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“Num clube grande seria só mais uma, em Rio Maior sou a Inês Henriques"

A primeira mulher campeã mundial dos 50 quilómetros falou com o Desporto ao Minuto sobre o melhor ano da sua carreira, o dia que nunca vai esquecer e o ouro que pretende ganhar numa prova que ainda não tem certeza se vai ser realizada nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

“Num clube grande seria só mais uma, em Rio Maior sou a Inês Henriques"

No dia 13 de agosto, Inês Henriques entrou no grupo de portugueses que conquistaram a medalha de ouro em Mundiais de atletismo: Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Manuela Machado, Carla Sacramento e Nelson Évora.

Mas Inês não foi uma campeã qualquer. Foi uma pioneira com uma medalha de ouro na primeira vez que se correu uma prova de 50km marcha femininos em Campeonatos do Mundo. Foi a líder de um reduzido pelotão de sete atletas a correr ao mesmo tempo que os homens e ganhou com um recorde do mundo.

O Desporto ao Minuto esteve à conversa com a marchadora portuguesa de 37 anos e as palavras de contentamento com que fala de 2017 confundem-se muitas das vezes com um vocabulário de luta. Lutar por algo que ainda gera muitas dúvidas. Afinal, ainda não é certo que a prova que a levou à hegemonia vá constar nas modalidades dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Foi um ano inconfundível com um dia ímpar na tua história de atleta

“É o reconhecimento do que eu consegui alcançar em 2017, o ano da minha vida. Houve uma desqualificação pelo meio, mas, de resto, consegui alcançar todos os objetivos inicialmente estipulados e terminar com o campeonato do mundo em que nós mulheres conseguimos ter uma prova só nossa, essa para mim foi uma grande vitória e depois consegui ser campeã do mundo com novo recorde e com o mínimo dos homens. Queria fazer menos que os homens, para mostrar que conseguimos fazer mesmo bem os 50 quilómetros”.

O dia em que bates o recorde do mundo é o dia mais feliz da tua vida?

“O campeonato do Mundo foi a prova em que eu terminei e disse ‘eu hoje conquistei tudo o que queria, porque durante muitos anos eu até fazia boas provas, mas achava que faltava qualquer coisa. Consegui concretizar tudo a que me tinha proposto. Foi, sem dúvida, um momento fantástico o de cortar a meta, eu e o meu treinador abraçamos-nos e a única coisa que dissemos foi ‘nós conseguimos ao fim de 25 anos de trabalho'. Foi algo grandioso”

Nesse dia atingiste o céu, ou ainda é possível superá-lo?

"Aquele momento vai ser histórico para o desporto nacional e mundial, porque foi a prova de que as mulheres podiam. É óbvio que agora tenho outros objetivos e outros sonhos por realizar, mas aquele dia vai ser sempre o momento mais importante da minha vida".

Como foi ver as capas dos jornais e observar Inês Henriques na ribalta do desporto nacional?

"As emoções foram muito grandes durante três semanas em que fui solicitada para tudo, foi fantástico. Quando consegui o recorde do mundo, em janeiro, as pessoas diziam-me ‘tu estás na capa’, foi algo fantástico, algo que nunca pensei ver, estrondoso mesmo".

A modalidade ficou ainda maior graças a ti?

“Pus o atletismo lá em cima e, sobretudo, consegui dar mais visibilidade à minha disciplina que é a marcha. E todos os marchadores ganham com isso. Hoje em dia toda a gente sabe o que é a marcha e antes nem tanto assim. É excelente elevar a minha disciplina da forma como elevei".

Objetivos para 2018?

"Já consegui um dos objetivos nacionais que era bater o recorde nacional nos 35 km. Consegui retirar 4 minutos e 18 segundos (02:45:51 horas em Porto de Mós). Uma prova fantástica com sensações fantásticas. Terminei a prova a sorrir o que me dá perspetivas para melhorar o meu recorde. E se ninguém fizer melhor será recorde do mundo. Em maio vou participar no campeonato do Mundo de equipas e em agosto no campeonato da Europa".

E ponderas sair de Rio Maior para rumar a outro clube?

“Fechei desde logo as portas a propostas de clubes, porque assumi que queria estar no clube da minha terra. Podia ser melhor a nível financeiro, mas num clube grande seria apenas mais uma atleta e em Rio Maior eu sou a Inês Henriques. Na minha localidade, tenho o Complexo Desportivo de Rio Maior, sou muito acarinhada pela cidade e, ao fim de 25 anos, a ser acarinhada pelo meu clube não fazia sentido ir para outro, por isso vou permanecer no meu clube o resto da minha carreira”.

Até que idade podemos ver Inês Henriques em ação?

"Não sei, não sei (risos). É preciso ter muita calma. O meu objetivo é Tóquio, em que o meu advogado norte-americano já está a trabalhar para a introdução dos 50km nos Jogos Olímpicos. E acredito que vai ser possível, isto não pode ter outro caminho, porque mais mulheres querem competir nesta prova e os 50kms vão estar nos jogos quase de certeza".

E se se confirmar a realização dos 50kms nos Jogos de Tóquio o objetivo passa por...?

Ser campeã olímpica.

Fora do desporto, houve outras situações em que tenhas sentido essa desigualdade entre homens e mulheres?

"Não muito. Mas eu também sou uma lutadora porque tenho uma mãe que sempre fez trabalho de homem. O trabalho dos meus pais é muito duro, eles vendem lenha e carvão. A minha mãe sempre fez tudo o que os homens faziam. O que eu fiz hoje foi muito duro, mas o que a minha mãe faz todos os dias é muito mais duro. Eu, às vezes, nem sei como é que ela aguenta".

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