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"É gratificante dizer ao meu filho que sou Campeão Europeu"

Numa entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, Bruno Coelho falou-nos sobre os momentos que conduziram à conquista do Europeu de futsal. Um título que ajudou a conquistar, marcando o golo da vitória na final frente à Espanha. Viajámos até à infância do jogador do Benfica para descobrir a história do novo 'Éder' do futsal português.

"É gratificante dizer ao meu filho que sou Campeão Europeu"
Notícias ao Minuto

08:31 - 01/03/18 por Ricardo Santos Fernandes

Desporto Bruno Coelho

A 56 segundos do final do Campeonato Europeu de futsal, Portugal encontrava-se empatado diante da Espanha. As grandes penalidades eram uma realidade cada vez mais presente, mas Bruno Coelho fez 'explodir' 11 milhões de portugueses ao marcar o golo da vitória. 

Mas antes desse momento, o ala do Benfica já tinha a certeza que a taça ía ser nossa. Numa entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o jogador de 30 anos voltou a reviver a página de ouro da modalidade. "Tratou-se de uma ‘bola de neve’ em que a vontade era tanta que nos ‘empurrou’ para o desfecho final", assegurou aquele que é considerado por muitos o 'Éder' do futsal português.

Numa conversa sem fronteiras, Bruno Coelho projetou o próximo Mundial, falou sobre a hipótese do FC Porto ingressar no campeonato nacional e deixa uma revelação sobre o clube onde joga:  "No final do primeiro ou do segundo ano, eu quis ir-me embora do Benfica".

Marcaste o golo do título, o mais importante da história do futsal português. O que sentiste antes de partir para a bola?

Eu sabia que tinha de marcar porque era a oportunidade de sermos felizes e já o contei várias vezes. Quando o Ricardinho se lesionou e se sentou no banco, olhei para cima, para ver quanto tempo é que faltava, reparei que os espanhóis já tinham atingido as cinco faltas e disse ao Ricardo: ‘Não te preocupes, nós vamos conseguir a sexta falta e eu vou encarregar-me de cobrar esse livre direto para sermos campeões europeus’. E assim foi. É difícil descrever o sentimento antes e depois de marcar, porque eu nem sabia como havia de festejar.

Depois de Portugal chegar à vantagem, ainda faltavam 56 segundos para consumar o título europeu. Foi o minuto mais longo da tua vida como jogador?

Parecia um minuto infinito. Nós olhávamos para cima e os segundos demoravam a passar: Um minuto inacreditavelmente longo. É verdade que foi um minuto de bastante sofrimento, mas isso também faz parte e no final acabámos por alcançar o desfecho desejado.

Como é que tu lidas com o facto de te apelidarem o ‘Éder’ do futsal português?

Eu percebo o contexto da situação, porque fomos campeões da Europa, tal como no futebol (conquista do Europeu em 2016). Para mim é um prazer ser comparado com o Éder, que nos deu a felicidade de sermos campeões da Europa, mas acho que estamos a falar de um contexto diferente. Diferente porque o Éder era considerado o ‘patinho feio’ da Seleção, que eu não o considero, porque quando ele foi chamado pelo Fernando Santos disse ‘presente’ e ainda bem que assim foi, porque não é fácil lidar com tanta crítica e tanta pressão.

Falaste agora de uma ‘palavra-chave’: pressão. A Seleção nacional tinha a pressão de conquistar este título, uma vez que em grandes competições anteriores tinha ficado apenas pelo ‘quase’...

Nós nunca demos um passo maior do que a perna. Fomos sempre pensando jogo a jogo e acho que isso foi notório. Sempre com os pés bem assentes na terra e mantendo a nossa humildade. Acho que não houve pressão, sabíamos o porquê de estarmos ali e tínhamos o objetivo de conquistarmos uma medalha. Queríamos fazer história, queríamos muito conquistar algo: ao início era uma medalha, lá dentro sabíamos qual era a cor da medalha que queríamos, e à medida que os jogos foram passando esse sonho ia ganhando força.

Como é que descreves o ambiente do balneário da Seleção nacional?

É um balneário fantástico com um ambiente espetacular. Só para terem uma breve noção: Nós nunca falámos em prémios ou em dinheiro, o espírito da equipa era tão grande e tão bom que só queríamos competir, ajudar-nos uns aos outros e sermos felizes. Com responsabilidade, sempre fomos falando dos nossos objetivos e isso foi um dos nossos segredos.

Houve mais alguma ‘ferramenta’ que possibilitou a conquista deste título europeu?

Cada jogador conhecia ao detalhe as suas responsabilidades e o espaço que devia ter dentro do campo e isso também foi um dos segredos para o nosso sucesso. Quando temos 14 jogadores que trabalham para um só momento, num só sentido, é muito mais fácil. Daí que o resultado final seja a consequência direta do trabalho que fizemos.

Nós olhávamos para cima e os segundos tardavam a passar: um minuto inacreditavelmente longoA confiança e a esperança de um jogador devem ser infinitas, mas em algum momento sentiste que o Europeu ia fugir?

Talvez na final tivesse havido um momento ou outro em que senti que podia ser mais difícil alcançarmos a vitória. Eu lesionei-me, não consegui estar a 100% no jogo todo, e sentia que a equipa precisava de mim. Enquanto somos atletas vamos sentindo certos momentos do jogo. Eu posso confidenciar um momento do jogo em que o Miguelín, de livre direto, chuta à trave. Naquele instante pensei: ‘Esta final não tem como não ser nossa’. A bola podia ter batido na trave e entrado, mas não entrou. E isso fez-nos acreditar. O nosso selecionador, o grande arquiteto desta conquista, passou-nos várias vezes a mensagem de que quando queremos muita uma coisa a bola bate na trave e entra, e com os outros a bola bateu na trave e saiu. A nossa confiança foi o espelho da nossa conquista.

Já reconheceste que não estiveste a 100 por cento no jogo da final devido à tua lesão. Como é que um jogador lida com esse facto e logo num encontro tão importante?

Não diria um sentimento de revolta, mas de impotência. De querer e não conseguir. Tentei regressar ao jogo, na segunda parte, durante dois minutos, mas senti o meu joelho a apertar. Olhei para a cara dos meus colegas e vi que eles necessitavam de ajuda e não conseguir auxiliá-los, da forma como queria, gerou em mim um sentimento de impotência.

Tudo fica mais fácil com Ricardinho em campo?

Claro que sim. Falamos de alguém que já foi cinco vezes considerado o melhor do mundo. Já ganhou quase tudo o que havia para conquistar. É um jogador bastante completo, não há como não gostar do Ricardo, até como pessoa. Ele é um exemplo dentro e fora do campo, trabalha o que tem de trabalhar, às vezes até demasiado.

Fizeste alguma promessa antes do torneio começar, na eventualidade de Portugal conquistar o título?

Não fiz nenhuma promessa, mas, sem exagero, estou desde setembro/outubro a ‘chatear’ a minha mulher e os meus amigos mais próximos com este Europeu, porque sabia que íamos fazer algo ‘engraçado’. A confiança era tanta e as coisas acabaram por acontecer. Tratou-se de uma ‘bola de neve’ em que a vontade era tanta que nos ‘empurrou’ para o desfecho final.

Certamente recebeste várias mensagens a felicitar-te por esta conquista. Há alguma que tenha tido um significado especial para ti?

Recebi várias da minha família e de amigos próximos, mas houve uma que mexeu bastante comigo que foi a mensagem do padrinho do meu filho, que, infelizmente, não pôde estar presente por motivos pessoais. Estou a falar de um amigo, de um irmão que me acompanha desde os 14/15 anos e que sempre me apoiou e me ajudou, elogiando-me nos momentos certos. Posso confidenciar que quando cheguei ao Benfica, no final do primeiro ou do segundo, eu quis ir-me embora e ele disse que não, que era necessário lutar e manter-me onde estava. Hoje sou o que sou graças a ele e à crença que ele sempre depositou em mim.

Se agora concretizamos um sonho porque não ir à procura do outro? Queremos sim conquistar o mundial

Que significado tem para um campeão europeu ser recebido daquela forma no Aeroporto Humberto Delgado?

Sou uma pessoa que vive muito as emoções e tem sempre os nervos à flor da pele, que vive muito o futsal e gosta muito de jogar à bola. Poder participar nestes momentos é gratificante e poder dizer ao meu filho que sou campeão da Europa, que vivi aqueles momentos que vou fazer questão que ele veja, de forma a sentir o que pai sentiu naquele Europeu, naquele aeroporto, é um orgulho inexplicável. Aquela receção foi mérito nosso e os portugueses reconhecerem-no.

Depois do ‘quase’ veio a ‘certeza’. Depois da Europa é possível sonhar com algo mais?

É legítimo e normal pensar na conquista do Mundial, porque depois de ganharmos o Europeu a nossa responsabilidade aumentou. E essa responsabilidade é a que queremos ter, porque significa que conquistámos algo. Se agora concretizamos um sonho porque não ir à procura de um ainda maior? Queremos, sim, conquistar o mundial, porque somos ambiciosos. Daqui a quatro anos temos novo Europeu, mas antes queremos escrever uma nova página bonita da nossa história.

Começaste por jogar no JOMA (Juventude Operária de Monte Abraão). Porquê o futsal?

A maior parte dos jogadores do futsal vem do bairro, de jogar futebol na rua e a JOMA na altura criou a seção de juvenis e daí começou a paixão pela modalidade. Comecei a acompanhar os campeonatos de várias divisões. Na altura o campeonato principal dava na Sport TV e até era mais difícil ver os jogos. Cresci a aprender com pessoas que adoravam o futsal e isso ajudou bastante a fomentar o ‘bichinho’.

Posso confidenciar que quando cheguei ao Benfica, no final do primeiro ou do segundo ano, quis ir-me embora

Voltarias a fazê-lo ou tinhas outros sonhos a nível profissional?

Bem, na altura, toda a criança queria jogar futebol e bem perto de mim jogava o Real Massamá, mas eu sempre gostei mais de futsal. Se não fosse jogador de futsal, hoje certamente trabalharia noutra coisa qualquer. Isso um dia vai acontecer, porque não somos jogadores para toda a vida e como tenho por hábito dizer: ‘O sonho um dia acaba’. Por isso, quero aproveitar estes momentos, momentos fantásticos que ficarão gravados para a vida, como foi a conquista do Europeu.

Quando começaste tinhas alguma referência no futsal ou os teus ídolos moravam no futebol?

Quando comecei no futsal foi simplesmente pelos amigos e por ter um clube aqui na zona, só depois é que comecei a conhecer alguns jogadores como o Pedro Costa, o Gonçalo Alves, o Arnaldo, na altura estava a surgir o Ricardinho, que já fazia das dele com 20 anos, e foi assim. Tinha outras referências no futebol como Rui Costa e Luís Figo. A paixão pelo futsal foi-se ganhando, porque não havia grande mediatismo na altura.

Tens algum ritual antes de um jogo?

Nem por isso. Aquilo que faço é deixar as minhas coisas direitinhas. A camisola de aquecimento visto em último lugar. Geralmente espero que toda a gente saia do balneário e meto a camisola por dentro dos calções e saio. São algumas coisas que faço e podem fazer a diferença, mas nada demais.

Qual foi o momento mais difícil da tua carreira?

Recordo-me da meia-final contra o Fundão, em que além da derrota, fiz um entorse que me afastou durante mais de dois meses da competição. Foi um ponto difícil e outra das lesões que mais me custou foi quando sofri uma pubalgia. Eu queria ajudar e chegar mais longe, mas nem sair da cama conseguia.

O futsal tem feito esforços para convencer o FC Porto a criar a modalidade no seio do clube

Estás no Benfica há sete temporadas. Imaginas-te noutro clube?

Sinceramente, não me imagino. Hoje, com 30 anos, depois de tudo o que vivi no Benfica, acho difícil. Não sabemos da disponibilidade do Benfica nem da minha, mas não imagino outro cenário a não ser ficar, até porque sou capitão, é a minha casa e é o meu grande amor. Sou benfiquista de coração desde que nasci e não me imagino noutro clube, mas claro que nunca sabemos o dia de amanhã.

E nunca tiveste o sonho de representar um clube estrangeiro?

Ainda vou tendo esse sonho, gostaria muito de jogar no campeonato espanhol, por exemplo, no El Pozo, no Inter Movistar, sei que é difícil, mas não impossível. Falamos de clubes de grande qualidade com dimensão mundial, recheados de grandíssimos jogadores.

Falando do futsal português, acreditas que o Benfica pode interromper a hegemonia do Sporting?

Claro que sim. Nunca é fácil, depois de tantas mudanças, começar praticamente do zero, com dez jogadores novos. Perdemos a Taça de Honra, a Supertaça, o primeiro jogo do campeonato por números elevados, mas depois com a conquista da Taça da Liga conseguimos ‘bater o pé’ e dizer que vamos conquistar aquilo que é nosso. Não nos preocupamos com o nome do nosso adversário, o Benfica entra sempre para ganhar. E vamos lutar pela conquista do campeonato.

A chegada do FC Porto à modalidade pode ser a ‘vitamina’ decisiva para o crescimento do futsal português?

Acho que sim, seria importante, até porque já temos outras equipas de topo no futebol português a jogar noutras divisões (por exemplo o Marítimo e o Nacional). O futsal tem feito esforços para convencer o FC Porto a criar a modalidade no seio do clube, tentando fazer jogos de preparação no Dragão Caixa. Ainda não surtiu efeito, mas, sem dúvida, o campeonato ficaria mais forte até porque um emblema como o FC Porto só pode lutar para ser campeão.

O que pode vir a ser melhorado no futsal português?

Acho que, sinceramente, nada. O jogo está muito fluído, talvez se jogue em demasia com o guarda-redes avançado, mas já é um lance estudado pelas equipas. Surgiram algumas notícias a dizer que novas regras iam ser introduzidas (como por exemplo a introdução dos lançamentos laterais com a mão), mas penso que não seja nada que vá efetivamente para a frente.

Quando ‘pendurares as botas’, o objetivo será continuar no futsal ou noutra área fora do desporto?

Se eu conseguir, vou fazer de tudo para trabalhar num cargo ligado ao futsal, senão vou continuar a acompanhar a modalidade de outra forma.

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