Fornecimento de energia penaliza grandes investimentos nos PALOP
A diretora da Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER) defendeu hoje, em Lisboa, que os países africanos lusófonos conseguiriam atrair "muitos investimentos industriais de grande dimensão" se assegurassem o acesso universal e o fornecimento fiável de energia.
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"A grande preocupação nos grandes investimentos industriais é haver ou não haver energia, a qualidade e a fiabilidade desse serviço. Haveria muitos investimentos de grande dimensão, nomeadamente industriais, se estes países conseguissem fornecer eletricidade fiável", disse Isabel Cancela de Abreu.
A diretora-executiva da ALER, que falava à agência Lusa à margem do 21º Fórum de Energia de África, sublinhou, por outro lado, a importância de haver energia para as "necessidade produtivas", num contexto em que o acesso universal à eletricidade também se mantém um desafio.
"Parte-se de um cenário de acesso à energia tão baixo como na Guiné-Bissau 13%, Moçambique 29% e Angola 35%. São estes os países em que o cenário é mais preocupante e que em conjunto somam 40 milhões de habitantes que não têm acesso a eletricidade", disse.
Por outro lado, apontou a comercialização abaixo de custo e com subsidiação da eletricidade como outra dificuldade, nomeadamente na promoção da sustentabilidade das empresas fornecedoras.
"O custo da eletricidade nestes países não é real. As empresas cobram um preço abaixo daquilo que lhes custa e, portanto, são todas deficitárias", adiantou.
Considerou, por isso, que os grandes investidores se deparam com a impossibilidade de conseguir trabalhar com essas empresas por causa das suas dívidas públicas "gigantescas".
Neste contexto, sustentou que é preciso criar condições para poder cobrar o preço real da energia, implementando tarifas sociais para quem não puder pagar.
Entre essas condições, destacou Isabel Cancela Abreu, está uma regulamentação "favorável a este tipo de projetos" porque as empresas "precisam de segurança jurídica para investir".
No setor das energias renováveis, a responsável da ALER apontou que os países têm vindo a estabelecer metas "cada vez mais ambiciosas e realistas", considerando que, em alguns casos como Cabo Verde, a geração renovável é a tecnologia mais competitiva em 54% dos casos para o fornecimento de energia.
"Não estamos a falar de 100% renovável, mas em alguns casos as renováveis são a solução mais competitiva, sobretudo nas regiões onde a rede ainda não chegou", disse.
De acordo com Isabel Cancela de Abreu, a implementação de "mini-redes de energias renováveis" pode beneficiar em especial as comunidades mais isoladas e tem sido "muito adotada" na Guiné-Bissau.
"A solução está aí, a solução técnica existe, tem é que haver um compromisso grande dos governos", considerou.
Para Isabel Cancela de Abreu, a atual crise climática torna irreversível a transição energética para as renováveis.
"Chegamos a um ponto de não retorno e o que temos de aproveitar é o caminho que os países mais desenvolvidos já fizeram. Há uns anos seria muito difícil África implementar energias renováveis, porque eram tecnologias muito caras, ainda a um nível pouco maduro e havia uma perceção de risco muito grande", disse.
"Hoje, as tecnologias estão muito desenvolvidas, já são baratas e há redes inteligentes que permitem gerir melhor. O que os países africanos têm de fazer é aproveitar este salto tecnológico [...]de forma mais eficiente e económica", acrescentou.
A ALER tem como missão divulgar as oportunidades de investimento nos países lusófonos com o objetivo de colocar estes países "no mapa" das energias renováveis.
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