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Maior integração orçamental e mutualização da dívida no horizonte do euro

Os economistas ouvidos pela Lusa consideram que o próximo grande desafio da zona euro será prosseguir a integração orçamental e antecipam que a moeda única tem tudo para ganhar peso como alternativa ao dólar.

Maior integração orçamental e mutualização da dívida no horizonte do euro
Notícias ao Minuto

09:42 - 30/12/18 por Lusa

Economia Economistas

Assinalam-se no próximo dia 01 de janeiro os 20 anos do lançamento do euro e os economistas ouvidos pela Lusa consideram que, depois da crise dos últimos anos, o próximo passo será a maior coordenação em termos orçamentais.

"Um dos objetivos que a nível da União Europeia (UE) ainda é preciso atingir é a coordenação em termos orçamentais. Precisamos de um orçamento da UE com alguma robustez", disse à Lusa António Afonso, professor do ISEG, frisando que "esse é o principal desafio", passar de um orçamento que resulta de uma contribuição de pouco mais de 1% do Rendimento Nacional Bruto para uma percentagem um pouco maior.

António Afonso deu o exemplo da Alemanha, um Estado federal com um orçamento federal, através do qual faz algumas transferências para os Estados quando estão em dificuldade. E o mesmo se verifica nos Estados Unidos. "No caso da UE isso não existe. Portanto, será que se quer fazer isso? Seria uma vantagem interessante", considerou.

Para o professor do ISEG, trata-se de uma decisão política "que é um desafio que a UE tem à sua frente, talvez para 10, 15 anos".

"O problema é que a maior parte dos países não quer porque isso tem um custo, nomeadamente por financiamento via impostos", acrescentou.

Também Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio, considera que o principal desafio da zona euro é "prosseguir com a integração orçamental e fazer cumprir os objetivos dos Programas de Estabilidade, de modo a preparar os países para a próxima recessão", que considera "inevitável, dado que a economia tem uma natureza cíclica".

"Esperamos apenas que a próxima recessão venha mais tarde do que cedo", disse.

Ricardo Ferreira Reis, professor da Católica, antecipa uma nova crise do euro em breve, e não apenas por causa de Itália.

"Esta questão da França e dos 'coletes amarelos' anuncia que se calhar a Itália não fica sozinha neste esticar da corda. Acho que as tensões vão ser bastante grandes nos próximos tempos, mais uma crise de crescimento", frisa, destacando o facto de agora essas crises aparecerem em países e economias com uma dimensão totalmente diferente da portuguesa, grega e irlandesa.

Precisamente por isso, na sequência da "tensão vinda de países como a França e a Itália", a resposta pode ser a cedência nesta matéria, e Ricardo Ferreira Reis antecipa que "o passo seguinte é uma discussão de mutualização da dívida pública".

Mas o professor da Católica antecipa que terá de existir disciplina, não apenas na parte monetária mas também na parte fiscal e orçamental.

"E, portanto, estaremos nós, pequenos países, dispostos a ter uma supervisão das autoridades do euro muito maior do que a que temos tido agora?", questiona, frisando que "é muito mais fácil termos essa supervisão quando o presidente do Eurogrupo é o nosso ministro das Finanças".

Já para Rui Bernardes Serra, "os recentes sinais vindos de Itália são de apaziguamento da situação".

"Parece que, finalmente, o Governo italiano percebeu que é muito difícil ir contra a visão dos mercados (e da Comissão Europeia) e que as supostas medidas de estímulo orçamental podem ser completamente anuladas por condições de financiamento mais desaforáveis para o Estado e para o setor privado".

Sobre o debate em torno dos Estados Unidos da Europa, Ricardo Ferreira Reis considera que "é um debate com que as gerações seguintes vão ser confrontadas, talvez num horizonte de 50 anos, porque os passos que estão a ser dados apontam nesse sentido, mas pelo caminho vamos perdendo alguns países que vão tendo hesitações, desta vez é o Reino Unido".

Para o professor da Católica, "é provável que o número máximo de países que a União Europeia alguma vez teve já tenha sido alcançado", nos atuais 28.

"O projeto vai continuar neste sentido de maior integração" e os grandes desafios "nos próximos 20 anos vão ser a solidificação da moeda única", passando pela mutualização da dívida, com consequência de um maior envolvimento na gestão corrente dos orçamentos dos diferentes países.

António Afonso prevê que, nos próximo 20 anos, "se as coisas correrem mais ou menos como têm corrido até agora, provavelmente o euro vai ser uma grande moeda em termos de transações internacionais".

"O euro enquanto moeda para as transações internacionais tem todas as possibilidades para ser uma moeda tão importante como por exemplo o dólar, e não há nenhuma razão para pensar o contrário", acrescenta o professor do ISEG, frisando que atualmente já muitas empresas e bancos centrais têm reservas, investimentos e posições de portefólio em ativos denominados em euros, mas alguns ativos e matérias-primas a nível mundial continuam a ser transacionados em dólares, como o petróleo por exemplo.

"Não quer dizer que não se possa fazer em euros, mas existe ainda uma tradição e um 'standard' no mercado. Agora, quanto mais for usada no futuro a moeda euro, mais importante do ponto de vista cambial ela se tornará" e mais peso ganhará face a outras divisas, indica.

No mesmo sentido, para Rui Bernardes Serra, "a tendência natural é o euro constituir cada vez mais uma moeda alternativa ao dólar enquanto reserva de valor dos vários bancos centrais, uma vez que a maior economia do mundo é a do euro e o dólar ainda persiste como a principal moeda internacional".

"Não queremos dizer que o euro vai destronar o dólar, porque a força do dólar advém de três outros importantes fatores que não existem no euro: uma nação única, capacidade militar e uma economia mais jovem e inovadora do que a europeia, mas pelo menos, que ganhe quota de mercado", conclui o economista-chefe do Montepio.

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