Na Escócia, há 'Candeias' que iluminam como nunca o caminho do Rangers
Português atravessa uma das melhores fases da carreira e não esconde a felicidade por esta aventura depois de quatro anos em... quatro países diferentes.
© Global Imagens
Desporto Entrevista
Formado no FC Porto, foi na Madeira, com a camisola no Nacional, que Candeias... mais brilhou. Hoje, aos 29 anos, o extremo português 'ilumina' o caminho do Rangers na missão de travar a hegemonia do eterno rival Celtic e alcançar de novo o patamar mais alto do futebol escocês.
Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o jogador natural de Fornos de Algodres revela as sensações desta estabilidade pós-estatuto de 'globetrotter' - passou por quatro países em quatro anos -, explica as razões da precoce saída do treinador Pedro Caixinha do clube e admite ainda a "mágoa" por não ter tido oportunidades para lutar por um lugar no Benfica.
Na primeira temporada na Escócia leva cinco golos em 31 jogos e está a apenas dois do melhor registo da carreira - sete ao serviço do Nacional, na época 2011/12. Era a estreia que esperava?
Sim, está a correr bem. Neste momento sou também o melhor assistente do campeonato, com sete passes para golo, 10 em todas as competições. Adaptei-me bem ao futebol escocês e agora é continuar assim. É isso que espero. Quero continuar a marcar golos e a fazer assistências.
É essa rápida adaptação que está na base deste bom rendimento?
Sim, a verdade é que me integrei bem. Quando temos mais portugueses na equipa é mais fácil. Isso ajuda sempre. Além disso, o treinador também era português [Pedro Caixinha]. A adaptação foi fácil, pois este é um país que acolhe bem as pessoas e quando as coisas começam a correr bem a confiança também vai aumentando. De jogo para jogo sinto-me cada vez melhor e isso é extremamente importante.
Não sentiu aquele impacto inicial pela mudança de realidade e do próprio estilo do futebol escocês?
O futebol é mais físico, é verdade, com mais bola direta, não tanto como em Portugal, que tem um estilo mais técnico. Aqui os jogadores são muito fortes fisicamente, não param de correr, estão bem preparados, e a velocidade de jogo é maior, ou seja, não há tantas paragens. É, basicamente, semelhante ao futebol inglês, mas claro que lá há mais qualidade, as equipas têm grandes jogadores, mas aqui também se encontram boas equipas e é um campeonato difícil.
Acredito que a presença da família também seja um importante suporte...
Sim, têm-me acompanhado sempre e a base do meu sucesso são eles porque me dão o apoio e a estabilidade que para um jogador é determinante.
Falava há pouco da importância de ter mais portugueses no Rangers - Bruno Alves, Fábio Cardoso e Dácio. Que papel teve, por exemplo, o Bruno Alves, um jogador internacional, experiente e que já conhecia?
Quando eu cheguei ele ainda não estava porque tinha ido para a Taça das Confederações com a Seleção Nacional, mas depois ajudou-me bastante. Como jogador experiente que é, dá sempre muitos conselhos e é um exemplo como profissional. Eu já o conhecia dos tempos do FC Porto e foi muito bem reencontrá-lo aqui, pois é um grande jogador, com muita qualidade e que dá muita experiência à equipa.
É daquelas pessoas que quando se conhece surpreende imenso pela positiva...
Sem dúvida! É uma pessoa fantástica! Dentro de campo é normal que possa passar outra imagem, mas fora dele quem o conhece sabe é que é uma pessoa cinco estrelas com quem podes partilhar tudo o que precisares. É claramente um exemplo a seguir.
Nesta altura, o Rangers está no 2.º lugar do campeonato escocês, a nove pontos do líder, e eterno rival, Celtic. O título continua a ser o grande objetivo?
Vamos ver... Daqui a três semanas vamos jogar contra eles e sabemos que não é fácil chegar ao título, mas também não é impossível. Claro que o Celtic tem muita qualidade, mas vamos ver... Também estamos na Taça e temos os quartos-de-final brevemente. Por isso, o grande objetivo passa por conquistar, pelo menos, um troféu, pois, pelos adeptos que temos e pelo clube que representamos, já merecemos conquistar novamente títulos.
Falar do futebol escocês é, inevitavelmente, falar da famosa, escaldante e eterna rivalidade entre o Celtic e o Rangers. De que forma é que o clube e os próprios adeptos têm digerido esta maior distância o rival?
É complicado! Para um clube que estava habituado a ganhar, que é o que mais títulos tem no mundo, passar por tudo o que passou... Enfim, não é fácil! E os adeptos, como se costuma dizer, têm fome de títulos. E nós, como jogadores, representando um clube com esta grandeza, temos muita vontade de lhes dar um título, sabendo que o Celtic é a equipa mais forte. Mas nós temos argumentos para lutar com eles e, mesmo a nove pontos, tudo pode acontecer.
Português tem sido uma das peças mais influentes da equipa orientada por Graeme Murty.© Reuters
A esperança é a última a morrer...
Sim, ainda vamos jogar com eles, depois temos uma espécie de torneio entre as equipas que ficam nos seis primeiros lugares e vamos ver o que acontece. Queremos voltar a colocar este clube no topo e os fãs merecem isso, pois são fantásticos em todos os jogos, seja fora, com 52 mil pessoas, seja fora, em que enchem sempre os estádios. E isso ainda nos motiva mais. Por isso, no final, esperamos dar-lhe, pelo menos, a taça.
Esta aventura na Escócia chega depois de passagens por Alemanha (Nuremberga), Espanha (Granada), França (Metz) e Turquia (Alanyaspor), num espaço de... quatro anos. Está já um verdadeiro poliglota...
(risos) Estou quase, estou quase... O facto de andar sempre a ser emprestado nunca é bom para um jogador e eu não gostava, mas era aquilo que as pessoas entendiam nesse momento. Agora, felizmente, consegui assinar pelo Rangers, estou mais estável, e isso foi muito importante para mim. Mas foram experiências boas.
Qual foi a mais marcante?
Eu gostei mais da Turquia! As coisas correram bem e as pessoas receberam-me de forma fantástica. Quando sentimos essa confiança as coisas saem naturalmente. Fiz uma boa época, podia ter continuado, mas o convite do mister Pedro Caixinha fez-me pensar e não estou arrependido de ter vindo para o Rangers, que é um clube enorme e com estes adeptos dá vontade de jogar. Na altura fizemos uma grande época, o objetivo era a manutenção e conseguimos. A minha família também estava feliz lá e só sai de lá devido a esse convite. Deixei lá boa impressão e isso é que o me deixa mais feliz.
Pegando nessa deixa, o que falhou no percurso de Pedro Caixinha, que acabou despedido sete meses depois de ter assumido o comando da equipa?
Penso que havia muito expetativa pela Liga Europa, naquele que era o regresso às competições europeias. E esse jogo logo no início - derrota por 2-0 frente aos luxemburgueses do Progrès Niederkorn na segunda mão da 1ª pré-eliminatória, que acabou por ditar o afastamento precoce da prova - abalou um pouco. Depois, na meia-final da Taça da Liga fomos eliminados contra o Motherwell (0-2) e as coisas complicaram um bocado, embora a situação no campeonato não fosse má. Mas quando o clube e os adeptos querem tanto ganhar, dá-se menos tempo. E acho que foi isso que o traiu, pois nós temos uma boa equipa, com grandes jogadores, mas os treinadores também vivem de resultados. Claro que a culpa não foi só dele! Nós, os jogadores, também temos que assumir a responsabilidade.
Voltando a si, está desde 2014 fora de Portugal. Já sente saudades?
Claro que sentimos sempre saudades do nosso país, mas neste momento não penso voltar, pois estou numa realidade diferente. Em Portugal, só nos três grandes, no Sp. Braga ou V. Guimarães. São os clubes onde acho que poderia vir a jogar. Mas não está no meu pensamento voltar tão cedo.
Extremo foi contratado pelo Benfica em 2014 mas nunca chegou a estrear-se oficialmente.© Global Imagens
Como já disse, chegou ao Rangers em definitivo depois de sucessivos empréstimos do Benfica. Fica alguma mágoa pela falta de oportunidades na Luz?
Sim... Porque eu sentia que tinha capacidades para poder jogar. Tinha consciência de que havia jogadores de grande qualidade à minha frente, mas eu ia esperar pelo meu momento. Se calhar deram oportunidades a muitos que não fizeram nada para a merecer e a mim não. Daí ter ficado um pouco com mágoa porque sabia que tinha condições para lutar por um lugar. Mas já não penso nisso, pois agora estou também num grande clube e as pessoas dão-me valor. Não olho para trás, olho sim para o futuro e espero continuar neste caminho e ajudar este clube que é fantástico.
Em algum momento teve direito a explicações por parte dos responsáveis dos encarnados?
Nada... Quando me contrataram, na altura da pré-época, havia clubes interessados no empréstimo, mas disseram [os responsáveis do Benfica] sempre que eu iria ficar no plantel. Mas quando faltavam três semanas para o encerramento do mercado disseram-me que afinal iria ser emprestado e foi aí que fui para a Alemanha. Fiquei desiludido porque acho que podiam ter feito as coisas de outra maneira, mas já passou e não guardo mágoa por ninguém. Respeito todas as decisões que tomaram, posso não concordar com elas, mas respeito-as.
Nem Jorge Jesus, na primeira época, nem Rui Vitória, depois, lhe disseram nada...?
Foi com o aval de Jorge Jesus que me contrataram. Tantas vezes me elogiou quando me contratou... Mas se calhar os elogios não eram bem sentidos, talvez fossem só para agradar.
Jogador considera que merecia, pelo menos, ter tido uma oportunidade para lutar pelo lugar.© Global Imagens
Aos 29 anos, ainda tem sonhos por realizar?
Continuar nesta linha, tentar fazer o mais possível e ainda mantenho o sonho de representar Portugal. Sei que é difícil porque temos grandes jogadores e cada vez há mais a aparecerem, mas tenho sempre esse pensamento. Primeiro que tudo, quero ajudar o clube e tentar conquistar títulos. Tenho a certeza que se o conseguirmos será uma loucura para estes adeptos que tanto merecem.
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