CGTP acusa APED de bloquear negociação coletiva e negar aumento salarial
O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, lamentou hoje que as grandes empresas de distribuição em Portugal e a associação do setor (APED) estejam a bloquear a negociação coletiva e a negar o aumento e a atualização dos salários.
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Economia Arménio Carlos
"Estas empresas e a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) não só bloqueiam a negociação da contratação coletiva como estão a negar aquilo que é fundamental e que é um direito fundamental dos trabalhadores, que é o aumento e a atualização anual dos salários", afirmou o líder da CGTP aos jornalistas, em Lisboa.
Falando à margem de uma manifestação em frente da sede da APDC em Lisboa, que contou com a participação de duas centenas de trabalhadores, Arménio Carlos lembrou que "a economia está a crescer", mas existe, "simultaneamente, uma situação de desigualdade mais gritante".
"Estas empresas de distribuição têm elevadíssimos lucros, os seus gestores ganham milhões por ano e continuam a recusar aumentar os salários a estes trabalhadores -- que estão na ordem do salário mínimo nacional", disse o líder da CGTP, adiantando que, por outro lado, "não satisfeitos ainda querem que eles trabalhem mais e recebam menos pela via da diminuição do pagamento do trabalho extraordinário".
Para Arménio Carlos, esta é uma situação "inadmissível e inaceitável", e o facto de haver duas tabelas salariais, onde uma primeira "está próxima" do salário mínimo nacional e outra, a tabela B, "ainda está abaixo" dessa mesma tabela o que é "injusto".
"O que se reclama é que tem de haver trabalhadores de uma única classe, isto é, a classe de todos", advertiu o líder da CGTP, realçando a necessidade de se aumentarem "os salários de todos e acabar com a discriminação que neste momento existe com as duas tabelas salariais".
"Não é justo que numa região ganhem mais do que noutra [na mesma empresa]. Têm de ganhar o mesmo em todo o lado", salientou o dirigente sindical.
De acordo com a CGTP, nos últimos oito anos, no seu conjunto, e formalmente os trabalhadores das empresas de grande distribuição tiveram um aumento de 11 euros, com uma inflação de 10%, questionando "porque é que estas empresas que tantos lucros têm tido ao longo deste tempo não têm dinheiro e disponibilidades para aumentar os trabalhadores".
Arménio Carlos considerou que "demonstra que o caminho não pode ser este e isto demonstra que esta é a lógica do modelo de baixos salários e trabalho precário".
Já Isabel Camarinha, do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços (CESP), referiu que tem tido nota de "muita adesão" à greve de hoje e que os trabalhadores estão a manifestar-se para dizer à APED e às empresas suas associadas (nomeadamente Pingo Doce, Sonae, Lidl, Mini Preço e Fnac) que "não se admite que não haja uma atualização e um aumento de salários".
"Estes trabalhadores têm salários um pouco acima do salário mínimo nacional e o contrato coletivo não é revisto há vários anos, mas a negociação já começou há dois anos. E não se compreende o que é que as empresas dizem, pois não se pode exigir contrapartidas aos trabalhadores com salários de miséria, horários desregulados, intensíssimos".
Em comunicado, a APED realça que o processo negocial está a decorrer no Ministério do Trabalho, rejeita "a existência de qualquer bloqueio nas negociações" do Contrato de Trabalho e refuta "as razões das paralisações e manifestações convocadas pelos sindicatos.
E refere ainda que no quadro das negociações entre a APED e os sindicatos está agendada para a próxima sexta-feira uma reunião no Ministério do Trabalho, ronda de negociações já marcada desde julho deste ano.
A APED diz que "sempre se manifestou disponível" para dialogar e que apresentou soluções em sede própria de negociações, no Ministério do Trabalho.
A associação do setor, que agrega 153 empresas do retalho e distribuição que empregam atualmente 120.000 trabalhadores, reafirmou em comunicado "a total disposição para dialogar" com as estruturas sindicais em sede própria e considera "incompreensíveis as manifestações e paralisações" convocadas pelos sindicatos, alertando para o facto desta posição dificultar "um clima de consenso, conciliação e compromisso".
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