Miguel Gaspar falava à Lusa após um painel que questionava o que as cidades estão a fazer para se adaptarem à subida de 1,5 graus de temperatura, na conferência Movin'On Mobilidade Sustentável, que decorre em Montreal, Canadá até quinta-feira.

"Nós cidades, nós o mundo, estamos atrasados. Recuperando as palavras de António Guterres de há uma semana, este foi muito claro ao dizer que, se nós cumprirmos com os compromissos do Acordo de Paris não vamos aumentar 1,5 grau de temperatura, mas sim 3, nós estamos atrasados com os compromissos de Paris. Nós sociedade como um todo, Lisboa por acaso não está", frisou o responsável.

Para Miguel Gaspar são precisas "ações mais ambiciosas e imediatas", quer por parte das cidades, quer por parte das indústrias e nestas cabem "as alterações de tecnologia, de comportamentos, soluções para a descarbonização", senão será "uma tragédia para a humanidade do ponto de vista do impacto das alterações climáticas".

De acordo com o responsável, Lisboa está a ter uma boa "adaptação estrutural da cidade às alterações climáticas", apesar de nem todos considerarem ser um problema global.

"Há que recordar a estas pessoas as inundações da Praça de Espanha, ou o ciclone que entrou pela Figueira da Foz no ano passado ou então o fenómeno de emigração na Europa que também se deve a fenómenos climáticos", explicou.

Para Miguel Gaspar as obras que já se encontram em curso na Praça de Espanha contribuem "para a resiliência e adaptação da cidade para as alterações climáticas", dado que transforma um hectare de pavimento impermeável em jardim.

O vereador lembrou também um conjunto de medidas mais ativas em que Lisboa lidera tem a ver com a descarbonização, matéria em que a cidade está a liderar o exemplo tendo em conta outras cidades.

"Toda a frota de carros municipais que podem ser elétricos são, os que não podem ser elétricos são híbridos os que são a gás são aqueles que o mercado não tem alternativas funcionais como os carros de recolha de limpeza do lixo", exemplificou.

De acordo com Miguel Gaspar a autarquia está agora a comprar os primeiros 15 autocarros elétricos de uma frota total que pretende chegar aos 700, para que em 2041 toda a frota seja descarbonizada.

"Estamos talvez agora a comprar os últimos autocarros a gás para quando for altura de serem substituídos já o sejam por aqueles de emissões zero. Estes agora já são, pelo menos, 25% mais eficientes do que a norma mais exigente, exemplo de como a cidade está a liderar pelo lado do exemplo.

Miguel Gaspar lembrou ainda que olhando para a matriz energética da cidade e no que há mobilidade diz respeito, boa parte do congestionamento de trânsito diz respeito à logística, à entrega de bebidas e abastecimentos de restauração, além das entregas relacionadas com compras online.

Apesar de considerar não existirem ainda soluções que tenham provado como melhorar a logística urbana, dado que as empresas deste setor "competem mais do que cooperam", as autarquias já estão em diálogo com algumas associações de distribuição de bebidas e águas e com a AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal).

"A nova logística da cidade tem de ser adaptada aí, é onde estamos mais atrasados", afirmou.

A terceira edição da conferência Movin'On Mobilidade Sustentável, sob o mote "passar da ambição para a ação", junta até quinta-feira em Montreal, Canadá, mais de 5 mil participantes entre empresas, representantes governamentais e académicos.

A edição de 2019 - Soluções para Ecossistemas Multimodais, centra-se em cinco grandes temáticas: economia circular, transporte de mercadorias e multi-mobilidade, tecnologias inovadoras, descarbonização e qualidade do ar e trânsito urbano multimodal e a sociedade.

Os organizadores dizem que o plano é passar da "ambição à ação", agindo sobre o tema "Trazer mobilidade global, inteligente, sustentável e multimodal à vida.