Brexit: Empresas portuguesas preocupadas mas sem alarmismo
As empresas portuguesas no Reino Unido estão preocupadas com o 'Brexit' pela incerteza que ainda existe quanto ao futuro, mas sem alarmismos, disse à Lusa o embaixador de Portugal em Londres, Manuel Lobo Antunes.
© iStock
Economia Embaixadores
"Há uma posição de expetativa, há uma posição de esperança de que efetivamente este acordo se vá realizar, mas há também uma expetativa e uma pressão, digamos assim, para que a situação se clarifique para que as empresas [...] possam saber exatamente com o que é que vão contar no futuro", disse.
Lobo Antunes, embaixador em Londres desde 2016 e que foi secretário de Estado dos Assuntos Europeus (2006-2008) e representante permanente de Portugal junto da UE (2008-2012), desdramatizou os piores receios que se geraram após o referendo de junho de 2016 em que os britânicos decidiram a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
"A ideia, que não se concretizou, de que a seguir ao 'Brexit' seria a debandada geral e as empresas se começassem a deslocalizar, não tenho tido essa dimensão e esse prognóstico não se tem concretizado", disse.
"Não vejo empresas, e designadamente portuguesas, com planos de contingência profundos, digamos assim, até porque continua a haver a esperança, e a acreditar-se, e eu julgo que é de facto a perspetiva mais razoável, de que haverá um acordo", acrescentou.
"A questão é de expetativa sem levantar alarmismos, que são neste momento desnecessários", disse.
No plano bilateral, resolvida "de forma satisfatória" a "questão muito importante" da comunidade portuguesa no Reino Unido, cerca de 400 mil pessoas, restam as questões "que têm a ver com o comércio, de bens e serviços, e com remessas dos emigrantes", as quais vão depender "do tipo de acordo e da relação futura que for estabelecida com o Reino Unido e também de como é que a própria economia do Reino Unido se vai comportar num cenário de 'Brexit', o que depende de vários fatores, nem todos absolutamente claros e transparentes neste momento".
"Para Portugal, é importante manter o nível de comércio, temos um grande superavit comercial, temos uma balança de serviços também muito importante para nós, uma vez que temos muitos turistas do Reino Unido a visitar Portugal, e em Portugal, e é importante que continuem a visitar Portugal e depois também, naturalmente, é importante as remessas dos portugueses que aqui residem para Portugal", disse.
Mas a futura relação bilateral pode beneficiar de um "conhecimento mútuo" que Lobo Antunes tem verificado no Reino Unido.
"Foi uma surpresa para mim, quando aqui cheguei e ao longo destes dois últimos anos, o conhecimento que as pessoas têm de Portugal, da História de Portugal e da velha aliança. As pessoas falam-me muito [disso], logo quando eu digo que sou embaixador de Portugal, as pessoas dizem 'ah, a nossa velha aliança, a mais velha aliança'", relatou.
Além desse conhecimento histórico, disse, "há um conhecimento muito razoável do que é Portugal": "Muitos britânicos viajaram para Portugal, muitos conhecem Portugal, muitos têm propriedades em Portugal e, portanto, do ponto de vista do conhecimento mútuo, histórico, é muito interessante porque é bastante profundo e bastante alargado".
Lobo Antunes identificou as áreas da Cultura, da cooperação militar e do investimento britânico em Portugal como setores onde "há trabalho a fazer".
"No campo cultural acho que há trabalho a fazer, a nossa presença cultural é ainda modesta e isso exige muito investimento e um investimento que é muito importante. Também na parte da cooperação militar, acho que bilateralmente temos aí um trabalho a fazer, e depois naturalmente no pós-'Brexit' continuar a atrair investimento britânico", explicou.
"Mas penso que também nessa área [do investimento], dado este contacto histórico e esta tradição histórica de relacionamento bilateral, podemos fazer mais. Temos feito bastante mas há que continuar esse esforço, dar a conhecer o país às empresas britânicas", disse.
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com