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Raide da China Three Gorges à EDP. Governo não se opõe e Bruxelas?

O consórcio chinês formalizou a OPA sobre a EDP. Oferece 3,26 euros por cada ação da EDP o que perfaz uma avaliação de 11,9 mil milhões da eléctrica. Pela EDP Renováveis oferece 7,33 euros por cada ação. António Costa parece dar o seu aval ao negócio.

Raide da China Three Gorges à EDP. Governo não se opõe e Bruxelas?
Notícias ao Minuto

07:30 - 12/05/18 por Fábio Nunes com Lusa

Economia Negócio

O mercado português foi sacudido esta sexta-feira pelas notícia avançada pelo Expresso da OPA (oferta pública de aquisição) da China Three Gorges sobre a EDP. A dada altura, a CMVM suspendeu a negociação das ações da EDP após o fecho da Bolsa de Lisboa enquanto aguardava por mais informações sobre esta oferta. Não teve de esperar muito pois uma delegação chinesa composta por advogados e investidores deslocou-se à CMVM para formalizar a OPA sobre a EDP e sobre a EDP Renováveis.

Os pormenores desta oferta foram revelados mais tarde. Num comunicado, a CMVM anunciou que a China Three Gorges vai oferecer 3,26 euros por cada ação da EDP. Um prémio de 4,82% face ao valor do mercado (as ações da EDP fecharam o mercado a valer 3,11 euros esta sexta-feira).

A China Three Gorges avalia assim a eléctrica liderada por António Mexia em 11,9 mil milhões de euros. Um valor que supera as expectativas, pois previa-se uma oferta a rondar os oito mil milhões de euros.

Esta oferta é geral e voluntária e a China Three Gorges pretende adquirir a totalidade das ações representativas do capital social da EDP. Convém relembrar que atualmente o estado chinês detém uma posição de 28,25% na EDP, através da Three Gorges com 23,27% e da empresa estatal CNIC, que detém os restantes 4,98%.

A China Three Gorges apresentou também uma oferta pela EDP Renováveis. Mas neste caso a oferta é ligeiramente inferior ao valor das ações no fecho de mercado desta sexta-feira. 7,33 euros por cada ação, o que representa um desconto de 6,5% (tinham fechado a valer 7,84 euros).

A empresa chinesa considera que, caso a OPA sobre a EDP tenha sucesso, é sua obrigação legal lançar uma oferta pública obrigatória sobre 100% do capital social da EDP Renováveis, isto excluindo as ações já detidas pela EDP.

Atualmente, a EDP detém cerca de 83% do capital da EDP Renováveis.

A China Three Gorges tem agora 20 dias para pedir registo da OPA à EDP na CMVM.

A bola está agora do lado de Bruxelas

A empresa esclareceu ainda no anúncio preliminar que pretende manter a empresa com identidade portuguesa, com a sede em Portugal e cotada na bolsa nacional. Refere também que a operação está dependente do aval da não oposição do Governo português.

Ora, o consórcio não teve de esperar muito por uma reação do líder do Executivo, António Costa. E deve ter ficado satisfeito com o que ouviu. “O mercado decidirá. A China Three Gorges é há muitos anos acionista de referência da EDP e não temos nenhuma reserva a opor. As coisas têm corrido bem", disse.

Mais importante será perceber o que Bruxelas vai ter a dizer sobre este negócio. É que a State Grid já detém uma participação de 25% na REN. Como a China Three Gorges tem capitais públicos chineses e as regras europeias referem que um mesmo acionista não pode ter uma participação na empresa que produz energia e outra na empresa que gere a rede eléctrica.

Quanto ao que levou a China Three Gorges a avançar repentinamente com o negócio, isso pode estar relacionado com o interesse de várias empresas na EDP. A Enel, a E.On, a Gas Natural e mais recentemente a Engie mostraram interesse na empresa nacional.

Um negócio com história e o investimento chinês em Portugal

Há cerca de seis anos, em 20 de fevereiro de 2012, os acionistas da EDP oficializaram a entrada da China Three Gorges no Conselho Geral e de Supervisão, em assembleia-geral extraordinária, após a privatização da elétrica portuguesa, na qual a empresa chinesa pagou cerca de 2,7 mil milhões de euros por 21,35%, tornando-se a maior acionista.

A entrada da CTG foi o 'pontapé' de saída para um fluxo de investimento chinês em Portugal, à 'boleia' de privatizações, já que o país serve de porta de entrada para a Europa e para os países de língua oficial portuguesa, isto sem falar na corrida às concessões de vistos 'gold'.

A EDP foi a primeira privatização a arrancar, durante o governo de Pedro Passos Coelho, em dezembro de 2011.

Em fevereiro de 2012, foi a vez da REN, com os chineses da State Grid a ficarem com 25% do capital, pagando 387 milhões de euros pela posição na empresa gestora das redes energéticas nacionais.

Posteriormente, a chinesa Fosun comprou a seguradora Fidelidade e a Espírito Santo Saúde, tendo no final de 2016 adquirido 16,7% do capital do Banco Comercial Português (BCP), por cerca de 174,6 milhões de euros para ser o seu maior acionista. Em fevereiro, o grupo chinês reforçou a sua posição na instituição financeira para 23,92%, no âmbito de uma operação de aumento de capital.

Ainda no setor financeiro, em 2015, o Haitong Bank concluiu a compra do banco de investimento português BESI.

Antes, no início de 2012, o Banco Internacional e Comercial da China (ICBC) abriu o seu primeiro escritório em Portugal, em Lisboa, e, um ano depois, foi a vez do Bank of China escolher a capital portuguesa para abrir um escritório e um balcão de atendimento.

Mas não é só a banca que atrai os investidores chineses. Em outubro de 2016, o grupo de Macau KNJ Investment Limited, fundado em 2012, assinou um memorando de entendimento com a Global Media Group (GMG), e em 6 de novembro de 2017 concretizou a entrada na dona do Diário de Notícias (DN), TSF, entre outros, com uma injeção de 15 milhões de euros, passando a deter 30%.

Entre outros investimentos chineses em Portugal, destaca-se a inauguração, em fevereiro de 2012, do centro tecnológico da empresa de telecomunicações Huawei em Lisboa, que representou um investimento de 10 milhões de euros, que se juntou aos 40 milhões de euros que a multinacional chinesa tinha investido no mercado português.

Também o setor imobiliário tem vindo a ser uma aposta de investidores chineses, liderando, por nacionalidades, a obtenção de vistos 'gold' em Portugal.

Desde que o programa de Autorização de Residência para a atividade de Investimento (ARI) arrancou, em 8 de outubro de 2012, até final de janeiro deste ano, foram atribuídos 3.805 vistos 'gold' a investidores de nacionalidade chinesa, de acordo com os dados estatísticos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

O investimento chinês acumulado até dezembro passado através dos vistos 'gold' atingiu 2.060 milhões de euros, o que representa 60% do montante captado desde que o programa está em vigor.

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