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Crianças guineenses preenchem as férias de Páscoa com apanha de caju

As crianças guineenses da aldeia de Cumura/Pepel, a 20 quilómetros a norte de Bissau, estão por estes dias felizes com as férias da Páscoa, aproveitadas para ajudar os adultos na apanhar caju.

Crianças guineenses preenchem as férias de Páscoa com apanha de caju
Notícias ao Minuto

14:00 - 10/04/19 por Lusa

Economia Cumura/Pepel

A campanha do caju, principal produto de exportação da Guiné-Bissau e que decorre entre março a setembro, mobiliza 80% da população camponesa do país e as crianças também não ficam atrás no trabalho de limpeza dos campos, apanha do fruto e extração do vinho de caju.

Frágeis, mas alegres, Crismilde e Valézia, ambas com nove anos, Viana, de 10 e Rivildo com oito, vão todos os dias, das 08:00 às 17:00, ajudar os familiares adultos que trabalham na granja da Palestina, um campo agrícola que a Guiné-Bissau deu à representação daquele povo árabe em 1978, como recompensa pela ajuda na luta pela independência do país.

Em férias de Páscoa, mas porque na sua aldeia não existem sítios e nem hábitos para atividades lúdicas, as quatro crianças preenchem os quinze dias sem aulas com idas e vindas da granja, onde, debaixo de cajueiros que se estendem por sete quilómetros quadrados, ajudam os adultos.

O labor exige muito do físico pois é feito em grande parte agachado ou de cócoras, mas as quatro crianças adoram o que fazem.

Para espantar a fadiga ou também para animar a apanha que ocorre no meio de muita galhofa de milhares de famílias guineenses que deixam as aldeias para os campos, Crismilde, Valézia, Viana e Rivildo, cantam, às vezes, dançam, outras vezes ainda desaparecem nos cajueiros para outras traquinices da idade, provocando a fúria dos adultos.

Com pequenos recipientes nas mãos, as quatro crianças, que andam na única escola católica da aldeia, cirandam pelos cajueiros num vai vem que pode resultar em quilómetros, contam ladainhas entre si, pegam-se em lutas breves, mas sempre atentas para apanhar um caju caído das centenas de árvores que povoam a granja da Palestina.

Sabem que nunca devem apanhar um caju que esteja na árvore, mas de cada vez que adentram a granja, antes mesmo de iniciar o trabalho da apanha, recebem uma espécie de sermão dos adultos naquele sentido: "O caju não deve ser tirado da árvore, é como arrancar, à força, uma criança do colo da mãe, chora", disse Mara (Maria) Cá, à sua neta, Mi, nome pelo qual é mais conhecida a Crismilde.

As quatro crianças ainda estão na flor da idade, mas sabem quase todas as regras da apanha do caju: Nunca tirar o fruto da árvore, nunca pisar o chão sem olhar bem, nunca atear fogo, não deixar deitar lixo debaixo dos cajueiros, andar sempre em grupo e estar sempre animado na hora "di cudji caju" (apanhar o caju).

A crença popular guineense diz que o fruto colhido com alegria "tem mais vida".

Encontrando um caju no chão, quem estiver no raio da ação mais próximo, apanha e guarda num balde ou numa tigela para depois despejar o conteúdo da recolha em lugares determinados pelos adultos que esperam pelo abastecimento.

O depósito da safra das crianças, é sempre debaixo de cajueiros onde ficam sentadas mulheres, geralmente, as que acabaram de ter bebés ou as idosas, já sem muita energia e o trabalho delas é separar a polpa (utilizada para extração do vinho) do fruto que é o principal produto de exportação da Guiné-Bissau, tendo a Índia e o Vietname como principais compradoras do produto.

As quatro crianças andam na primeira e segunda classe, nem sabem para onde vai a castanha do caju que vão passar pelas suas frágeis mãos durante as férias da Páscoa, só sabem que o trabalho que fazem permite-lhes continuar juntas durante 15 dias, ainda que andem na mesma escola e trabalhem na mesma granja da Palestina desde os seis anos de idade.

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