Empresários brasileiros animados com provável vitória de Bolsonaro
A liderança nas sondagens do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro na corrida às presidenciais do Brasil está a animar o mercado financeiro e o setor das armas e do agronegócio, duas bases de apoio da candidatura.
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Um dos casos mais emblemáticos é o da fabricante de armas de fogo Taurus, cujas ações na Bolsa de Valores de São Paulo (BR&FBovespa) saltaram quase 400% desde o início oficial da campanha em 16 de agosto.
O analista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Arthur Igreja explicou que este tipo valorização de ações da Taurus é habitual já que o mercado financeiro procura antecipar ganhos.
"No caso da Taurus há uma expectativa dobrada de realização de ganhos porque sempre foi um lema da campanha do Bolsonaro a liberação do porte de armas para civis. Com ele na Presidência o mercado entende que haverá um aumento muito grande de demanda por armas de fogo e as ações da empresa se valorizaram", avaliou.
Além disso, o mercado espera um reforço dos orçamentos das forças militares e de segurança.
"A valorização das ações da Taurus é uma tentativa de antecipar o futuro, mas é preciso lembrar que não há garantia nenhuma de que esta expectativa vá se concretizar. Alguns estudos sinalizam que embora o porte de armas possa ser liberado," mas "a maior parte da população não tem interesse em comprar armamentos", frisou.
"Também é preciso lembrar que para fazer mudanças como liberar o porte de armas e até mesmo este aspeto de um possível reforço orçamentário [da polícia e do Exército], o Bolsonaro precisará do apoio do poder legislativo, o que não será tão simples", considerou.
Por isso, disse, esta valorização de 400% das ações constitui "um otimismo exagerado", acrescentou.
Outros setores da economia brasileira como o agronegócio, indústria e comércio exterior tem mostrado sinais de otimismo perante uma possível vitória do candidato de extrema-direita, que lidera as intenções de voto contra o adversário Fernando Haddad do Partido dos Trabalhadores (PT).
A Frente Parlamentar Agropecuária, grupo formado por políticos que representam os interesses do agronegócio no Congresso, aderiu a campanha de Bolsonaro antes mesmo da primeira volta das eleições, elogiando as propostas do candidato sobre redução de impostos, aumento de investimentos, diminuição de fiscalização e liberalização dos entraves ambientais.
No último dia 22, o candidato de extrema-direita que ainda se recupera de um atentado que sofreu no dia 6 de setembro, recebeu a visita de representantes do setor industrial que assinaram um manifesto a formalizar o apoio.
"Os setores industriais que representam 32% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial e geram 30 milhões de empregos diretos e indiretos 250 mil milhões de reais [58 mil milhões de euros] em pagamento de impostos colocam-se a favor do diálogo com o candidato Jair Messias Bolsonaro (PSL) na Presidência da República para encontrar caminhos para a retomada do desenvolvimento da indústria, crescimento do país e geração de empregos", podia ler-se no manifesto.
Para Arthur Igreja, existe um grande otimismo de diferentes setores da economia, uma situação que se explica com a atual conjuntura.
"O PT trouxe tamanho desalento económico e falta de estratégia nacional que qualquer opinião diversa deste partido tem recebido ecos de esperança [no mercado] (...) O Bolsonaro vem com uma visão liberal apoiada no seu economista, o Paulo Guedes", disse.
"Pessoalmente, coloco um ponto de interrogação sobre o Bolsonaro porque [antes da eleição] ele sempre mostrou ter um viés estatista, protecionista, nacionalista. Então há uma espécie de conflito. É preciso esperar para saber qual visão será adotada", completou.
Sobre o apoio dado ao candidato pela frente ruralista, Arthur Igreja recordou que Bolsonaro mostrou um discurso alinhado com o setor.
"O Bolsonaro disse que tem que rever o acordo de Paris e isto encanta os ruralistas", mas "existem potenciais contradições neste discurso" porque será difícil "promover uma integração económica" com o resto do mundo ao mesmo tempo que o país se afasta de "acordos multilaterais como este".
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