos melhores do mundo, mas as condicionantes do mercado no Brasil dificultam o investimento em 'startup'.
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Economia Brasil
São Francisco, Estados Unidos, 08 jul 2019 (Lusa) -- O empresário Luís Pinto, ex-partner da capital de risco Learn Capital, em Silicon Valley, considerou que os empreendedores brasileiros são dos melhores do mundo, mas as condicionantes do mercado no Brasil dificultam o investimento em 'startup'.
O português esteve quatro anos na firma de capital de risco dedicada à área de "edtech", 'startup' inovadoras viradas para a educação. Nesse período, contactou com muitos empresários brasileiros, mas nunca concretizou investimentos.
"No Brasil, os empreendedores são muito bons", afirmou o responsável, considerando que eles estão logo atrás dos norte-americanos e indianos. "Mas há uma diferença importantíssima: a maior parte dos empreendedores [brasileiros] com quem contactei e estão no mundo das 'startup' estudou nos Estados Unidos e teve acesso a entender o ecossistema", explicou.
Segundo o ex-partner da Learn Capital, o sucesso dos brasileiros em Silicon Valley deve-se a essa componente, ao facto de "saberem a linguagem", ao contrário dos empreendedores europeus.
Uma vez que o capital de risco na Europa é conservador e pede excesso de garantias, os empreendedores europeus focam-se no EBITDA a curto prazo e isso não funciona bem em Silicon Valley, onde os investidores querem maximizar o potencial de crescimento.
"Aqui os investidores querem o sonho de Hollywood", comparou Luís Pinto, e o brasileiro "está muito destacado" nessa capacidade de projetar crescimentos explosivos. "Estamos a falar de uma elite brasileira, que está à volta desses ambientes".
O problema, ressalvou, é que os brasileiros condicionam as empresas ao investirem com fundos que têm que ser realizados no Brasil. "Para um investidor americano é uma prisão enorme". A situação é semelhante à que acontece na União Europeia quando os investimentos estão condicionados a regras de fundos europeus.
"Chegou-nos aqui uma empresa e uma das questões que tinham no contrato de financiamento, que foi através da Portugal Ventures, é que era obrigatório que a sede da empresa se mantivesse no espaço europeu, senão perdiam acesso aos fundos", contou Luís Pinto. "É o tipo de pormenor de que o investidor americano nem quer ouvir falar, porque já ligou uma complicação".
De 400 empresas avaliadas por ano, a Learn Capital investe numa média de 15, com rondas entre os dois e três milhões de dólares (entre 1,78 e 2,6 milhões de euros).
Luís Pinto chegou à capital de risco depois de cinco anos à frente do projeto de internacionalização do portátil Magalhães, um computador para escolas com preço baixo que resultou de uma parceria entre a J.P. Sá Couto, a Prológica e a Intel.
O computador nunca chegou ao Brasil devido às condicionantes do mercado, que obriga a ter produção local porque a importação de equipamentos completos pode ter uma taxa de imposto até 75%. A empresa ainda tentou montar uma unidade de integração no país, através de parcerias. No entanto, a operação foi encerrada três anos depois sem nunca ter verdadeiramente arrancado.
Luís Pinto é agora responsável de desenvolvimento do negócio da plataforma de e-learning Udemy, estando dedicado ao setor governamental.
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