"As pessoas não fazem ideia do que é a tarefa de supervisão"
O governador do Banco de Portugal considerou esta quarta-feira que as pessoas não fazem ideia do que é a tarefa de supervisão de bancos e do trabalho que implica ao regulador e supervisor bancário.
© Reuters
Economia Carlos Costa
"Não fazem ideia do que é a tarefa de supervisão, não fazem ideia de que tenho 400 pessoas [na supervisão], não fazem ideia do que é o governador tomar conhecimento dos resultados e emitir decisões", disse Carlos Costa na audição na comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD), na Assembleia da República, em Lisboa.
O governador tinha sido questionado pela deputada do PSD Liliana Silva sobre como pensa que as pessoas que assistem a estes debates avaliam a supervisão: "Se fosse um português comum, como veria?", perguntou.
Durante mais de quatro horas e meia o governador do Banco de Portugal respondeu às perguntas dos deputados sobre o que se passou na CGD entre 2000 e 2015, tanto na sua pele de supervisor, como por ter sido administrador do banco público entre abril de 2004 e setembro de 2006, com o pelouro de 'marketing' e área internacional.
Esta nova comissão eventual de inquérito parlamentar à CGD, cujas audições arrancaram esta semana, foi decidida depois de, em janeiro, ter sido conhecida a auditoria da EY à gestão da CGD entre 2000 e 2015.
A auditoria revelou concessão de créditos mal fundamentada, atribuição de bónus aos gestores com resultados negativos, interferência do Estado e aprovação de empréstimos com parecer desfavorável ou condicionado da direção de risco, com prejuízos significativos para o banco público.
Segundo a versão preliminar então divulgada pela ex-bloquista Joana Amaral Dias, na CMTV, a EY avaliou sete operações de crédito com risco grave ou elevado e, só nestas, estimou perdas de mais de 1.000 milhões de euros, estando à cabeça as operações de financiamento da fábrica da La Seda, em Sines. Em 2015, o crédito à La Seda de 350 milhões de euros tinha imparidades (perdas potenciais) de 60,2% para a CGD.
Ainda entre as operações com perdas elevadas encontradas pela auditoria estão empréstimos à Investifino (de Manuel Fino), Fundação Berardo, Auto-Estradas Douro Litoral e Vale do Lobo Resort.
Depois de ter sido conhecida a versão preliminar, em 01 de fevereiro, a CGD entregou o relatório final da auditoria no parlamento, isto depois de sete meses em que os deputados o pediram e o banco público recusou, primeiro argumentando com o segredo bancário e depois com o segredo de justiça (por estar em análise no Ministério Público).
Contudo, o documento entregue no parlamento omitia o nome dos devedores, os valores dos créditos concedidos e a exposição do banco público a estes empréstimos devido ao sigilo bancário.
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